quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Não Irei ao Show do BTS

Observação Inicial: Pela falta do que colocar como Tema, achei melhor enfatizar o desespero de uma ARMY.
Final de ano, início de uma nova jornada para a eterna Alice.
Passei um tempo sem saber como iniciar esse registro, é como se meu cérebro tivesse dado uma estagnada, mas tentei não fazê- lo apenas pensando em nota, mas como um diário, com idéias, com referências, com pensamentos sobre os outros sim, mas principalmente com pensamentos sobre o que senti e o que será de mim daqui em diante.
1. A espera:
Foram longas lutas durante o processo de criação e assim também uma ansiedade intensa por ver a apresentação tão perto. Antes estava pensando o que me ocorreria no momento em que estivesse apresentando, se eu sentiria algo específico, algo que pudesse tomar como um registro de primeiro espetáculo com a turma Ac2, mas na verdade o que aconteceu foi... quase um nada, quase uma estafa, um cansaço ou melhor um momento no vazio esperando chegar numa partícula no espaço- tempo, que pudesse me trazer algo específico, uma explicação. Foi tudo tão rápido e pareceu um pouco automático, é como se houvesse um outro eu e esse eu estava apenas me observando durante todo aquele momento, posso dizer isso por conta de uma cena, a 12. Enquanto me deslizava na parede com um suspiro mais indecente, vi- me diante de mim mesma, me analisando com um rosto frio... eu já sabia que durante a apresentação tudo pareceria muito mais rápido, pois já experienciei esse processo em espetáculos de dança, mas a sensação de vazio não era esperada, o que era esperado por mim era explosão sorridente com um ar de UAU, foi demais!!! No entanto, quando percebi já estava em casa, sentada no canto da cama, sem qualquer reação, apenas fiquei olhando para o nada, recebendo essa sensação louca que me preencheu, fui interrompida pelo marcelo, que perguntou se estava tudo bem, e, eu lhe disse que não conseguia entender, porque parecia que minha mente falava, e agora? Você já chegou num ponto desses, em que depois da explosão em palco a sua mente e corpo fica num êxtase tentando se achar no tempo e se perguntando o que acontecerá depois disso, sem um propósito. Foi isso que senti.

2. Aberturinha: Foi um processo, em parte, muito doloroso, pois eu tinha muitos objetivos ainda para tentar alcançar, mas lidar com o ser humano requer muita paciência e lidar com criança requer mais ainda,... lidar com criança é como se você andasse numa corda bamba, aonde todo cuidado é pouco, aonde qualquer coisa pode gerar um furacão de confusões. Tudo parecia estar fluindo, vi Hiago querer brincar, sorrir mais; vi Marcely falar mais alto nos jogos, se dar a chance de fazer parte do grupo de precisar brigar... Porém, vi Luma mudar completamente a ponto de não conseguir encontrar algo que pudesse amenizar a situação... Quando estava estagiando física no ensino médio, as crianças também não eram fáceis, mas percebo uma diferença imensa relacionada não apenas a comunidade e contexto social, mas estados diferentes também, políticas diferentes,... então percebo uma violência muito forte aqui e essa violência se instaura nas lembranças dessas crianças, que já chegam na escola com uma carga da realidade muito grande. Lembro- me que uma das principais frases da professora e supervisora ao conversar comigo foi, aqui a gente tenta tirar tudo o que remeta violência e tenta buscar o que é da criança, brincadeiras de criança para que elas fujam o máximo possível dos problemas em casa.
A sugestão de Arruda foi para analisar se de repente essa violência, essa raiva trabalhada em cena pode na verdade ser uma maneira de não só extravasar o sentimento do aluno, mas também ajuda- lo a dialogar com isso, trazer para a cena de modo positivo. Logo no início fiquei pensando bastante sobre isso, tendo em conta o propósito de distanciar o aluno desse meio, até que ponto essa nova abordagem seria positiva? Eu deveria tentar partir dessa estratégia? Suponhamos que a utilização de uma dramaturgia mais intensa, com referências de crimes, detetive, ou como Arruda mesmo mencionou, Irmãos Grimm. Mesmo que eu tenha tentado no dia e não deu certo, pode ser que eu tenha iniciado essa tentativa de uma maneira errada, o meu ex- orientador Dr. João Neto, de Física adorava física quântica e me passou uma vez vários DVD's que me ajudaram a reger princípios sobre dimensões, humanidade, galáxias e enfim tantas outras abordagens, e penso numa teoria muito interessante, sobre as várias dimensões possíveis dentro de um plano, o plano que conhecemos tem três dimensões, como um plano básico, muito estudado no ensino médio, então temos X, Y, Z, um exemplo comum desse plano tridimensional são os filmes que costumamos ver em 3D no cinema, porém estamos tão acostumados com esse plano que seria muito difícil aos nossos olhos visualizar algo além dessas 3 dimensões, mas a questão é que há mais do que as 3, então se nos deixarmos ampliar nosso campo de visão sobre essa teoria, poderemos ver que vai além de 6 Dimensões, como propõem alguns cinemas de maneira ainda muito supérflua infelizmente. O que quero dizer com tudo isso é que, um mesmo objeto pode ser interpretado em vários pontos de vista ou melhor falando sobre vários ângulos, isso explicaria por exemplo, como dentro de uma sala, uma citação pode ser interpretada de maneira tão distinta por cada aluno. Ainda a partir deste princípio, um físico pode testar vários ângulos para se chegar num fundamento, o mais aproximado da resposta estatisticamente. Como mencionou o Prof. e Diretor Marcelo Ferreira, na VI Abertura de Processo de Criação Cênica, você nunca vai satisfazer um público inteiro diante de uma obra, mas você pode tocar essa pessoa, ela sairá afetada de algum modo, talvez seja por não entender, talvez seja por saber que o autor quis passar algo com isso, gerando reflexão ou talvez por não ter gostado de nada, e isso não deixa de ser um afeto.

...“a criança emprega suas mágicas usando Metamorfoses múltiplas, Só ela dispõe tão bem da capacidade de estabelecer semelhanças. Esse dom a separa dos adultos, cuja imaginação se encontra tão bem adaptada à realidade”, adaptação que pode levar à perda do potencial libertador que tem a palavra. Torna-se, então, necessário, reinventar a própria linguagem ou recuperar algo nela que está perdido. (SCOTTON, P.05)


Porque o mundo mudou a tal ponto, grande é o desafio de trazer o olhar da criança para o que realmente seja da infância.



3. Novas pessoas, novas abordagens, novos conhecimentos: Recentemente fui chamada para participar na pesquisa de Brenda Perim, caí de supetão num grupo novo, então a princípio me senti estranhamente tímida, mais do que costumo ser quando estou conhecendo novas pessoas. O receio de falar era maior, por imaginar que a ideia não seria bem vinda, mas cada componente em suas particularidades fez com que eu fosse me sentindo mais tranquila naquele ambiente. Ser escolhida para um papel de criança em em contra ponto com 25 anos de idade me faz pensar que o Marcelo, meu companheiro, está certo, há algo em mim que não foi perdido, falo isso de maneira cômica pois tento não ser infantil, mas aos olhos de pessoas mais íntimas sou completamente infantil. 


      
      Afinal de contas o que é ser infantil? Ser infantil é acreditar absurdamente em coisas que aos olhos de outros seja impossível? Ser infantil é sorrir por nada? Brincar demais ou se aborrecer por nada? Ser infantil se destina apenas a um rosto ou corpo de criança? Eu costumo dizer aos meus amigos que o casamento me deixou mais séria, e ainda assim dizem que pareço uma criança, como por exemplo no show que Victor Barros fez, lá estava eu como uma boba pulando na cadeira diante de mágicas que poderiam ser facilmente explicadas.. tá mas eu não queria saber como explicar a mágica porque naquele momento o que importava era que a garrafa de coca- cola sumiu diante meus olhos. Eu digo que perdi muito da criança dentro de mim, pois quando morava com minha família havia uma bagunça sem fim, imagine um monte de gente falando ao mesmo tempo, rindo por coisas absurdas, jurando amores por artistas que provavelmente não irão ver de perto em toda a sua vida,... cantar, dançar na sala na frente da tv, beijar a tv e brigar por cantores,... jogar queimada, barra- bandeira, pique esconde, jemerson, tacobol, pular corda, brincar de elástico, todas juntas, sentar na frente de casa quando falta a energia e cantar laranja- madura, contar estrelas,... Há algo que me atingiu muito no projeto de Brenda Perim, ela sugeriu que a menina é  apaixonada pela lua, quando ela disse isso eu sofri uma catarse, de repente me vi na janela do meu pequeno quarto, eu costumava deitar no chão com os pés para cima, encostados na grade da imensa janela, que me deixava apreciar madrugada a fora toda a beleza do grande e inatingível céu e completando toda a beleza noturna, 



