domingo, 18 de setembro de 2016

Retalhos

Cena 12 (Narradores)
O Depoimento de Alice

Eu Gritei! Exclamei! Berrei! E Completamente esquecida, na excitação do momento, do quanto havia crescido nos últimos minutos,...

Uma das cenas mais esperadas por mim, fazendo parte do trio de Sombras Narradoras de Alice. Eu, Allan e Alberto temos a incrível missão de dar vida a Alices completamente esnobadoras, debochadas, com um ar melancólico, sínico, obscuro e sensual ao mesmo tempo. Nessa cena estou tendo a oportunidade de trabalhar mais o timbre de minha voz, alternando entre vários tons para que aja uma certa desconstrução do singelo.

Fomos separados de nossos colegas para começar a trabalhar o texto. A princípio ficamos em pé e começamos a leitura, porém, percebemos que aquela não estava sendo uma maneira correta de iniciar, essa percepção se deu pelo fato de que nossas falas eram transmitidas de maneira mais confusa e desconexa. Resolvemos sentar, pegar o marcador e caneta e iniciar pequenas correções e destacar pontos interessantes que sugeriam ações diferentes. Ainda sentados, iniciamos novamente a narração, cada um com sua regra de view points, as palavras surgiam e formavam cenas, cada um soube o momento certo de levantar, as palavras foram se firmando e ganhando mais potência, com quebras de notas e timbres até chegarmos ao ponto de um diálogo que fluía além de nossas expectativas. 

View Points

É importante mencionar nesse momento o view points, um sistema minuciosamente estudado por Anne Bolgart e Tina Landau, que anteriormente as duas já teria sido desenvolvido por Overlie, sendo assim abordado por várias áreas até chegar ao teatro. O que Bolgart e Landau fizeram foi adequar esse aprimoramento que fizeram em Físicos e Vocais:

Físicos
  • Relação Espacial;
  • Resposta Cinestésica;
  • Forma;
  • Repetição;
  • Gesto;
  • Arquitetura;
  • Ritmo;
  • Duração;
  • Topografia.
Vocais

  • Tônus;
  • Dinâmica;
  • Aceleração/ Desaceleração;
  • Silêncio;
  • Timbre.
Dentre os quais foram aperfeiçoados novamente por nós mediante a construção de cena, transportando alguns dos sistemas físicos para a vocalidade. Assim sendo, por ter escolhido anteriormente o view de repetição, acabei por levá- lo para a fala. 
É interessante verificar os vocais, pois antes não havia uma analogia em minha fala com os mesmos, pelo menos não havia ainda essa analogia por conta de minha ignorância em relação ao estudo direcionado ao mesmo.  Por exemplo, relembrando nosso treinamento ao narrar a cena 12, lembro- me de termos alternado por vezes a aceleração ou mesmo o timbre, como mencionei anteriormente.
De acordo com SILVA, frente aos estudos de Bolgart, os Viewpoints normalmente são utilizados para três principais finalidades, como um treinamento contínuo e sistemático para o ator, para a criação de movimento e composição da cena num processo criativo e, mesmo quando um estado permanente de jogo deve ser mantido ao longo da temporada de um espetáculo. 

Repetição como meio de memória

Não tenho me saído muito bem ultimamente em relação ao método da repetição para a memorização. Isso porque provavelmente ainda não tenho muito costume de utiliza- la. A verdade é que tenho sentido um pouco da adrenalina de ver a data se aproximando e nós ainda formando rascunhos. É algo completamente novo pra mim. Posso dizer que a parte mais delicada até o momento tem sido exatamente essa, o treinamento da memória em relação ao texto. Pois, meu corpo é mais adaptação à memória corporal do que à mente. A agora, temos de lidar com ambas as partes. Tem sido um trabalho contínuo e até um pouco árduo, pois remete mais atenção, mais dedicação e paciência. Remeto- me ao encontro que tive com o grupo "Poética", e dialogamos sobre por um momento sobre essa separação entre mente e corpo. É possível que o corpo lembre a mente? A mente está separada do corpo? Quando uma pessoa sofre derrame, sua mente não consegue comandar o corpo por longo ou contínuo tempo. São paradoxos de nossa vida. Paradoxos que caminham constantemente conosco. Ao meu corpo está fincada a memória corporal, mas à minha mente ainda não se conecta com o corpo a tal ponto que o mesmo lembre o texto em analogia com cada movimento por mim exercido. O que digo não significa que ambas as partes não cheguem a trabalhar em harmonia, mas sim que exige um trabalho de contínua prática.

Bem, finalizo hoje com o vídeo de Dance Academy, e, como posso me referir à esse vídeo,.. ele apenas é muito especial para mim, realmente representa muito. Geralmente quando minha mente fica muito conturbada, lembro- me de meu querido amigo Vasquez, que já faleceu ponta de um ataque cardíaco. O Vasquez representou muitas coisas pra mim, talvez por conta de minha idade, por conta de como ele simplesmente desapareceu sem se quer ter se despedido como deveria,...  gosto de me lembrar de nossos momentos juntos, gosto de lembrar quando ele tocava violão sentado na grama,.. como ele chegava sempre de surpresa em casa,.. eu tinha 14 anos e ele 25. Parece estranho não é,.. mas ele era como um irmão, sempre me respeitava e cuidava de mim. Ele apareceu de repente em minha vida e sumiu de repente... Esse vídeo passa o momento pelo qual os amigos de Sammy (que foi atropelado enquanto corria), passam durante a final das apresentações. Thara dança  Sapatinhos Vermelhos, e podemos ver seu monólogo interno enquanto apresenta. É muito lindo mesmo.
Assista a partir de 14:08. Emocionante até o fim.





REFERÊNCIAS

SILVA, Láis Marques. Escuta Ação: pistas para a criação do ator em diálogo com o sistema do viewpoints, São Paulo, 2013.

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