segunda-feira, 6 de junho de 2016

Último Ensaio

Aula de Corpo I

Vila Velha- ES em 06 De Junho de 2016

Ultimo ensaio para a apresentação durante a abertura de processo.
Flyer:


Arte e Figurino: Figurino por Eraní Soares

Escolhemos nesse estilo, mas na verdade foi feita a saia rodada.

Ideia de usar a saia e parte de cima sem camisa ou,
no caso da meninas, utilizar sutiã ou corpete.

A junção do poema ao corpo



O corpo gravado gera a fala interna



A escrita gera libertação
Produção e Direção

Direção: Rejane Arruda
Produção: Auxílio em equipamentos, lanternas, cãmeras, todos advindos da instituição em conjunto com a turma de Artes Cênicas. Colaboração na edição e criação dos flyers, com Juliana Reali e Gabriela Júlia.
Campo de Visão

Deslizar o Corpo

Pesquisa Pessoal
Recortes a partir da fala interna.
Essa aula foi linda, deu para sentir mais ou menos a sensação do que ocorrerá durante a apresentação. Já deixamos tudo em meio caminho andado. A única questão continua sendo a tinta a ser utilizada em nosso corpo, haja vista que o pincel que usamos está saindo com facilidade e fica praticamente invisível quando a luz reflete. Selecionei duas das poesias que mais mexeram comigo e me ajudam muito no processo de substituição.

As poesias 

Mari Santos

Por Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

Eu dedico o poema de Wilde à todos os meus amigos de sala. Isso porque sempre repito- Somos uma família. Ninguém consegue suportar o peso do mundo em sua costa sozinho. É natural o ser humano brigar, discutir, arriscar, perder, ganhar e amar. Imagino que vá chegar um tempo em que grupos nascerão, independente de nossa vontade. Mas, espero que não fuja à nossa mente o respeito e amor pelo próximo. 




Eduesley
Como argamassa em um misturador
Três cabeças se fundiram densamente
Os milagres já foram utilizados há muito tempo
e jazem frios sobre o concreto
Matei
Eu matei
Eu matei?
Eu estava me desligando da realidade,
quando os olhos das cabeças
se abriram como genitais, para dizer “olá”
As cabeças sussurram, na voz da Mãe:
“você”
“você”
“você”
“você”
“como você pode se enganar, pensando que seria amado”
“quando você é tão feio”
“uoh……..”
Abuso gentil, repetido de novo e de novo “naquela caixa”
O céu cintila, como luzes de trânsito
Antes que eu percebesse, nove espinhos saltaram para fora da cavidade torácica
O diafragma tremeu, como se prestes a chorar
(meu corpo!)
Eu finalmente me desliguei da realidade, e comecei a escalar a torre de aço
Os corrimãos que eu tocava 
ficaram todos negros e enferrujados.
Os intestinos dos mortos,
alcançam o céu a partir da ponta da torre de aço
Os intestinos estavam amarrados juntos como corda.
Eu desesperadamente puxei a corda.
Esmaga, esmaga, esmaga
O laço ficou grande o suficiente para alcançar o sol.
Torre de corpos queridos.
A cada puxão eu alcanço o topo, e a altura aumenta. Eu não consigo mais ver o chão.
A torre começa a tremer violentamente,
sussurrando na voz da Mãe.
“falha automática na felicidade, descendente sem forma”
(ahh)

“Meu querido perdido”
“Seus pais falharam na sua criação”

E eu morri.



A poesia de escolhida por Eduesley remeteu- me a imagem do pecado em nossa concepção e do falso julgamento que o ser humano costuma fazer. 
A sequência de vezes em que repetia "Eu matei" me fez sentir na pele de alguém que estava confuso, que foi manipulado por sua própria mente e não fazia ideia do que seria capaz;
O "Você" que também era repetido pelos espectadores mostra o julgamento da sociedade;
"Os Intestinos do Mortos" remeteu- me uma imagem distorcida do limbo. A morte não dá chance. O espírito torna- se cada vez mais distante de seu corpo. Até chegar à concepção de que realmente não há mais volta.

Att.: Sami Cassiano


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Caos

Jogos Teatrais I

Vila Velha- ES em 01 de Junho de 2016

O caos pode ser definido como um sistema complexo (no qual tudo está tecido junto)- qualitativo e não linear- caracterizado pela (aparente) imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade à pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico.
                                                                                                                          José Júlio Martins Torres