      lá estava ela, a lua, linda, inigualável e sempre tão misteriosa. E, por tantas noites eu fazia juras, não por conta da lua num sentido denotativo, mas por uma lembrança em especial, do amigo que perdi e que sempre falava muito dela, antes dele morrer lembro de ter me chamado de enamorada e que a lua representava os enamorados, talvez não haja qualquer sentido no que ele disse, mas para mim, naquele momento e por conta de toda a história que meu amigo construiu comigo, eu a tornei minha enamorada para que assim eu me sentisse mais tranquilizada pela falta que Vasquez me fazia. Isso sempre foi muito forte em mim porque ele dizia ser alguem que se sentia mais calmo a noite, ... Vasquez nas sombras.. ele dizia ser obscuro e tinha até um rosto que combina com a escuridão, mas na verdade ele era mais brilhante do que poderia se quer imaginar. Pensando dessa forma sobre a lua, e o amor puro que sempre guardei comigo, nunca me senti tão bem fazendo algo como tenho me sentido com o grupo de atores no projeto de Brenda Perim. Já faltando alguns dias para finalizar esse período, percebi minha voz fazendo parte de algo, mais tranquilidade para falar com todos, menos nervosa e comprometida. Algumas abordagens e métodos que apareceram tem sido fundamentais para refletir também em minha pesquisa. Enfatizando, dessa maneira a Política do E, percebi que a voz pode completar o que tenho procurado na performance, isso pode ter aparecido talvez pelo fato de que minha voz também tem- se feito mais presente e porque percebi que o corpo parecia muito solitário sem a voz, como posso explicar isso? um corpo com ou  sem voz? Temos debatido muito essas questões recentemente. Num dos ensaios do projeto Hibridização resolvi colocar a voz como estrutura na composição dos arranjos, elaborei o jogo Corpo de e Voz de, isso porque percebi na atriz Kelly Carvalho, durante o processo de criação do Espetáculo Alice, que seu corpo tinha presença de palco, mas faltava algo que eu não sabia dela enquanto contribuição no projeto, ela tem um certo receio e medo de mostrar o potencial, por isso fui com calma,.. primeiro analisei muito, fui perguntando aos poucos, pois mantemos um relacionamento enquanto amigas e enquanto pesquisadora e amiga, então, quando chegou o momento do jogo, quis testar o que sairia na voz, se sairia uma contraposição em relação ao corpo do ator, que figura poderia ser formada ali?
A princípio, todos os atores fizeram o procedimento comum de aquecer o corpo, no ponto zero, procurando alongar os músculos, pedi que procurassem posições desconfortáveis dentro de um círculo imaginário seguindo a pesquisa pessoal com os princípios de furar, torcer, beslicar, num determinado momento pedi que aos poucos fossem encontrando um espaço específico para que fosse formado novamente esse esboço dentro do círculo, e, após encontrarem, iniciei comandos.
Sandra Chagas- Assobio
Kelly Carvalho- Urbanização
Caio Pereira- Rituais
Todos esses como comandos sonoros e aos poucos pedi que se deixasse levar o corpo por esses comandos. Num determinado momento pedi que fizessem o campo de visão tendo Caio Pereira como líder, mas o campo de visão não se limitaria mais somente como campo de visão mas também como campo de audição. Estranhamente, vi um certo receio em Kelly e Sandra ao exercer o campo de audição e queria entender o porque? Então vi a necessidade de introduzir regras e a primeira delas era a de deixar o som fluir com mais intensidade. Acrescentei então mais comandos, como o Corpo de Escritório e Voz de Rituais e não consegui mais enxergar pulsão, mudei a voz para voz de zoológico e especifiquei o corpo para Rotina de escritório e que os atores fizessem uma transição de pesquisa pessoal para ação sobre o outro. Os atores mudavam os sons constantemente até que uma imagem se formou. Percebi um possível desdobramento vendo aqueles corpos cotidianos com vozes animalescas, que me pareceram o homem numa ilusão criada pela rotina do trabalho, porém em seu modo mais absurdo e real num contexto pré- histórico, como um "animal racional".
Deixei rolar o que poderia se tornar um jogo.
Sandra Chagas- Voz de Carneiro
Caio Pereira- Rosnados 
Kelly Carvalho- Papagaio
Sandra possui uma memória afetiva muito forte já construída em seu eu e pareceu estar a princípio incomodada com a novidade, mas na minha visão era exatamente isso que poderia estar faltando, esse incômodo que foi se desenhando aos poucos como um corpo estranhado, finalmente eu o havia encontrado.
Kelly tem uma potência incrível que ainda está se construindo, no início ainda parecia bem receosa e cada mudança na composição corporal parecia muito tensa, então resolvi brincar com a figura que se formava durante esse jogo, dando o comando de sotaque japonês com voz de zoológico e traços de gorila junto ao corpo de escritório, sendo que a composição de sons num determinado tom, frequencia e intensidade que eram formadas não poderia passar de quatro vez durante a fala, ou seja, era sempre modificada a composição de voz que se formava. Eu a deixei aflita pois a todo momento de interrupção por caio ou Sandra, conseguia perceber sua procura pela próxima composição e então finalmente pude vê- la num corpo diferente dos outros que costumava apresentar, fosse em pesquisa pessoal no grupo ou em sala de aula.
Caio Pereira mencionou que não se sente muito a vontade em deixar fluir a voz e ainda assim foi alem de seus limites buscando sons muito onomatopeicos, com muita potência, eu diria que sinto apenas uma ausência de riso. Me envolvo muito com o lado primitivo que costuma trazer para o corpo em composição... penso que posso não ter visualizado ainda algo que poderia ser muito potente enquanto arranjo para a construção da figura que chamei esse ser híbrido a priori, que irá se formando. 
4. Sobre a Apresentação de Hibridização: Por conta dos problemas que ocorreram na aberturinha em relação a mau entendimento de conversas, transporte e horários decidi chegar bem mais cedo com o grupo para organizar as pinturas no chão, jogo de luzes e aquecimento para deixar o ator mais energético e pulsante. Mas, nada depende somente da gente, infelizmente a pessoa responsável chegou apenas mais tarde, o que não apenas gerou atraso na apresentação, como também tensão no elenco, que se sentiu sozinho diante do processo. Kelly de início já levou uma queda horrível do palco, nesse momento pensei que ela teria levado sequelas maiores fosse no joelho ou tronco, mas, por sorte ela não sofreu nenhuma fratura ou trauma, apenas inchaço no joelho. Sandra também não parecia estar em seu melhor estado e Caio ainda teria uma sequencia de trabalhos a noite. A escolha dos Desenhos em tinta no chão: Tendo forte influência de Jan Fabre como um dos primeiros teatrólogos a me encantar em seus trabalhos que denotam muita metamorfose, muito estranhamento durante a metamorfose e hibridização, assim como a carne, as cores prevalecidas em performances, acabei me apropriando de uma ideia muito peculiar que surgiu enquanto assistia uma das performances sob sua direção. A ideia é a tinta vista no performer como um ser miscigenado, um ser afetado por um multiculturalismo.. daí o princípio ser sem tinta e aos poucos ser afetado. Creio que a orientação após a apresentação foi de extrema importância, principalmente por conta do que havia visualizado anteriormente no processo de pesquisa, o interessante nisso tudo foi o que meu marido disse, fascinado por Arruda... Eu vi ela alí e tudo o que ela dizia era intenso e com muita propriedade, como uma verdadeira pesquisadora e pensei, meu amor você está bem encaminhada. Foi bom poder escutar dele, pois há algum tempo atrás, sem o conhecimento do que eu vivia, essa ideia sobre o projeto e sobre o curso era completamente diferente, era apenas mais uma opinião como tantos que não entendem esse doar do ator nessa área.. é uma doação da alma e que nem todos conseguem, falo por mim em saber o quanto tem sido doloroso psicologicamente, pessoalmente e socialmente falando, tendo inclusive muito a doar, pois meu conhecimento ainda é tão pouco diante de uma imensidão que é esse mundo.
      Fabre, em sua operação na hibridização, diferentemente da justaposição e da complementação, não é de interação entre formas artísticas, mas de transformação daquilo que cada arte conhece de si. (...) Os elementos originários não podem sobreviver sem se modificarem, porque as alterações ocorrem na estrutura dos processos de codificação. (ROMANO, 2005, p.41)
   A citação de Romano me faz relembrar uma das orientações quanto à musica durante a apresentação, como algo solto, como um processo sem regras mais aprofundadas, os bastões foram o ponto forte, com ressignificados, dando espaço para a hibridização, mas a música já retomava a diferença entre raças, a música trazia algo muito próprio fosse do indio, do negro ou demais raças...

