quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Anotações Hibridização Teatral

O seguinte pesquisa tem por base as várias tecnicas utilizadas pelo ator embasadas entre oriente e ocidente.
De acordo com a análise de BENTLEY sobre Teatro, refere- se ao mesmo como um contexto social mais do que um gênero artístico específico. 
Antropologia Cultural: Observação e análise dos grupos humanos tomados na sua especificidade.

Cada sociedade "impõe ao indivíduo um uso rigorosamente determinado de seu corpo", (...) pois cada técnica corporal funda- se sobre certas sinergias nervosas e musculares que constituem verdadeiros sistemas, solidários de todo um contexto sociológico. Essas técnicas são assimiladas através da educação e da imitação, mas no ato da imitação intervêm elementos psicológicos e biológicos de cada indivíduo (MAUSS, 2003), tornando- as "montagens fisio- psico- sociológicas de séries de atos"
LÉVI STRAUSS in MAUSS, 2003. P. 12

A partir desta análise pode- se perceber uma série de fatores que diferem indivíduos dentro de uma sociedade. Para chegarmos numa ideia mais precisa, voltemo- nos para algumas observações à respeito do indivíduo inserido em sua cultura. Observando a cultura chinesa, podemos ver vários aspectos muito próprios do país que nos possibilitam identificar aquele povo como chinês, desde seus princípios religiosos, características, fonética do idioma, princípios, costumes até seus gestos; contrapondo totalmente, analisamos agora a Alemanha, cujos idioma, fonética, característica fisio- psico- sociológicas, crenças, costumes já são completamente diferentes da china. Numa observação mais aprofundada, poderia até chegar a afirmar de antemão que, se eu fosse conhecer um dos dois países, perceberia que mesmo dentro dele, haverá cidades de interiores com costumes completamente diferentes dàqueles que vivem na cidade ou capital. Nesse contexto, percebe- se o quanto a cultura é por si só muito singular em cada sociedade. Ao falar em singularidade retomo a hibridização. Fabre, em suas obras, relaciona formas artísticas dentro de um projeto de investigação que, em sua maior parte, mobiliza temas e ambições que vão muito além de uma mera experimentação de linguagem, percebe- se não apenas a experimentação, mas a crítica, um fundamento, uma lógica que necessita de reflexão. Ele reorganiza elementos advindos de cada linguagem, e a essa linguagem refere- se a cada elemento formado que sofre toda uma reconstrução, nenhum elemento que fica composto por si só com uma auto explicação, mas sim como um elemento único, um elemento que passou por uma metamorfose e tornou- se híbrido. Tendo em vista essa reconstrução, volto- me para os treinamentos exercidos em laboratório com os atores. Por ter limitado minha visão ha um contexto específico, acabei por deixar passar algo imprescindível, as figuras que se formavam estranhamente nos frames.

campo de visão I
 Aposta- se nos vários desdobramentos que podem ser constituídos a partir de cada frame, os desdobramentos nos revelam pessoas distintas, lugares diferentes, culturas diferentes, princípios diferentes.

Pesquisa pessoal
Durante o treinamento energético, por vezes pedi aos atores que retomasse pesquisa pessoal, com movimentos que lhe deixassem mais desconfortáveis para que posteriormente fizessem a alternância em campo de visão, reflexo, espelho, e ação e reação. Revendo algumas das formas dessas figuras estranhas, pode- se criar também situações. A situações são apresentadas com as regras básicas de lugar, quem e fazendo o que- trazendo para as figuras uma contextualização. Em sua pesquisa BENTLEY nos proporciona uma visão clara do indivíduo que se caracteriza como parte de uma sociedade através de suas características fisio- psico- sociológicas. E, durante o treinamento, vimos como numa formação de um coro híbrido, através do campo de visão, essa característica singular. 

Campo de visão II
Outro ponto a ser verificado é o som. Percebe- se que uma das grandes identificações sobre nacionalidades advém da fonética e vícios de linguagem, bem como a identificação de um mesmo fruto ou objeto em diferentes estados de um país. É importante salientar essa importância como algo é ser elaborado com muitas regras, pois quando tratamos de identificação podemos dizer que aquele ator é de um determinado estado ou que aquele ator está representando um personagem de um determinado estado. Porém, o objetivo é fazer do ator essa figura transformada, essa figura que sofre uma mutação e torna- se um ser híbrido. 