Assimilação do caos
Fiquei procurando um modo de explicar o que eu estava sentindo nessa aula, e após muito tempo me veio em mente a teoria do caos, a teoria do caos é minha assimilação frente minha vida. Estamos sujeitos a variações que advém de uma linha imaginária tênue chamada escolha, essa linha representa o tecido junto. Aquilo que não importa o quanto tente mudar pois tenderá a sofrer infinitas mudanças e eu terei apenas de aceitar. Nesse caso, aceitar minha vida, aceitar que de repente tudo pode ter chegado ao seu fim. Eu perdi meu emprego há algum tempo e devido à crise não tenho conseguido me fixar num com a carteira assinada. Então me encontro assim, solta, indefesa e praticamente incapaz. Meu auxílio tem sido meu marido, que há um mês também foi dispensado de seu emprego para que fosse cortados os gastos da empresa. Essa é a realidade do Brasil, uma triste e decepcionante realidade sobre uma nação que possuía toda a capacidade de crescer, mas se deixou afundar em corrupção e politicalha. E o que posso fazer? Eu não tenho família em Vila Velha- ES, eu não tenho a quem recorrer que não seja meu marido, mas... nessa situação ele também está como eu e talvez até pior. Pois seu comprometimento em me ajudar a realizar meus sonhos é imenso. Geralmente quando tudo complica eu procuro pensar positivo e ver tudo num outro ângulo, buscando soluções, alternativas,... Mas, quando o assunto é dinheiro, se não tem dinheiro e muito menos família para acolher, a única alternativa plausível é ter pelo menos o dinheiro para voltar para casa. 


Não vou mentir, quem já passou por algo assim deve saber o que estou sentindo, não consegui parar de chorar desde que sentei e vi que a chance de voltar aumentou para 90%. O Marcelo chegou comigo e disse- Amor como vai ser? Sabe que é só esse mês, cada um volta para a casa de seus pais e teremos de recomeçar. Eu imediatamente dei um grito angustiante- NÃO! Eu vou encontrar um modo, eu não posso voltar, não quero voltar, tudo o que tenho está aqui,... não quero voltar...
Sabe, quando essas coisas acontecem a gente fica sem vontade de ver a aula, de ver qualquer pessoa,... mas eu me segurei e fui assistir do mesmo jeito. Mas, dessa vez não consegui mais ficar no personagem. O Pit me abandonou,.. na verdade acho que ele ficou decepcionado comigo por eu ter agido assim, como uma tola. Mas, eu tirei a aula apenas para observar, ver todas aquelas pessoas lindas, colegas, amigos, deusa dos dreads e fiquei pensando- isso realmente está acontecendo?.. É, está... Depois de correr tanto Sami, você pode simplesmente ter que voltar sem nada, com a cabeça baixa, deitar no colo da mãe e pedir que ela lhe dê algum conforto por sua perda... Como é a Sami fora desse curso? O que será de mim? O que poderei fazer? 
Eu só soube observar e pensar e pensar,...
Os grupos foram se apresentando. Rejane elaborou um roteiro para a Brenda que estava aos poucos se adaptando à sua função como Apresentadora. Ângelo decidiu que participaria dos improvisos e não da animação. Alguns colegas perguntavam, cadê o Pit e tudo o que eu sabia fazer era olhar e sorrir. Eu queria achar alguma solução. Lembrei da mensagem que meu pai biológico enviou mais cedo, ele disse que eu tinha nascido uma lutadora e que ele acreditava muito em mim. O meu pai e eu nunca tivemos um bom relacionamento devido as suas bebedeiras. Mas depois de todos os problemas eu tentei reatar o laço com ele porque querendo ou não meu coração é muito fraco para situações como essa. E, para finalizar ele me mandou uma mensagem informando que foi dispensado e assim não conseguiu o tempo certo para ter sua aposentadoria. Eu simplesmente fiquei sem coragem de lhe dizer que estava a ponto de ir pra casa,.. eu não consegui  porque ele sempre envia mensagens me desejando força, ele sempre me lembra o que represento na vida dele. Então está sendo atormentador esse momento. Eu sei que serei bem vinda em minha casa,... sei que eles me consolarão,.. mas não é isso que eu quero. Eu quero ficar e quero conseguir alcançar meus objetivos, quero fazer o que amo fazer.  
Nessa aula eu não fui para aprender, eu fui para escapar do medo, dos meus pesadelos.
A minha mãe dizia que eu teria de arcar com meus atos sempre antes de eu sair de casa, independente de onde fosse, ela e meu pai de criação depositavam sua confiança imensa em mim. Sobre essa confiança... eu não me lembro de ter voltado para casa chorando. 
Depois da aula fui à casa de Vitor para verificar a edição que nunca saiu,.. e chegando lá eu pude entender o porquê. Problemas ocorrem nos grupos, isso é normal, se eu ficar, tenho pelo menos que encontrar um modo de melhorar esse caos. Não o culpo quando não foi apenas ele o culpado. Como grupo faltou mais comprometimento, parceria e responsabilidade.


Eu quero dizer

Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Raul Seixas



Referências

TÔRRES, José Júlio Martins. Teoria do Caos.

Att.: Sami Cassiano