Hibridização Teatral
       Para a Tribuna Livre, a proposição surgiu em cima da hora e do nada, na verdade muitos queriam participar mas não faziam ideia do que poderiam apresentar, então num dia comum recebi uma mensagem de Allan Maykson, cujo texto como tema Se não quiser adoecer, de autoria do Dr. Drauzio Varella descrevia sob itens várias maneiras que incluiam não ser vaidoso demais, ter mais espiritualidade, acreditar mais em si entre outras questões e pareceu simplesmente interessante para se fazer algo. Por conta do curto espaço do tempo, não pudemos fazer como realmente visualizava. A ideia base era que houvesse um vídeo passando enquanto executávamos as performances, dialogando sob duas imagens. No vídeo iniciaríamos uma linha do tempo de pessoas diversificadas, aonde apresentaria desde o nascimento do bebê até as doenças, inimizades, vícios que levariam aos poucos, à morte. Mas nunca conseguíamos encontrar todo o elenco junto e tudo parecia muito complicado por conta de outras apresentações que aconteciam em paralelo. Mas, esse processo de criação, que acredito que não tenha deixado de ser de criação, pois trabalhamos em cima dos temas, com o intrateatro e ação e reação, assim como repetição pela escrita que serviria como pulsão para o corpo,, por fim, se constituiu num belíssimo encontro com um grupo que não parava de rir, discutir e se unir mais. Por vezes me sinto muito sozinha em sala e na maioria das vezes acabo ficando mais ao lado de Allan, que desde o início foi a pessoa com quem me senti mais à vontade para conversar e falar sobre diversos assuntos,... mas quando não há o allan, eu me vejo muito sozinha, meio que forever alone... e sentimental como sou me vi em casa, triste e mórbida, mas Marcelo conversou comigo e disse que se sentia um pouco culpado, e que me ajudaria mais nesse processo, tentando se socializar mais também com meus amigos, tentando comparecer aos eventos comigo, ele pediu que eu me sentisse mais a vontade para brincar com as pessoas, e então diante desse grupo, em meio aos cortes pesados e muitas outras baboseiras me vi mais solta. Durante muitas reflexões chego a pensar que não nasci para ficar na tv ou em palco, por conta de meu estereótipo e sim, isso iria totalmente contra argumentos que tomei como base a partir de Huapaya e Passabon, mas me vi apenas como alguém que não seria escolhida com facilidade, por meus olhos, por meu nome ou algo parecido. E, marcelo manifestou- se novamente, dizendo- me que só eu posso quebrar esse tipo de barreira, só eu posso ser a pessoa que irá na frente com toda a força e sem nada a perder, pois eu já me adiantei declarando não ter nada, então o que realmente teria a perder? Marcelo tem sido mais que companheiro, tem sido uma mãe que acalenta seu filho... e isso me destrói um pouco por dentro, pois queria não ter que cair assim em sua frente. Mas, com todas essas palavras e acrescentando mais um pouco ele procedeu, você não pode no palco? acha que não pode. Você sempre amou o palco e lutou contra a família e contra mim, não se desvalorize de modo tão absurdo por nada. Bem, esse foi meu desespero por estar desempregada, sem poder ajuda- lo como gostaria, esse foi o desespero refletido em mim pelo país desorganizado em que vivemos... O fato é que depois de toda essa discussão de auto- motivação, pude me sentir mais a vontade com meus amigos, inclusive com o pessoal do projeto de Brenda Perim, com o grupo de Judô e capoeira, e isso é bom, pois acredito que se eu continuasse me diminuindo demais poderia trazer sérias consequências em meu comprometimento com todas as famílias nas quais estou inserida.
     A direção da performance, eu sinto que não foi apenas minha, pois a todo momento eu pedia auxílio de meus amigos. Mas, como iniciei a criação e os motivei, todos disseram que eu era a diretora.

Performance Se não quiser adoecer
Desde o início eu queria colocar balões, isso porque adoro o colorido que se forma no chão, adoro tinta, adoro balão, adoro lã, palavras jogadas no chão em folhas, acho esses materiais incríveis para a construção de cenas e o barulho que faz quando espoca, me faz pensar explosões de fogos de artifício, em por fim ou começo em histórias, enfim...


      Bem, Katy Perry apareceu para brilhar em meu coração que é muito sentimental e bobo, então eu precisava expressar isso de algum modo. Então eis a música aí em cima.

    O final não saiu como combinado, mas deixamos por conta do improviso exatamente por ter havido erros técnicos na hora de nosso grupo ensaiar. Como não pudemos treinar o final com a música Bel Air de Lana Del Rey, o elenco não sabia que na verdade seria até o final da canção e por conta disso não chegaram a fazer a troca energética e somente depois levar o balão para frente, contar os 5 s e estourar para poder jogar para a plateia. No fim das contas, jogamos os balões o todos entenderam que era para estourar, então saiu como queríamos.

Teatro Medieval
      Durante a criação rimos do início ao fim, rimos porque escolhemos o Teatro Medieval sem nem saber exatamente porque, simplesmente todos queriam Commedia Dell' Art mas o grupo que conseguiu gritar primeiro ficou com o tema. Pessoalmente não vejo nenhum mal em relação ao estudo do teatro medieval, Como desde o início me engajei nas pesquisas e sugeri ideias, elas acabaram fazendo sentido e prevalecendo, mas não foram todas minhas, como por exemplo, o padre falando latim foi uma super proposição de Thiago, que possui experiência relacionada a bufonaria, allan no improviso conseguiu a transição que tanto nos assustava para a cena dos bufões e histriões, mari com o santinho de cabeça pra baixo sendo meiga como sempre, Brenda esbanjando seu charme durante o encontro com o enamorado no palco simultâneo, a super ideia de Mari ao lembrar de pedirmos desculpas e falar logo no início a diferença entre o ator e personagem e Isa, sempre organizada, elaborando todos os esboços com transições de cena. Realmente foi muito proveitoso. 

5. Momento DP:


    Ok, depois de todo o esforço gratificante de ter conseguido, junto à turma AC2 e direção de Arruda, apresentar o espetáculo tão cheio de intempéries, gostaria de passar minhas férias em Manaus,... NÂO! MENTIRA! Na verdade estou sofrendo lágrimas de sangue por saber que meu Monster estará em são paulo, BTS, que depressão, show deles em São Paulo, tão perto de mim meus rostinhos de anime, meus falsos paraenses, que ódio profundo aterroriza meu coração! Não poderei ir ao show e nem posso rodar bolsinha, sim, isso é apenas depressão que carregarei para a vida. Isso explica que idade não significa nada, isso explica que amo demais meus Coreias e inclusive minha eterna Gil Ra Im, Ha Ji Won entregando o prêmio... é muita emoção para uma só mente jizuiz. E, para não dizer que não tiro qualquer proveito para minha área, achei o MV deles absolutamente incrível e contemporâneo em tantos aspectos.


  O que pude tirar de associação de imagens e possíveis construções na mimese, já começo som essa associação.
A 'Pietá' do artista belga Jan Fabre, com rosto da morte (620) (Pat Verbruggen/EFE/VEJA)
  Desde que vi esse MV maravilhoso, percebi em detalhes como as asas, a faixa preta, reconstituição de cena, a utilização de estátuas humanas, o beijo na estátua, a associação da mesa em Alice, enfim, um trabalho cheio de pontos positivos e a serem lembrados para outros momentos. BTS Saranghae (Te amo) Jimin!! 
Só para deixar claro, chamo de falsos paraenses por conta da melodia lembrar bastante o tecnobrega do pará, mas a verdade é que essa música é demais!! Incluindo a melodia!

8. Sobre outros pontos:

Pensei sobre o sentido básico do leque e a reconstrução de seu significado, como por exemplo, a utilização de bastões que se desmembrou em outro sentido.

Percebi uma influencia muito grande do super marionete no teatro oriental, mas por não saber bem a respeito, ainda não ouso especular, a mudança de plano, a maneira como o corpo se posiciona no espaço e a forma que toma, além de algo fundamental, a cenografia.

A posição da iluminação resultou num efeito sombra lindo, além do pequeno balcão, compondo um estilo de palco, a presença de pessoas sentadas me lembraram muito a composição do público dentro como parte do processo, como na apresentação de Hibridização.

Os bonecos, não sei como ainda, mas essa imagem, eu a acho muito importante, algo que pode ser elaborado de algum modo na composição de cena.