Pensar a performance como uma comunicação voz como parte do corpo e voz como um fragmento. Como  assim? A possibilidade de alternar com um coro de atores falando numa sonoridade e idioma híbrido enquanto se alterna os movimentos. 
Suposição: Na figura Campo de Visão 2, há um coro composto por um campo de visão. Poderia exercer a voz com o corpo num coro completo em contraposição a outras figuras formadas por atores enquanto performam. Os deslocamentos são algo a ser pesquisado minuciosamente. Dando forma às cenas e transições de cenas. Pensar no local de apresentação, seria uma performance para ser elaborada na rua? como seria exercida a pesquisa em cima da voz do ator e sua projeção visando esse ambiente? Seria dentro do teatro? É algo a se pensar.
Segundo BETLEY, umas das principais contribuições de Kathakali para sua pesquisa é a PRECISÃO. Pois, de acordo com o mesmo, o mais simples gesto é estudado para eliminar tudo o que possa conter o banal e vulgar. (p. 03) o que implica a regra como base fundamental, determinar movimentos minuciosos, expressões como por exemplo: expressões opacas, o susto, o medo, o espanto isso pode contribuir precisamente no resultado de um coro híbrido. 
O treinamento desse tipo de técnica pode propiciar para o trabalho da mimese corpórea uma atenção minuciosa e detalhista perante as diferentes tensões, inclinações e direções do corpo observado.
Trata- se da recriação do material coletado, logo o material coletado serve como matéria prima para a pesquisa que é desenvolvida. São fragmentos de comportamento que podem ser rearranjados e reconstruídos e é a partir do mesmo que o ator busca um equivalente orgânico ao que foi observado. Seguindo essa linha, há a matéria prima- o material coletado, há a observação da matéria prima e as técnicas abordadas durante essa observação para que posteriormente encontre esse rearranjo. A observação proporciona o estudo minucioso de cada detalhe do movimento, gestos e expressões corporais. 
Fig.1. A Casa de Lá. Direção Ricardo Gomes

Fig.2. A Casa de Lá. Direção: Ricardo Gomes
A Casa de Lá, com direção de Ricardo Gomes, que teve como referência literária a obra de Guimarães Rosa, foi criada a partir da improvisação de atores. Saliento nesse ponto a pesquisa elaborada para a obra, que partiu de uma pesquisa de campo no bairro de Jequetinhonha (MG) e os materiais utilizados durante a cena. Durante a VI Abertura de Processo de Criação do Curso de Artes Cênicas, pudemos ver apresentações de outras pesquisas, dentre as quais destaco duas especificamente, a primeira e principal, cuja base é fundamentada em Arte Terapia, com o tema de pesquisa: INTRATEATRO, de Allan Maykson. Durante a apresentação com base na pesquisa, os voluntários partiram de uma busca com vários materiais dentre os quais haviam lãs e tecidos de material leve. Apesar de não ter sido intenso, sob meu ponto de vista, o conjunto de lençoes naquele momento, vi que de repente poderia ser feito um experimento com esse material, pensando exatamente no coro de atores. Isso está em processo de pesquisa. 


Para pesquisar: 
BARBA, E.; SAVARESE, N. A arte secreta do ator: dicionário de antropologia teatral.
(supervisão de tradução de Luis Otávio Burnier). São Paulo: Hucitec/Unicamp, 1995.

BROOK, Peter. A porta aberta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

BURNIER, L. O. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas: Unicamp, 2001.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural. (tradução: Beatriz Perrone-Moisés). São Paulo:
Cosac Naify, 2008.

MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. (tradução: Paulo Neves). São Paulo: Cosac Naify,
2003.

REFERÊNCIAS

BENTLEY, Nataly. Teatro, Antropologia e a Arte do Ator Entre o Oriente e o Ocidente. VI Congresso de Pesquisa e Pós- Graduação em Artes Cênicas, 2010.
ALMEIDA. Joana Dória de. Jan Fabre e a Construção de Um Teatro Híbrido. Sala Preta. 2009.