segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Anotações

Com base nas pesquisas anteriores, estou iniciando as fundamentações para um possível esboço de roteiro, refiro- me assim, pois precisarei de 3 encontros para testar jogos que demorei a encontrar como uma lógica para o que idealizo. Quando refiro- me a hibridização, falo de um corpo único criado a partir de vários materiais. No work- in- Progress que apresentei juntamente aos atores voluntários, depois de muto analisar pude perceber muitas falhas, primeiramente relacionadas aos acessórios, às canções e ausência de regras, exceto pelos bastões, aonde percebi algo que foi criado, algo que fizemos de objetos único, porém cheio de propósitos. Pergunto- me como anexar as cultura sem precisar destacar algo que ficou quase como um arquétipo durante a apresentação.

Costumes

Meu maior passatempo é tudo o que envolva a coreia do sul, isso porque realmente tenho fascínio absoluto alguns aspectos e valores culturais desse país. Assistindo alguns programadas dos cantores que admiro, encontrei uma brincadeira sugerida por Nam Woo- hyun, que tem como base a criatividade. Nela, é escolhido um objetivo específico, porém ao entregar para cada jogador, esse deve encontrar uma diferente analogia ou significado para o mesmo, exercendo uma ação.
Observação: A brincadeira inicia em 05:09.


Anexar regras de movimentação corporal e fala interna específicas de uma cultura, inciar a pesquisa com as regras diferentes em cada ator, exercer o campo de visão e observar como o ator pode exercer as ações sem tirar a base de suas regras internas.
Um corpo corporal e vocal comporto por expressões faciais distintas.



Encontro 13 de Fevereiro de 2017

Estiveram presentes os participantes:
Caio Pereira
Nicole Frechiani
Pedro Souza Lopes

Foram discutidas as bases da pesquisa, o que se pretende, tendo em conta os novos participantes e mudanças após a apresentação do work in progress na VI Abertura de Processos. Levando em consideração o retorno das atividades, decidi aplicar os jogos mencionados acima como meio gerador de criatividade e diálogo entre os mesmos. 
O Jogo: Criar regras para os atores e a situação sem determinar o que estão fazendo.
Cada um tinha direito a escolher um objeto e modificá- lo sem ter de repetir ou agregar o significado original.
I. parte: acrescentamos os sotaques  provenientes da Bahia, Itália e Rio de Janeiro, com as seguintes regras, quando eu batesse palma os atores roubavam o sotaque uns dos outros, se eu falasse troca, eles tinham de trocar os objetos. Durante esse momento percebi que o uso de sotaques prevaleceu mais em jogo do que o significado dos objetos. 
II. parte: Excluímos o sotaque e acrescentamos o congela alternando entre os três atores e os resignificados dos objetos a cada congela. Nesse momento surgiram três situações interessantes envolvendo a criatividade de cada um dos participantes.
Caio Pereira: Utilizou o Copo Comprido como um Bolo que tinha uma vela invisível. Começou  o jogo com pouco diálogo e na ausência dele, improvisou a repetição, levando à frente de Pedro a todo momento para que ele assoprasse, Pedro sem saber o que fazer apenas assoprava e num momento estagnou empurrando um pouco o copo contra caio. Durante todo o jogo eu tentava manter exatamente a exaustão dos atores para que surgisse algo, até onde iria a criatividade, e, o fato de que Caio achou um modo de lidar com essa estagnação levou a esse possível desdobramento. 
Nicole: Chuveiro de Moedas. A utilização de moedas no lugar da água remeteu- me à capitalização e agregação de valor a tudo, fez- me pensar por exemplo em cidades em que a urbanização, circulação de dinheiro e rotina são muito manifestadas, como por exemplo São Paulo. 
III. parte: Ator Objeto. Demos esse nome exatamente por trocarmos os objetos em cena por atores. A base era que o corpo mostraria uma posição e a mesma seria o ponto de partida para imaginar o objeto em cena.
Pedro: Mão de Pedro como roupa de nicole, especificamente um biquini. Nesse momento Nicole falou congela e apropriou- se da posição de Pedro para colocar as mãos do mesmo como peça de roupa. O fato de resignificar o próprio corpo leva- nos à ideia de transformação do original em algo único. 
Apesar de não ter me mantido nesse momento na proposta inicial de treinamento energético, ao final do encontro, ambos chegamos à conclusão da necessidade de tê- lo feito independente de se tratar de jogos ou não, essa resposta foi exatamente por conta dos movimentos que surgem durante o treinamento, de repente a dilatação ou minimização seria fundamentais para a criação da composição corporal dos mesmos. Como mencionado, vi a necessidade de aplicação do jogo como meio de usar a criatividade para resignificar, tendo em conta um ser híbrido. Outro ponto que percebi é a importancia do olhar de fora, exemplo disso foi o fato de ter participado na apresentação anterior e por conta disso não ter percebido alguns pontos fundamentais a tempo de trabalhar mais com os participantes. 