E por fim e não menos importante, as referências.

http://veja.abril.com.br/entretenimento/releitura-da-pieta-com-a-face-da-morte-ofusca-bienal-de-veneza/
LAURENTINO, Maria Cecília da Silva/ MELO, Vanessa Batista de. O Brincar nas Perspectivas: Freudiana, Kleiniana e Winnicottiana. Psicologado, Março, 2015.
SIMÕES, Daniel Furtado da Silva. O Ator e o Personagem: Variações e Limites no Teatro Contemporâneo. Belo Horizonte, 2013.
TELLES, Narciso/ FERREIRA, Marcella Prado. Criação e Cena Contemporânea: Possibilidades de Ação Vocal a Partir dos View- Points. João Pessoa, Vol.02, 2011.




domingo, 6 de novembro de 2016

ALICE


Ela é Real
Eu não posso torna- la real

A busca profunda por um quem... afinal de contas quem eu sou ? Essa pergunta tem sido motivo constante durante o período de ensaio para o espetáculo. Me aprofundar não apenas num personagem mas em vários deixou- me extremamente eufórica, não por não estar preparada, mas por ficar com receio de no final não saber exatamente quem eu realmente seria. Eu seria uma Alice, uma mistura de Alice, um lapso de uma lebre pela qual trabalhei tanto para ser e acabei sendo menos do que imaginei que ainda o  poderia, ser povo, alguém do povo, uma rosa? No fim das contas tenho me visto como uma metamorfose, exatamente como fiz em minha primeira performance sobre a concepção de que personagem me escolheria, uma alice híbrida, confusa, que por vezes se sente como parte daquele lugar e outras não consegue entender quase nada do que está realmente acontecendo. Se essa Alice existe em mim, ela é exatamente isso, essa confusão alocada num espaço cheia de conflitos internos que por hora quer ser parte de tudo aquilo e outra quer apenas sumir. Durante esse processo de criação tenho me visto passando por 3 fases:
Empolgação- Nela, tudo é mil maravilhas, leio textos, faço pesquisas, desenho sobre os personagens, penso nos figurinos, construo partituras corporais e as apresento, sendo as mesmas aceitas, é quase como quando nos apaixonamos por alguém e ficamos tão excitados com toda a situação que acabamos por esquecer que a paixão é como uma faca de dois gumes, na primeira impressão somos levados às alturas pelas aventuras, mas depois vemos como a realidade realmente é, cheia de lamentações, erros, falhas, implosões, desilusões, enfim, depois enxergamos o outro como ele realmente é. E, assim tem sido essa experiência. 
Metamorfose- A transição de uma fase para a outra, de forma dolorosa, tendo de entender, calar, aceitar, independente de ser seu erro ou não. O momento em que a realidade começa a mostrar sua face e você tem que encara- la e aceitar. Pra mim esse é o pior momento, pois saí do mesmo há pouco tempo e horrivelmente cheia de cicatrizes. Sabe todas aquelas pesquisas feitas no início, todas as construções elaboradas, os jogos, a bendita cena da lebre, o imenso texto dos narradores, tudo se fez, re- fez, desfez e refez- se novamente, e durante esse processo tudo parece um emaranhado de desorganização, um caos. Pois você ver a data se aproximando e o texto para decorar ainda não é o certo, e nada parece ser ainda realmente certo. E, pior ainda, ter de aceitar atores estrelas, literalmente!!! Esse parece ser o momento de teste, vamos lá, ou você aguenta ou não? Algumas noites eu acordei tendo pesadelos e outras noites eu simplesmente não conseguia dormir com tanta informação em minha cabeça.
Reta Final- Começamos a nos encontrar constantemente, são feitas fricções entre os atores para cada cena, são passados novos exemplares editados da cena. As cenas começam a ganhar forma, gerar poética e você começa a entender que algumas discussões foram realmente necessárias, que algumas coisas com as quais não concordou a princípio, deram certo afinal. A aflição fica numa espécie de linha tênue por conta do tempo decorrido para que algo saia belo e com bons resultados. A data se aproxima e algumas coisas ainda não estão prontas mas você se sente estranhamente excitada com isso. 
Alice mexeu comigo de tal modo que não sei ao certo mesmo como explicar. É como se eu tivesse aceitado entrar nesse mundo de loucuras, aonde o nonsense faz mais sentido que a realidade, aonde se reflete sobre o nonsense, onde pessoas possuem traços animalescos nos quais eu ainda não havia parado para reparar e tudo parece uma corrida eleitoral, pois estou realmente numa corrida louca sem saber onde chegarei e quem irá ganhar. Quando estou no projeto de Brenda Perim, sinto - me como um ser híbrido, sinto- me como uma garota que implora para que a Alice fique alí fora lhe esperando para não me atrapalhar, mas as vezes pareço ver seu olhar por entre as frestas querendo bisbilhotar. Numa tarde dessas eu estava numa floresta e de alguma forma ela conseguiu entrar e estava louca querendo participar, querendo saber que seres eram aqueles com quem eu conversava, o problema maior de todos é que ela é muito curiosa e por isso acaba indo aonde não deve ir e se metendo em tantas confusões, talvez ela seja uma das causas de meus atuais conflitos, pois nunca me senti tão estranha.
Interpretação

Criei um certo vício em relação à memorização pela repetição da escrita e monólogo interno, mas recentemente Arruda nos direcionou por um novo método, o de fala interna- espátula em diálogo com c monólogo e a escrita, o que seria, de maneira exemplificada, palavras curtas, reações rápidas e potentes que irão intensificar a externalização dos diálogos e ações.Ao exercer a estruturação de cada detalhe de meu personagem, como especificadamente o de Alice, na cena 4, a casa do coelho, busco a palavra que irá gerar esse impulso interno, essa palavra pode ser FOGO?! com a resposta, SE FIZEREM ISSO, EU SOLTO DINÁ EM CIMA DE VOCÊS! 
Confesso que recentemente tenho pensado mais nessa cena, talvez pelo fato de que ela só tenha parecido realmente mais elaborada para mim agora, na reta final, mas, lembro- me, inclusive de ter sido chamada a atenção por Arruda, durante o início da cena- eu estava indo em direção à Mari, me ajustei ao seu lado e fiquei com o rosto triste, mas na concepção de Arruda, minha expressão parecia muito fake, e possivelmente ela estava correta, nesse dia eu estava frustrada, aliás, todas nós, sentimos a pressão de algo que ainda parecia um esboço. Parecia não haver qualquer monólogo ou palavra espátula que me impulsionasse. Porém, Arruda, me deu uma base, pedindo que eu explicasse porque Mari parecia triste e de que maneira aquela situação me afetava. Isso foi estranho, de repente vi que não estava dando meu melhor, que estava deixando toda aquela situação tomar conta de mim. Minhas palavras são sinceras quando menciono o sorriso da direção ao ver que enfim algo ali deu certo e fez sentido. Depois de todo esse tempo vejo que necessito urgentemente resgatar algumas pesquisas dos personagens para deixa- los mais estruturados, principalmente dessa garota curiosa. Uma das falas mais excitantes da cena 4, em minha visão, é:- EU SEI QUE ALGO INTERESSANTE SEMPRE ACONTECE QUANDO EU COMO OU BEBO ALGUMA COISA, essa frase me faz parar para pensar em como essa garota realmente é, ela parecia quase o tempo todo excitada com o fato de que tudo parece estar sempre em transformação, tudo torna-se alguma coisa, tudo parece muito metamórfico ou até paradoxal. Creio que necessite voltar ao view points como uma pesquisa pessoal, uma passagem por cada cena, me redescobrindo, principalmente para a cena 4  e cena 12, pois há uma quebra e visualidades entre um personagem em transição e um personagem como uma das facetas de Alice, sendo um ser dark, obscuro e sensual. 
Vejo que posso melhorar na reação que exerce quando o coelho olha para mim falando sobre minha cara de palerma e a corrida que exerço nessa transição. Melhorar a maneira como ele me afeta, minha expressão de susto junto ao pulo. É como se eu ainda não tivesse visto o meu melhor nessa cena, uma média de 6 eu diria até chegar no dez parece haver uma infinidade de números... Para pra pensar em algo que me causaria tamanho susto. Como quando eu fazia alguma besteira e era pega de surpresa por meus pais, ou quando eu e minha irmãs fazíamos uma busca nos armários e guarda- roupas de casa quando estava perto do natal, para ver se achávamos algum vestígio de presentes. 
Numa tarde dessas eu estava indo pentear meu cabelo para ir estudar, abri a porta do guarda- roupa, vi um potinho de vidro que guardei desde a ultima apresentação de dramaturgia, lembrei- me na mesma hora do roteiro e comecei a falar VI UMA GARRAFINHA DE VIDRO PERTO DO ESPELHO, depois eu só sabia rir de como há coincidências como essa garrafinha perto do espelho. 
Há algo que sinto grande relevância em falar, sobre João Pedro, que tem exercido um trabalho magnífico durante todo esse processo, o João me faz pensar que a excelência em meio ao caos é possível, que a desordem para alguns significa ordem para outros. Ele me fez perceber o papel escolhendo o ator e não o ator escolhendo o papel, a maneira como cada movimento, que aliás me faz lembrar muitíssimo a biomecânica, determina a agonia da pressa do coelho, a agitação, e então nos surpreende com uma voz única de um personagem, PAT. Essa interpretação me inspira.
CORIFEIA- Um dos personagens mais insanos. Eu tive de friccionar muito em casa um parágrafo tão pequeno e tão significativo. A questão toda da corifeia é o fato de que ela seja uma cozinheira insana, sem escrúpulos. Eu a vejo como uma velha louca que não está nem aí se vai ser demitida ou não e que quer mais é ver o caos. 



