domingo, 18 de setembro de 2016

Retalhos

Cena 12 (Narradores)
O Depoimento de Alice

Eu Gritei! Exclamei! Berrei! E Completamente esquecida, na excitação do momento, do quanto havia crescido nos últimos minutos,...

Uma das cenas mais esperadas por mim, fazendo parte do trio de Sombras Narradoras de Alice. Eu, Allan e Alberto temos a incrível missão de dar vida a Alices completamente esnobadoras, debochadas, com um ar melancólico, sínico, obscuro e sensual ao mesmo tempo. Nessa cena estou tendo a oportunidade de trabalhar mais o timbre de minha voz, alternando entre vários tons para que aja uma certa desconstrução do singelo.

Fomos separados de nossos colegas para começar a trabalhar o texto. A princípio ficamos em pé e começamos a leitura, porém, percebemos que aquela não estava sendo uma maneira correta de iniciar, essa percepção se deu pelo fato de que nossas falas eram transmitidas de maneira mais confusa e desconexa. Resolvemos sentar, pegar o marcador e caneta e iniciar pequenas correções e destacar pontos interessantes que sugeriam ações diferentes. Ainda sentados, iniciamos novamente a narração, cada um com sua regra de view points, as palavras surgiam e formavam cenas, cada um soube o momento certo de levantar, as palavras foram se firmando e ganhando mais potência, com quebras de notas e timbres até chegarmos ao ponto de um diálogo que fluía além de nossas expectativas. 

View Points

É importante mencionar nesse momento o view points, um sistema minuciosamente estudado por Anne Bolgart e Tina Landau, que anteriormente as duas já teria sido desenvolvido por Overlie, sendo assim abordado por várias áreas até chegar ao teatro. O que Bolgart e Landau fizeram foi adequar esse aprimoramento que fizeram em Físicos e Vocais:

Físicos
  • Relação Espacial;
  • Resposta Cinestésica;
  • Forma;
  • Repetição;
  • Gesto;
  • Arquitetura;
  • Ritmo;
  • Duração;
  • Topografia.
Vocais

  • Tônus;
  • Dinâmica;
  • Aceleração/ Desaceleração;
  • Silêncio;
  • Timbre.
Dentre os quais foram aperfeiçoados novamente por nós mediante a construção de cena, transportando alguns dos sistemas físicos para a vocalidade. Assim sendo, por ter escolhido anteriormente o view de repetição, acabei por levá- lo para a fala. 
É interessante verificar os vocais, pois antes não havia uma analogia em minha fala com os mesmos, pelo menos não havia ainda essa analogia por conta de minha ignorância em relação ao estudo direcionado ao mesmo.  Por exemplo, relembrando nosso treinamento ao narrar a cena 12, lembro- me de termos alternado por vezes a aceleração ou mesmo o timbre, como mencionei anteriormente.
De acordo com SILVA, frente aos estudos de Bolgart, os Viewpoints normalmente são utilizados para três principais finalidades, como um treinamento contínuo e sistemático para o ator, para a criação de movimento e composição da cena num processo criativo e, mesmo quando um estado permanente de jogo deve ser mantido ao longo da temporada de um espetáculo. 

Repetição como meio de memória

Não tenho me saído muito bem ultimamente em relação ao método da repetição para a memorização. Isso porque provavelmente ainda não tenho muito costume de utiliza- la. A verdade é que tenho sentido um pouco da adrenalina de ver a data se aproximando e nós ainda formando rascunhos. É algo completamente novo pra mim. Posso dizer que a parte mais delicada até o momento tem sido exatamente essa, o treinamento da memória em relação ao texto. Pois, meu corpo é mais adaptação à memória corporal do que à mente. A agora, temos de lidar com ambas as partes. Tem sido um trabalho contínuo e até um pouco árduo, pois remete mais atenção, mais dedicação e paciência. Remeto- me ao encontro que tive com o grupo "Poética", e dialogamos sobre por um momento sobre essa separação entre mente e corpo. É possível que o corpo lembre a mente? A mente está separada do corpo? Quando uma pessoa sofre derrame, sua mente não consegue comandar o corpo por longo ou contínuo tempo. São paradoxos de nossa vida. Paradoxos que caminham constantemente conosco. Ao meu corpo está fincada a memória corporal, mas à minha mente ainda não se conecta com o corpo a tal ponto que o mesmo lembre o texto em analogia com cada movimento por mim exercido. O que digo não significa que ambas as partes não cheguem a trabalhar em harmonia, mas sim que exige um trabalho de contínua prática.

Bem, finalizo hoje com o vídeo de Dance Academy, e, como posso me referir à esse vídeo,.. ele apenas é muito especial para mim, realmente representa muito. Geralmente quando minha mente fica muito conturbada, lembro- me de meu querido amigo Vasquez, que já faleceu ponta de um ataque cardíaco. O Vasquez representou muitas coisas pra mim, talvez por conta de minha idade, por conta de como ele simplesmente desapareceu sem se quer ter se despedido como deveria,...  gosto de me lembrar de nossos momentos juntos, gosto de lembrar quando ele tocava violão sentado na grama,.. como ele chegava sempre de surpresa em casa,.. eu tinha 14 anos e ele 25. Parece estranho não é,.. mas ele era como um irmão, sempre me respeitava e cuidava de mim. Ele apareceu de repente em minha vida e sumiu de repente... Esse vídeo passa o momento pelo qual os amigos de Sammy (que foi atropelado enquanto corria), passam durante a final das apresentações. Thara dança  Sapatinhos Vermelhos, e podemos ver seu monólogo interno enquanto apresenta. É muito lindo mesmo.
Assista a partir de 14:08. Emocionante até o fim.