17 de Fevereiro de 2017
Citações

SILVA, Jerônimo O CORPO HÍBRIDO NA PERFORMANCE TEATRAL.U. Porto. 2015

(...) aquele corpo alterado, modificado, tanto por fatores exógenos como por fatores endógenos. p. 02

De Platão a Bergson, passando por Descartes, Espinosa, MerleauPonty, Freud e Marx, a definição de corpo sempre pareceu um problema: para alguns, ele é ao mesmo tempo enigma e parte da realidade objetiva, isto é, coisa, substância; para outros, signo, representação, imagem. Ele é também estrutura libidinal que faz dele um modo de desejo, corpo natural que passa a outra dimensão ao se tornar corpo libidinal para outro, uma elevação em direção a outrem: o Eu do desejo é evidentemente o corpo, diz a psicanálise (NOVAIS, p. 9). p. 05 SILVA, Jerônimo apud Novais

Interessante no artigo a maneira como é narrada a história, dando ênfase em cada detalhe, a narração encontra- se em primeira pessoa, no entendo recordando tempo passados. Penso na criação de uma possível narração para criação de cena, mas apenas como guia de estrutura para cada detalhe durante a performance, não sairá da boca do ator, mas se expressará diante do corpo do mesmo.

 Na minha vila, a única vila do mundo, as Mulheres sonhavam com vestidos novos para saírem. Para serem abraçadas pela felicidade. A mim, quando me deram a saia de rodar, eu me tranquei em casa. Mais que fechada, me apurei invisível, eternamente noturna. Nasci para cozinha, pano e pranto. Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer, que acabei sentindo prazer em ter vergonha. Belezas eram para as mulheres de fora. Elas desencobriam as pernas para maravilhações. Eu tinha joelhos era para descansar as mãos. Por isso, perante a oferta do vestido, fiquei dentro, no meu ninho ensombrado. (p. 19)

Durante o treinamento energético com uso de sons, pareceu completar o efeito de paisagem sonora, alguns sons abstratos produzidos pelos participantes.




Hibridização Teatral Encontro 20 de Fevereiro de 2017

Foram os voluntários, Caio Pereira, Sandra Chagas, Pedro Lopes e Mari.
Para esse encontro foi planejado o Treinamento Energético corporal, composto por Campo de Visão, Campo de Audição, repetição, Palavras Improvisadas, Sons Abstratos e Espelho. 
Separei os participantes em Duplas.
1. Pedro e Sandra:Aquecimento corporal/ Pesquisa corporal envolvendo beliscar, puxar, empurrar.
2. Caio e Mari: Aquecimento Corporal/ Pesquisa Corporal no chão.
1. Pedro e Sandra: Pesquisa corporal com Repetição- para cada movimento exercido por Sandra, Pedro deveria repeti- lo 5 vezes e logo depois seguiria para o primeiro movimento que a visse exercendo seguindo as sequencias de repetições;
2. Caio e Mari: Para cada movimento que Mari exercia, caio repetia 10 vezes;
1. Pedro e Sandra: Sandra começou a dar sons abstratos para os movimentos;
2. Caio começou a dar sons abstratos para os movimentos ao passo em que Mari repetia 10 vezes e durante essas 10 vezes ela seguia os sons seguindo a regra de começar em baixa frequência e ir aumentando conforme exercia a repetição.