Quando inicio: Não aguento mais! Ish Peraí... VOU FUDER ESSA MERDA! Só me vem essa mulher na cabeça, porque não tem como pensar palavrão sem não pensar em Dercy, e o mais interessante é a voz rasgada dela, que me faz pensar na parte É UMA VACA! 
Posso dizer que a cozinheira exige uma estrutura muito completa, mesmo sendo um personagem que mais figurante do que propriamente personagem, pois nessa cena temos o coro, temos um pouco de campo de visão e movimentos rápidos que dialogam com as palavras: TOMA SOPA!! MAIS" MAIS" MAIS", lembro- me das ações de Camilo durante a pesquisa no campo de visão para essa cena. O momento em que jogamos a pimenta, externalizamos a palavra espátula até hoje: TOMA!!!
A minha partitura corporal consiste um pouco de rock, voltado para o system of a dowm e slipknot porque eles possuem um gênero que por vezes alterna a batida gerando uma quebra de ritmos sonoros, eu busquei essa composição de uma das aulas de voz em que durante nossas pesquisas tínhamos de escolher uma composição sonora de rock e alternância com uma música de ninar e a elaborei como view pointes vocal e corporal para o momento em que há a canção da Duquesa e o refrão com os gritos dos cozinheiros OPAA!!



As Rosas- Um lindo papel, que remete suavidade, leveza, fragilidade, mas que se baseou de uma cena completamente sombria. Quando conversei com as meninas, a primeira ideia de rosa que me veio em mente foi com referência às cenas do filme Terror EM Silent Hill.


A Regra de jogo delas parece se basear ao som e à luz, e para as rosas, a regra é a alergia à tinta e reação aos gritos da Rainha. 
E, especificamente para às reações à Rainha, a primeira imagem que me veio foi a de Sidney Magal, por conta da maneira como move as mãos, então não queria trazer apenas um corpo extra- cotidiano, mas ter um impulso de rosa mesmo. Pode parecer engraçado, mas faz muito sentido durante a cena.


Povo- Enquanto pensava nas estruturas de cada personagem, não me pensava como povo, até Rejane chegar em mim e avisar que a lagosta era povo e que teria uma roupa base específica para o povo, como estilo formal e uma das principais referências sendo as performances dos bailarinos de Pina Bausch. É delicado falar sobre povo, por um momento você se sente como alguém que pode não ter tanta importância, mas depois, quando ver a formação do grupo, principalmente na cena da corrida eleitoral e quadrilha das lagostas percebe que cada ação, cada expressão é tão importante quanto às dos outros personagens, pois o mínimo erro pode sujar a cena. Como animal marinho e parte do povo escolhi ser a foca.

Simplesmente por ser fofinha e gordinha. Acredito que a cena da quadrilha é uma das mais legais, por conta da dança e música, sinto- me como se tivesse voltado à infância. Não importava como eu sempre estava presente nas quadrilhas e festas juninas. Eu realmente sinto muita falta disso... Então não havia nada melhor do que trazer essa lembrança como substituição. 

Lebre de Março- Ah... a minha lebre de março sente saudade do jogo da cena 7, sente porque essa cena me dava impulso, me deixava em êxtase, quando eu saí, Arruda me disse que era por conta da cena das Rosas, mas eu não conseguia entender muito porque outras atrizes que também eram rosas estavam nessa cena e eu não... então isso meio que me quebrou, mas tive de entender. A Lebre foi o papel mais difícil de largar, isso porque senti que houve uma grande pesquisa de minha parte sobre o personagem, mas a vida segue e estou como lebre na cena 11, em que tenho de segurar o personagem com expressão e pequenas ações que o identifiquem, as palavras são quase como palavras espátulas e isso me deixa um pouco triste. QUINZE! EU NÃO DISSE NADA! NEGO! Essa é uma das cenas que mais exige de mim, exatamente por ter que segurar o personagem sem fala. Nela, eu me baseio muito no que é mencionado pelo chapeleiro, a sensação dele ao tomar o chá, eu busquei como fala interna para as reações, tendo como princípio que sempre tomamos chá juntos, eu provavelmente sei muito bem essa sensação de tremeluzir CHHhhha, às outras reações são ao Dormidongo, que se apoia em mim enquanto eu mesma tento me apoiar nele para continuar em pé, quando ele é muito mais pesado que meu corpo, acabo perdendo por vezes o equilíbrio. 


Dei seguimento ao pequenos tiques que aderi desde o início de minha pesquisa e o deixei um pouco estressado como fala interna ao momento em que chapeleiro tenta coloca- lo como parte da culpa, por conta da fala interna minha voz aparece com um timbre diferenciado, dou ênfase às pesquisas que iniciei por conta de minha participação no projeto de Brenda, tenho valorizado muito essas pesquisas de timbres e notas que também ajudam a identificar um personagem. Como por exemplo, o Pat de João Pedro, que se diferencia completamente com seu sotaque português. Meu timbre sai mais agudo e rasgado, o que é totalmente diferente de quando estou como corifeia, em que possuo um timbre mais grave e rasgado,diria que um Ré. 


Alices Negras Cenas 1 e 12- Invejosa, rancorosa, sensual, extravagante, deprimida foram umas das características estruturadas e ainda em construção para a personagem de alices Negras, nesse personagem também ainda não vi meu melhor, primeiro por conta do texto, que até pouco tempo não estava claro para decorar, o que não me deixa a vontade enquanto caminho, o papel me limita, me faz dar passos curtos, então quero estar com a fala preparada para o próximo ensaio, quero poder finalizar essa semana com o personagem intensificado, principalmente no início em que é o momento crucial para chamar a atenção plateia, senti falta de me soltar e extravasar,faltou fala interna, na verdade esse foi o único personagem que não tive o prazer até então de fazer uma boa pesquisa e encontrar uma boa fala interna para o início da cena. Talvez o figurino também desperte algo em específico. 


A My Lee do Evanescence me faz pensar muito no lado sombrio e deprimido.


Eva Green, Jessica Alba e algumas das atrizes da sequência de Sin City são insanas. Tentei pesquisar um pouco mais de sensualidade por saber que é um papel dificil pra mim, eu não sou sensual, nem insana, na verdade na maior parte das vezes me sinto inocentemente uma boba por ter 25 anos e não dizer palavras mais pesadas que garotas mais novas que eu falam com tanta facilidade. Pedi ao meu companheiro que fale mais palavrões em casa para eu me adaptar, por conta da  cozinheira e da alice negra, tenho literalmente feito mais pesquisas para tentar deixar meu corpo mais à vontade com o personagem até a estreia, cheguei a ver um ensaios sensuais para agregar a sensualidade em cena, também tenho feito exercícios físicos para me sentir mais à vontade na hora de usar os vestidos e principalmente no momento em que serei uma das rosas, pois se é para ser rosa branca, minhas coxas já estão prontas, eu não sei muito o que é sol, a não ser que realmente a ocasião exija, mas cheguei a conversar com as meninas para pegarmos um bronze até a data, meu corpo é meu grande rival, meu corpo e minha boca... mas enfim.. cada obstáculo é completamente relevante para que eu consiga ultrapassar algum limite, eu vejo isso como um processo doloroso que vale à pena no final. Poder contracenar com meus amigos o espetáculo Alice, é algo de que quero poder ter uma ótima memória. 

Mar de Lágrimas- Ser uma Alice doce é como andar numa corda bamba após sair de uma cena em que sou completamente seu oposto. Me vejo muito nessa Alice, por conta de suas perguntas, de suas brincadeiras, da maneira como ela fala, há algo inocente e até infantil mesmo no timbre de minha voz, mais aguda e suave, tão leve... sinto- me livre nesse personagem, como se estivesse brincando com meus primos num dia de domingo, lembro que costumava brincar de manja pega e esconde no quintal de casa, e quando capturávamos nosso primo que era maior do que quase todas nós, era uma festa, todo mundo em cima do Sidartha para poder segurar ele, era muito engraçado, sinto- me praticamente completa para essa cena, exceto pelo fato de que esqueço de ficar em diagonal no palco. O Mar de lágrimas me faz pensar no dia em que estava aprendendo a nadar, eu estava com tanto medo que comecei a me debater nos braços do papai e caí na piscina me afogando, fiz um tremendo escândalo, depois, percebi que que todos estavam olhando e que a piscina não era tão funda assim. Meus primos me chamavam para brincar e aos poucos fui perdendo mais o medo de entrar na "grande piscina" na casa do vovô. As palavras espátulas que geralmente utilizo também são mais infantis, como por exemplo, NOSSA! OH NÃO! E AGORA? 
Dialogar entre esses vários personagens tem sido um belo e louco desafio, que será compensado com grande experiência e aprendizagem. De acordo com  ideia de diminuir ou eliminar o lapso de tempo entre o impulso interior do ator e a sua reação exterior se assemelha ao pretendido por Meyerhold, mas o fundamento desse impulso e o ato de despojar- se diante da plateia, fazendo uma total doação de si mesmo. (SIMÕES, p. 56)