REFERÊNCIAS

SILVA, Láis Marques. Escuta Ação: pistas para a criação do ator em diálogo com o sistema do viewpoints, São Paulo, 2013.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Porco e Pimenta

Cena 06


O Bebê chora sem parar enquanto a duquesa canta e quando ela soluça o bebê soluça juntamente, e a cozinheira uma imensidão de palavras internalizadas e externalizadas.

A Cena ¨6- PORCO E PIMENTA, contém uma variedade de situações em que tivemos de recorrer à ruídos distintos, através da pesquisa dos atores. Acima, especifiquei a confusão em que se passa a casa da duquesa, enquanto Alice inicia um diálogo com a mesma. Por conta de personagens um tanto animalescos, como os berros contínuos entre duquesa, bebê porco e cozinheiros, acabamos por aproveitar da situação e utilizar a voz dos atores para a imitação do porco (Diogo) e Bebê (Alberto). 
BELO, sobre a importância da voz do ator, diz que encontrar intenções, emoções, entoações em que a vocalidade se desenha no espaço cênico juntamente com o gesto, com o movimento e a partir de ideias sugeridas por esse mesmo texto ou procurando um grande contraste com este. 
Durante a criação da cena, por vezes escutamos a palavra, "novamente", isso porque são feitos muitos testes, é realizada uma minuciosa pesquisa em cada detalhe. Após todas as repetições, chegou- se numa possível resposta. Um exemplo disso é a minha fala como coriféia:

Não Aguento mais!!
ish, pera aí..
Vô fudê essa essa merda ou ela quer sopa? Toma sopa!
Mais, mais, mais.. Ela tá pensando que eu sou escrava dela?
Toma essa merda (Respingando nos outros)
Que Porcaria! ou Ah! Perfeito!
Toma essa merda. ou Tá bom de pimenta pra você?
Tenho que ir mais rápido
(Olha para a Duquesa) É uma vaca!
Falta mais o que?
Cebola, Pimenta, Coentro, Alface, Tomate, macarrão, pepino, manjericão!!!
Preciso Consertar
Vai queimar!
E agora?

Iniciamos a fala sendo repetida em vários momentos na cena e a finalizamos sendo dita uma única vez e posteriormente sendo internalizada praticamente como uma fala interna, basicamente o que percebe- se é a fala interna sendo dialogada através do campo de visão em cada canto do palco. quando imaginei essa cena não a interpretei do mesmo modo. Minha concepção era a de que ficariam realmente os cozinheiros nas laterais da plateia, porém, seriam feitas alternâncias de modificações dentro de cada esboço formado no espaço de cada ator, algo completamente coreografado de acordo com as falas da duquesa. Por exemplo, há um momento em que a duquesa grita "Cortem- lhe a cabeça", mas a cozinheira continua fazendo a sopa sem dar a mínima. Imagino uma cozinheira estilo sillent hill, com algo que lhe faça movimentar- se, mas não que ela deva ficar parada, e sim que ela alterne entre ficar de frente para a plateia e de costas. Virando em situações críticas, como por exemplo os gritos da duquesa, ou quando o bebê parasse de chorar para que fosse algo parecido com bicho papão. 




Creio que as máscaras idealizadas por Arruda são perfeitas como elemento de estranhamento, integram ao personagem um aspecto que alterna entre o macabro e inocente.


A máscara abafa um pouco o som da voz do ator, logo, teremos um bom trabalho pela frente, tendo em conta a acústica do teatro em que a encenação ocorrerá.
O Ator tem de estar preparado para responder a uma série de diferentes pressupostos ou propostas. É lhe pedido que cante, mas que também fale e faça muitas outras coisas com a voz, que tenha a veracidade do performer, mas que repita isso todos os dias até o fim da carreira do espetáculo. (BELO, p. 04)
Há um momento em que foi testado sussurro dos cozinheiros, ainda não tenho certeza se daremos continuidade com sussurros, mas em minha visão, gerou poética, sendo feito apenas por uma pessoa e com a máscara abafando, tornasse quase inaudível, mas com todos o exercendo ao mesmo tempo, ficaria lindo. Creio que o que nos compromete mais é exatamente o inimigo de todos- O Tempo.

A Duquesa

Porqueira!!
Espanca de forma violenta teu filho, Se espirrar, Ele sabe que isso atormenta, E quer nos irritar.
Irra! Irra!