1º ordem de Repetições: Pedro- Sandra- Caio- Mari
2º ordem de Repetições: Mari- Pedro- Sandra- Caio
Obs: Aspectos a serem trabalhados em Mari, em relação a expressões mais agressivas. Mari consegue segurar muito bem, mas agora é necessária a busca de expressões mais abstratas, algo que remeta quase à marionetes. 
O método de repetição como regra para movimento, determinando a série de repetições para cada um dos membros foi fundamental para o surgimento de recortes para a performance. O uso da frequência em conjunto com a expansão e volume dos sons que Mari repetia de Caio também funcionou. Ex: Sandra: Pihhh  e Mari: AHHH, enquanto parecia dançar no espaço. Houve um momento que considero como a explosão do momento de mari, em que detalhes, nuances emergiam da voz e movimentos que se repetiam. Lembrando que a repetição foi a alternância que decidi acrescentar como meio de sincronizar os resultados parciais entre o campo de visão e ação e reação. 
Movimentos Geométricos surgiram com bastante frequência. Durante a pesquisa de Pedro e Sandra, observei durante várias vezes a busca de equilibrio e resistência corporal que se compunha através de prancha, abdominal e flexão bem como também a linha invisível que parecia se formar enquanto Sandra caminhava alternando lentamente e minuciosamente seus passos um na frente do outro.
Regra de palavras improvisadas- As Regras foram escolhidas para Sandra e Mari. Algum tempo atrás Sandra comentou sobre fazer rimas e versos, que é algo que gosta muito, fiquei pensando num meio de utilizar esse dom e coloca- lo em teste, o que resultou num possível desdobramento muito potente, ao passo em que sandra realmente se focou em palavras repetidas ou obsoletas e por vezes teve de recorrer ao contexto no qual já está inserida, sobre o falar de preconceito, racismo, discriminação; Mari recorreu à música. Escolher mari para falar foi algo pensado minuciosamente. Um tempo atrás enquanto ensaiávamos para uma peça, Mari disse que não conseguia falar rápido, então acrescentei junto à regra o grito para cada vez que ela parasse de falar, Mari deixou surgir a reflexão sobre política, violência e existência.
Obs: Enquanto Sandra falava, tornava- se difícil seguir o campo de visão. Seria o caso de colocar palavras chaves para o surgimento de improvisos? Ou poderá ser uma questão de costume com a rima e movimentos condicionados pelo campo de visão? Houve um momento em que o campo de visão tornou- se quase um diálogo entre campo de visão e ação e reação. Sandra falava e tentava seguir Caio, mas Caio virava e Sandra demorava a receber o sinal de que deveria virar também, durante vários momentos foi visto Sandra e Caio de frente para o outro e Caio exercendo o gesto de indicação com o dedo para Sandra virar e ao compasso em que a mesma virava, seu corpo tentava reagir às palavras que surgiam, mas sempre gritávamos como meio de percepção, a contra regra para que ela lembrasse que não deveria parar de falar e não deveria se mexer quando Caio estivesse fora de seu campo. 
Houve momentos em que palavras e ações exercidas no campo de visão da dupla Mari e Sandra se complementaram, formando figuras não mais estranhas, mas propriamente "imagens que falavam sobre coisas".
O espelho entre Caio e Pedro mostrou a contraposição entre o rápido, grotesco e exagerado e o singelo, minucioso, e detalhado quase como uma pena que plainava conforme o vento soprava em várias direções.