REFERÊNCIAS
SIMÕES, Daniel Furtado da Silva.OAtor e o Personagem: Variações e Limites no Teatro Contemporâneo. Belo Horizonte 2013.

domingo, 9 de outubro de 2016

Deixe Fluir as Vibrações

O dia da apresentação está chegando e com ele uma imensidão de emoções. Ainda não não consegui decorar todo o texto, mesmo sabendo que faz parte do processo, sinto que cheguei em parte no período em que minha mente está pedindo um pouco de pausa. É estranho falar isso. Talvez seja por conta da vida particular. Sabe, quando você chega em aula para ensaiar, as pessoas não querem saber se está tudo bem ou não. Ali, temos todos um objetivo em comum, a preparação para o dia tão esperado, e eu sei que se quer posso me dar a chance de dizer que quero relaxar. Além da data que se aproxima, há também a minha saúde, há a vida financeira que não tem sido muito boa. Recentemente também descobri que minha cadela, que ficou com minha família em manaus, está doente, e eu se quer posso ajuda- la em algo. Comecei a estudar os editais para saber melhor como proceder e tentar algo no próximo, preciso agir, se tem algo que percebemos durante essa caminhada é que a vida é curta, o tempo é mais ainda e a área requer tempo para estudo. Imagino como deve ser a vida de quem já trabalha na área... essas pessoas que realmente aparecem como bons artistas e teatrólogos, elas vivem essa área intensamente. Elas respiram a arte. Aliás, qualquer um que queira mais em sua área acaba por respirá- la. 
Além da vida particular e da vida Alice, há o estágio e o Projeto, no qual resolvi me aprofundar dessa vez. Escolhi a Hibridização Teatral por conta do momento em que estamos. Num dos encontros sugeri à S. Chagas, uma das atrizes voluntárias, que trouxesse um pouco de sua vivência com o grupo de capoeira em que está inserida, e, a mesma levou para o encontro alguns bastões com a proposição de demonstrar um pouco do maculelê. 



Como aparece no vídeo acima, o maculelê consiste numa dança ritualista advinda de uma lenda afroindígena de maculelê, índio de uma tribo, que, ao ver sua aldeia sendo atacada por inimigos, teria liderado um grupo de índios na defesa de sua aldeia, utilizando- se de bastões. Tendo os guerreiros retornado à aldeia, ficaram sabendo do ocorrido e fizeram grande festa ritualística em prol da grande coragem do índio. Essa dança atualmente é praticada em praticamente todo o brasil, por conta do grande espaço que a capoeira tem conquistado há anos. Esse ritual, além de nos impactar com os movimentos corporais juntamente aos bastões, nos remete a historicidade e diálogo cultural. Por conta de ter como base o resgate de raízes culturais, obtivemos um grande avanço, sinto que estamos indo muito bem não somente em relação às buscas mas também em relação ao tempo. Além de algumas questões que vem surgindo com a pesquisa, deparei- me com a questão da Kelly, na qual venho me perguntando sobre o diálogo em grupo, pelo fato de não te- la como integrante ativa desde o início, tem sido mais difícil a pesquisa sobre a mesma, mas isso é muito bom, pois tem sido uma barreira motivadora, há algo a ser decifrado, lembro- me assim do que dito por Arruda enquanto me orientava em relação a um de meus alunos de estágio, ela mencionou sobre o mistério da esfinge- decifra- me ou devoro- te. Antes de sua entrada no grupo havia uma certa linearidade, isso porque ambos os atores tinham vinculos bem similares e de repente vemos Kelly como alguém assimilar, alguém que nos faz pensar sobre o verdadeiro diálogo e como essa diferença influencia como gerador de poética. Remeto- me novamente ao maculele como um fator gerador de poética. Isso porque, apesar de se tratar de uma dança ritualística com um contexto histórico fortalecendo sua base. Decidi pegar essa partes dessa base e reconstruí- la trazendo para a pesquisa pessoal. Deixei todos os atores a vontade para conversar, com o intuito de que em algum momento essa vibração fluiria. 

Atores voluntários no projeto de resgate de raízes

O procedimento se deu da seguinte maneira: primeiro experienciamos a base do ritual, a fricção entre os bastões seguindo um ritmo em concordância com os pés e movimentos das mãos, como numa sequencia de 3 em 3 batidas de compasso. Quando vi que todos pareciam excitados com o momento, pedi que cada um, ao seu tempo fosse iniciasse uma pesquisa advinda da relação que obtiveram anteriormente e a vibração que o bastão, agora instrumento, lhe fazia sentir, deixando escapar, externalizar esses sons através da fricção dos bastões e da reação do corpo às mesmas, potencializando-as em voz. O que tivemos foi um retorno lindo, cheio de ruídos (pesquisas sonoras das batidas) que se juntavam formando vibrações (batidas harmonizadas) e cheio de afecções (busca sonora, a palavra falada), músicas de axé, africanas, palavras soltas como por exemplo tomate, números, que aos poucos formavam canções. Percebi naquele momento que o trabalho de cada segunda- feira e por vezes pesquisas a parte não tem sido em vão... além da busca dos voluntários, tenho feito as minhas à parte, para ter como uma vibração que possa externalizar em algum momento. Obviamente que já informei sobre a grande hibridização de meu próprio genes, nessa busca comigo mesma, acabei encontrando algo. Numa das tardes em que estava chegando cedo por conta dos estudos, me deparei com ruídos muito familiares vindos do gimnica. Olhei por uma das brechas e vi várias pessoas com kimono, no mesmo instante senti- me energicamente e estranhamente feliz. Lembrei- me que há dois dias atrás eu fazia minha pesquisa de resgate de raízes em casa, e além de buscar no japão, traços de guerreiros samurais e sua conduta, traços de gueixas e suas danças que exigiam destreza e leveza, também procurei no kung fu punhos de tigre e outros estilos como uma pesquisa profunda do que essas pessoas representam em mim que me fazem querer estar sempre próxima a elas. Há algo em mim que é tão forte e não consigo explicar. Esse momento passou tão rápido em minha mente enquanto meus olhos fixados através das lentes arranhadas de meu óculos assistia aquelas pessoas treinando e exercendo essa vibração que gera um êxtase profundo em meu corpo. Um rapaz que já estava ali fora ficou me olhando e por conta de algo incontrolável, resolvi perguntar se poderia ver um pouco do treino e ele sem parecer pensar duas vezes, disse: mas é claro que sim, você não quer participar? 
Eu realmente não sei como explicar quando sinto isso, o coração parece que está desfilando com uma escola de samba. Sim, fiquei nervosa demais e ao mesmo tempo olhei para minha roupa, retribui o olhar com a resposta de que não minha roupa não era apropriada e que precisaria sair logo em seguida, pois tinha dado minha palavra no dia anterior de que estaria no laboratório para ajudar com as máscaras. Então disse que apenas iria observar para não ter que sair no meio do treino. Mas, se quer tive tempo de sentar o professor Hícaro, que daqui a dois meses será mestre faixa preta em taekwondo se aproximou e falou, vai ficar só olhando ou vai participar... eu não sabia o que responder.. na verdade eu tenho esse problema imenso em relação a hierarquia, de não falar tão alto, de manter distância e respeitar o máximo possível a pessoa acima de mim. E ele se encaixa nisso, então apenas lhe disse que minha roupa não era adequada e não poderia ficar até o final, mas o professor insistiu, foi quase como uma ordem, antes de falar uma frase parecida como uma manipulação, realmente você poderá ficar assada com esse short. Eu fui. Durante o treinamento intenso em alguns momentos de dor e medo de cair no chão sem força eu me perguntava- sami, o que você está fazendo aqui! Ele deu um tempo e perguntou se estávamos com sede, e eu instantaneamente respondi que sim. Ele logo retribuiu minha resposta- então vamos fazer duas sequências com dez flexões e depois disso poderão beber água, mas se alguém cair dobraremos o número. Na hora eu não conseguia acreditar que ele havia feito isso, parecia uma pegadinha, eu estava morta... ou parecia estar,.. descobri que meu corpo aguenta mais do que imagino, pois consegui finalizar a sequência e beber a tão preciosa água. Tudo o que acontecia enquanto eu estava ali, treinando, parecia muita informação para uma só tarde e eu não havia me dado conta do quanto o tempo havia passado, depois de muitos chutes já sem força eu disse que realmente precisava sair, mas o professor disse- eu lhe vejo na próxima aula. E, como uma discípula fiel e sem noção momentânea de todo o acontecimento respondi que sim, mas que chegaria atrasada por conta de outros compromissos. E ele apenas me respondeu- chegue aquecida sami. Tudo tem sido muito estranho desde esse dia... porque mesmo com todos os meus problemas, mesmo com minha saúde que me perturba constantemente, mesmo com os textos, durante o treino é como se eu conseguisse escapar de todos os problemas. Eu canso o meu corpo, mas a minha mente treina constantemente. Meu psicológico também tem sido treinado, no ultimo treino eu tive minha primeira luta para trabalhar a percepção, esquiva e defesa numa situação de risco. Eu apanhei muto de meu grande colega filipi, que possui pernas longas com angulos muito maiores que os meus no chute, estou com alguns hematomas, no momento em que ele estava me chutando uma parte de mim queria chorar, essa parte dizia que eu não estava aguentando e que aquilo era demais pra mim; a outra parte de mim não aceitava que eu iria chorar e dizia, encontre uma forma, chute também, não desista, e, em contra partida havia o rapaz que me instruia enquanto o professor conversava com minha colega que havia lutado antes de mim e chorava muito. Ele dizia, sami, pensa, ele é mais alto, a perna é mais longa, encurta a distância, mas tudo o que eu recebia parecia um emaranhado de informações que não parecia se encontrar, em conjunto aos chutes tudo parecia uma bagunça dolorida. Como ultimo recurso, escutei o que o instrutor disse e tentar chegar o mais perto possível de meu oponente e tentei chutar o mais alto que pude, eu apanhei muito, mas também o golpeei muito. Além do taekwondo, estou praticando judô com o professor Daniel, que é uma pessoa maravilhosa também e conhece manaus, pois já viajou para lutar em um evento. E, estou praticando um pouco de capoeira. O taekwondo envolve a harmonia e o equilibrio de 30 por cento em mão e 70 por cento em pernas e é uma arte marcial sul- coreana em defesa pessoal, o judô é uma arte marcial japonesa, que consiste também na espiritualidade em conjunto com o físico e a mente em defesa pessoal e diferente do taekwondo, possui algumas tecnicas assustadoramente lindas, é uma arte marcial apaixonante. A capoeira é um estilo de luta advinda de origens africanas, que consiste numa luta em forma de dança, em roda, suas caracteristicas são bem ritualísticas e a mesma é feita em dança por conta da proibição da luta, foi como uma maneira de burlar regras. Praticar as artes marciais tem sido cansativo, provavelmente terei de abandonar a capoeira por conta do horário. Mas, o judô e principalmente o taekwondo tem sido uma lição de vida pra mim. Sempre que consigo exercer um dos movimentos de maneira correta, meu corpo e mente vibram e me sinto estranhamente perto de meus ancestrais. Também gostaria de salientar as similaridades de alguns treinamentos com regras de jogos teatrais utilizados por nós, como por exemplo o espelho e campo de visão, que são ditos exatamente do mesmo modo e com praticamente a mesma intenção, o espelho serve para que nossa mente esteja atenta a cada passo que o oponente exerce e o campo de visão para que possamos exercer um movimento em defesa, numa situação de risco. 

Referências Teóricas


Att: Sami Cassiano

domingo, 18 de setembro de 2016

Retalhos

Cena 12 (Narradores)
O Depoimento de Alice

Eu Gritei! Exclamei! Berrei! E Completamente esquecida, na excitação do momento, do quanto havia crescido nos últimos minutos,...

Uma das cenas mais esperadas por mim, fazendo parte do trio de Sombras Narradoras de Alice. Eu, Allan e Alberto temos a incrível missão de dar vida a Alices completamente esnobadoras, debochadas, com um ar melancólico, sínico, obscuro e sensual ao mesmo tempo. Nessa cena estou tendo a oportunidade de trabalhar mais o timbre de minha voz, alternando entre vários tons para que aja uma certa desconstrução do singelo.

Fomos separados de nossos colegas para começar a trabalhar o texto. A princípio ficamos em pé e começamos a leitura, porém, percebemos que aquela não estava sendo uma maneira correta de iniciar, essa percepção se deu pelo fato de que nossas falas eram transmitidas de maneira mais confusa e desconexa. Resolvemos sentar, pegar o marcador e caneta e iniciar pequenas correções e destacar pontos interessantes que sugeriam ações diferentes. Ainda sentados, iniciamos novamente a narração, cada um com sua regra de view points, as palavras surgiam e formavam cenas, cada um soube o momento certo de levantar, as palavras foram se firmando e ganhando mais potência, com quebras de notas e timbres até chegarmos ao ponto de um diálogo que fluía além de nossas expectativas. 

View Points

É importante mencionar nesse momento o view points, um sistema minuciosamente estudado por Anne Bolgart e Tina Landau, que anteriormente as duas já teria sido desenvolvido por Overlie, sendo assim abordado por várias áreas até chegar ao teatro. O que Bolgart e Landau fizeram foi adequar esse aprimoramento que fizeram em Físicos e Vocais:

Físicos
  • Relação Espacial;
  • Resposta Cinestésica;
  • Forma;
  • Repetição;
  • Gesto;
  • Arquitetura;
  • Ritmo;
  • Duração;
  • Topografia.
Vocais

  • Tônus;
  • Dinâmica;
  • Aceleração/ Desaceleração;
  • Silêncio;
  • Timbre.
Dentre os quais foram aperfeiçoados novamente por nós mediante a construção de cena, transportando alguns dos sistemas físicos para a vocalidade. Assim sendo, por ter escolhido anteriormente o view de repetição, acabei por levá- lo para a fala. 
É interessante verificar os vocais, pois antes não havia uma analogia em minha fala com os mesmos, pelo menos não havia ainda essa analogia por conta de minha ignorância em relação ao estudo direcionado ao mesmo.  Por exemplo, relembrando nosso treinamento ao narrar a cena 12, lembro- me de termos alternado por vezes a aceleração ou mesmo o timbre, como mencionei anteriormente.
De acordo com SILVA, frente aos estudos de Bolgart, os Viewpoints normalmente são utilizados para três principais finalidades, como um treinamento contínuo e sistemático para o ator, para a criação de movimento e composição da cena num processo criativo e, mesmo quando um estado permanente de jogo deve ser mantido ao longo da temporada de um espetáculo. 

Repetição como meio de memória

Não tenho me saído muito bem ultimamente em relação ao método da repetição para a memorização. Isso porque provavelmente ainda não tenho muito costume de utiliza- la. A verdade é que tenho sentido um pouco da adrenalina de ver a data se aproximando e nós ainda formando rascunhos. É algo completamente novo pra mim. Posso dizer que a parte mais delicada até o momento tem sido exatamente essa, o treinamento da memória em relação ao texto. Pois, meu corpo é mais adaptação à memória corporal do que à mente. A agora, temos de lidar com ambas as partes. Tem sido um trabalho contínuo e até um pouco árduo, pois remete mais atenção, mais dedicação e paciência. Remeto- me ao encontro que tive com o grupo "Poética", e dialogamos sobre por um momento sobre essa separação entre mente e corpo. É possível que o corpo lembre a mente? A mente está separada do corpo? Quando uma pessoa sofre derrame, sua mente não consegue comandar o corpo por longo ou contínuo tempo. São paradoxos de nossa vida. Paradoxos que caminham constantemente conosco. Ao meu corpo está fincada a memória corporal, mas à minha mente ainda não se conecta com o corpo a tal ponto que o mesmo lembre o texto em analogia com cada movimento por mim exercido. O que digo não significa que ambas as partes não cheguem a trabalhar em harmonia, mas sim que exige um trabalho de contínua prática.

Bem, finalizo hoje com o vídeo de Dance Academy, e, como posso me referir à esse vídeo,.. ele apenas é muito especial para mim, realmente representa muito. Geralmente quando minha mente fica muito conturbada, lembro- me de meu querido amigo Vasquez, que já faleceu ponta de um ataque cardíaco. O Vasquez representou muitas coisas pra mim, talvez por conta de minha idade, por conta de como ele simplesmente desapareceu sem se quer ter se despedido como deveria,...  gosto de me lembrar de nossos momentos juntos, gosto de lembrar quando ele tocava violão sentado na grama,.. como ele chegava sempre de surpresa em casa,.. eu tinha 14 anos e ele 25. Parece estranho não é,.. mas ele era como um irmão, sempre me respeitava e cuidava de mim. Ele apareceu de repente em minha vida e sumiu de repente... Esse vídeo passa o momento pelo qual os amigos de Sammy (que foi atropelado enquanto corria), passam durante a final das apresentações. Thara dança  Sapatinhos Vermelhos, e podemos ver seu monólogo interno enquanto apresenta. É muito lindo mesmo.
Assista a partir de 14:08. Emocionante até o fim.





REFERÊNCIAS

SILVA, Láis Marques. Escuta Ação: pistas para a criação do ator em diálogo com o sistema do viewpoints, São Paulo, 2013.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Porco e Pimenta

Cena 06


O Bebê chora sem parar enquanto a duquesa canta e quando ela soluça o bebê soluça juntamente, e a cozinheira uma imensidão de palavras internalizadas e externalizadas.

A Cena ¨6- PORCO E PIMENTA, contém uma variedade de situações em que tivemos de recorrer à ruídos distintos, através da pesquisa dos atores. Acima, especifiquei a confusão em que se passa a casa da duquesa, enquanto Alice inicia um diálogo com a mesma. Por conta de personagens um tanto animalescos, como os berros contínuos entre duquesa, bebê porco e cozinheiros, acabamos por aproveitar da situação e utilizar a voz dos atores para a imitação do porco (Diogo) e Bebê (Alberto). 
BELO, sobre a importância da voz do ator, diz que encontrar intenções, emoções, entoações em que a vocalidade se desenha no espaço cênico juntamente com o gesto, com o movimento e a partir de ideias sugeridas por esse mesmo texto ou procurando um grande contraste com este. 
Durante a criação da cena, por vezes escutamos a palavra, "novamente", isso porque são feitos muitos testes, é realizada uma minuciosa pesquisa em cada detalhe. Após todas as repetições, chegou- se numa possível resposta. Um exemplo disso é a minha fala como coriféia:

Não Aguento mais!!
ish, pera aí..
Vô fudê essa essa merda ou ela quer sopa? Toma sopa!
Mais, mais, mais.. Ela tá pensando que eu sou escrava dela?
Toma essa merda (Respingando nos outros)
Que Porcaria! ou Ah! Perfeito!
Toma essa merda. ou Tá bom de pimenta pra você?
Tenho que ir mais rápido
(Olha para a Duquesa) É uma vaca!
Falta mais o que?
Cebola, Pimenta, Coentro, Alface, Tomate, macarrão, pepino, manjericão!!!
Preciso Consertar
Vai queimar!
E agora?

Iniciamos a fala sendo repetida em vários momentos na cena e a finalizamos sendo dita uma única vez e posteriormente sendo internalizada praticamente como uma fala interna, basicamente o que percebe- se é a fala interna sendo dialogada através do campo de visão em cada canto do palco. quando imaginei essa cena não a interpretei do mesmo modo. Minha concepção era a de que ficariam realmente os cozinheiros nas laterais da plateia, porém, seriam feitas alternâncias de modificações dentro de cada esboço formado no espaço de cada ator, algo completamente coreografado de acordo com as falas da duquesa. Por exemplo, há um momento em que a duquesa grita "Cortem- lhe a cabeça", mas a cozinheira continua fazendo a sopa sem dar a mínima. Imagino uma cozinheira estilo sillent hill, com algo que lhe faça movimentar- se, mas não que ela deva ficar parada, e sim que ela alterne entre ficar de frente para a plateia e de costas. Virando em situações críticas, como por exemplo os gritos da duquesa, ou quando o bebê parasse de chorar para que fosse algo parecido com bicho papão. 




Creio que as máscaras idealizadas por Arruda são perfeitas como elemento de estranhamento, integram ao personagem um aspecto que alterna entre o macabro e inocente.


A máscara abafa um pouco o som da voz do ator, logo, teremos um bom trabalho pela frente, tendo em conta a acústica do teatro em que a encenação ocorrerá.
O Ator tem de estar preparado para responder a uma série de diferentes pressupostos ou propostas. É lhe pedido que cante, mas que também fale e faça muitas outras coisas com a voz, que tenha a veracidade do performer, mas que repita isso todos os dias até o fim da carreira do espetáculo. (BELO, p. 04)
Há um momento em que foi testado sussurro dos cozinheiros, ainda não tenho certeza se daremos continuidade com sussurros, mas em minha visão, gerou poética, sendo feito apenas por uma pessoa e com a máscara abafando, tornasse quase inaudível, mas com todos o exercendo ao mesmo tempo, ficaria lindo. Creio que o que nos compromete mais é exatamente o inimigo de todos- O Tempo.

A Duquesa

Porqueira!!
Espanca de forma violenta teu filho, Se espirrar, Ele sabe que isso atormenta, E quer nos irritar.
Irra! Irra!

Segundo BELO, Ao sair da boca, a voz dá à palavra uma vida própria, dá- lhe corpo, a palavra passa a ser daquela voz, daquele timbre, daquela entonação (...) O volume, o timbre, a colocação, a articulação e tantos outros, determinam o impacto sonoro que a voz terá no seu interlocutor. (p. 5)
A duquesa é um dos personagens mais alucinantes, particularmente lhe atribuo isso, por conta de Allan ter dado vida esse personagem, vi sutileza em contraposição com raiva e melancolia. Allan parece ter nascido para esse personagem, a maneira como sua canção e voz se apropriou das palavras cantadas pela duquesa, gerou uma personalidade muito singular à mesma. Por isso, percebe- se a importância do treino e jogo com volume, timbre e tantos outros mencionados acima, por BELO. O ator que se dá o prazer de treinar mais sua voz, torna- se mais consciente de sua potência. Isso remete- me inclusive Ispinoza, ao falar sobre a maneira como flui através do corpo a quantidade de afeto. Se analisarmos em relação à voz, vê- se uma semelhança. Supomos o início de um diálogo entre dois personagens, um deles, ao falar uma frase, a inicia esbanjando com sutileza cada palavra e de repente muda sua frequência, deixando- a com uma personalidade mais grotesca- remetendo à personalidade bipolar, o que nos faz caracterizar o personagem como arrogante ou estúpido, entre outros.
Destaco abaixo um exercício que BELO realiza em suas aulas com os alunos, que me pareceu bem interessante. A ponto de pensa- lo não apenas em fazer o exercício seguindo cada instrução, mas alternando com a técnica Meisner. 
- Desenhar o texto tendo em conta os contornos das entoações, ou, desenhar ao lado do texto as curvas sonoras. BELO menciona a importância desse estudo tendo em conta uma pesquisa minuciosa em prol desse método, elaborada por DELGADO, que investigou a percepção da entoação, analisando acusticamente diversas formas de entoação de uma frase. Essa pesquisa envolve um trabalho minucioso do ator em relação as entoações, por ter em conta durante o procedimento, as emoções e intenções que definem cada uma. Penso que se colocada em paralelo à tecnica Meisner, o ator verá várias facetas em posição e contraposição aos personagens e ao que o mesmo quer transmitir. 
AMORIM, a respeito, menciona que o ator precisa aprofundar os estudos a respeito de seu personagem,os modos como são elaborados seus pensamentos, estados emotivos, a construção de imagens para o momento em que executar como ação cênica física e sonora.

Abaixo compartilhei o vídeo do professor Gustavo Tassi, que explica alguns treinos de respiração para melhorar a frequência da voz. Pode parecer estranho no início, mas eu esse professor realmente diferencia- se de muitos ao ensinar. Tenho iniciado os treinamentos e isso tem me ajudado com relação à minha respiração, principalmente pelo fato de sofrer de várias doenças crônicas que atrapalham as minhas vias nasais. Eu realmente sinto muita vontade de cantar e tocar muitos instrumentos, espero ter a oportunidade de aprender muito ainda com o tempo. Não tem muito a ver com o discurso anterior, mas durante as aulas no estágio, tive a oportunidade de tocar um pouco de macunlelê com o professor Ricardo, de matemética, e me senti uma criança que havia acabado de ganhar um presente, eu nunca havia tocado, quando pratiquei capoeira, ainda era criança e só saí porque minha mãe queria me dar um castigo mais severo e escolheu a capoeira, mas dessa vez tive a oportunidade de rever os instrumentos e aprender algumas batidas, realmente fiquei emocionada, tive uma catarse. 




O vídeo abaixo faz parte da pesquisa de um dos personagens que interpretarei. É uma banda de Rock Japonesa chamada Baby Metal. Elas são muito incríveis tanto em relação às músicas quanto aos MVs, geralmente há muitos elementos de estranhamento em seus mvs. A gueixa com a máscara e o leque, achei realmente incrível, e o vestido que estão usando me fez pensar muito no lado sombrio e infantil como uma transição de uma das sombras. 



Claro que no Japão o vermelho é algo que está intrínseco, não sei, em nós. Tudo tem algum detalhe de vermelho. A Banda BAND- MAID, não conheço muito ainda, mas usa uns figurinos muito bons nos MVs.


Na DOLL BOXX, a Fuki, cabelo azul, utiliza um vestido que me fez pensar nas alices da Cena 4, apesar de termos de pensar em Alices cinzas, essa ideia ainda parece um pouco abstrata em minhas pesquisas;





REFERÊNCIAS

AMORIM,Geová Oliveira de/ MOTTA, Lígia/ GAIOTTO, Lucia Helena. A Voz do Ator de Teatro. 2013;
BELO, Sara. A Voz na Criação Cênica- Reflexões Sobre a Vocalidade do Ator. vol. 02, 2011;