Segundo BELO, Ao sair da boca, a voz dá à palavra uma vida própria, dá- lhe corpo, a palavra passa a ser daquela voz, daquele timbre, daquela entonação (...) O volume, o timbre, a colocação, a articulação e tantos outros, determinam o impacto sonoro que a voz terá no seu interlocutor. (p. 5)
A duquesa é um dos personagens mais alucinantes, particularmente lhe atribuo isso, por conta de Allan ter dado vida esse personagem, vi sutileza em contraposição com raiva e melancolia. Allan parece ter nascido para esse personagem, a maneira como sua canção e voz se apropriou das palavras cantadas pela duquesa, gerou uma personalidade muito singular à mesma. Por isso, percebe- se a importância do treino e jogo com volume, timbre e tantos outros mencionados acima, por BELO. O ator que se dá o prazer de treinar mais sua voz, torna- se mais consciente de sua potência. Isso remete- me inclusive Ispinoza, ao falar sobre a maneira como flui através do corpo a quantidade de afeto. Se analisarmos em relação à voz, vê- se uma semelhança. Supomos o início de um diálogo entre dois personagens, um deles, ao falar uma frase, a inicia esbanjando com sutileza cada palavra e de repente muda sua frequência, deixando- a com uma personalidade mais grotesca- remetendo à personalidade bipolar, o que nos faz caracterizar o personagem como arrogante ou estúpido, entre outros.
Destaco abaixo um exercício que BELO realiza em suas aulas com os alunos, que me pareceu bem interessante. A ponto de pensa- lo não apenas em fazer o exercício seguindo cada instrução, mas alternando com a técnica Meisner. 
- Desenhar o texto tendo em conta os contornos das entoações, ou, desenhar ao lado do texto as curvas sonoras. BELO menciona a importância desse estudo tendo em conta uma pesquisa minuciosa em prol desse método, elaborada por DELGADO, que investigou a percepção da entoação, analisando acusticamente diversas formas de entoação de uma frase. Essa pesquisa envolve um trabalho minucioso do ator em relação as entoações, por ter em conta durante o procedimento, as emoções e intenções que definem cada uma. Penso que se colocada em paralelo à tecnica Meisner, o ator verá várias facetas em posição e contraposição aos personagens e ao que o mesmo quer transmitir. 
AMORIM, a respeito, menciona que o ator precisa aprofundar os estudos a respeito de seu personagem,os modos como são elaborados seus pensamentos, estados emotivos, a construção de imagens para o momento em que executar como ação cênica física e sonora.

Abaixo compartilhei o vídeo do professor Gustavo Tassi, que explica alguns treinos de respiração para melhorar a frequência da voz. Pode parecer estranho no início, mas eu esse professor realmente diferencia- se de muitos ao ensinar. Tenho iniciado os treinamentos e isso tem me ajudado com relação à minha respiração, principalmente pelo fato de sofrer de várias doenças crônicas que atrapalham as minhas vias nasais. Eu realmente sinto muita vontade de cantar e tocar muitos instrumentos, espero ter a oportunidade de aprender muito ainda com o tempo. Não tem muito a ver com o discurso anterior, mas durante as aulas no estágio, tive a oportunidade de tocar um pouco de macunlelê com o professor Ricardo, de matemética, e me senti uma criança que havia acabado de ganhar um presente, eu nunca havia tocado, quando pratiquei capoeira, ainda era criança e só saí porque minha mãe queria me dar um castigo mais severo e escolheu a capoeira, mas dessa vez tive a oportunidade de rever os instrumentos e aprender algumas batidas, realmente fiquei emocionada, tive uma catarse. 




O vídeo abaixo faz parte da pesquisa de um dos personagens que interpretarei. É uma banda de Rock Japonesa chamada Baby Metal. Elas são muito incríveis tanto em relação às músicas quanto aos MVs, geralmente há muitos elementos de estranhamento em seus mvs. A gueixa com a máscara e o leque, achei realmente incrível, e o vestido que estão usando me fez pensar muito no lado sombrio e infantil como uma transição de uma das sombras. 



Claro que no Japão o vermelho é algo que está intrínseco, não sei, em nós. Tudo tem algum detalhe de vermelho. A Banda BAND- MAID, não conheço muito ainda, mas usa uns figurinos muito bons nos MVs.


Na DOLL BOXX, a Fuki, cabelo azul, utiliza um vestido que me fez pensar nas alices da Cena 4, apesar de termos de pensar em Alices cinzas, essa ideia ainda parece um pouco abstrata em minhas pesquisas;





REFERÊNCIAS

AMORIM,Geová Oliveira de/ MOTTA, Lígia/ GAIOTTO, Lucia Helena. A Voz do Ator de Teatro. 2013;
BELO, Sara. A Voz na Criação Cênica- Reflexões Sobre a Vocalidade do Ator. vol. 02, 2011;

domingo, 4 de setembro de 2016

Um Corpo Afetado

Cena 3

Seguindo o ultimo discurso, lembro- me de ter colocado em ênfase- "Fomos Afetados", certamente que sim. Parto de alguns conceitos e pressupostos de Spinoza, Anne Bolgart, Augusto Peixoto, Arruda, tendo em conta um recorte do último encontro de Corpo. Segue: Durante a construção da direção referente à Alice, partimos de procedimentos diferenciados que se cruzam num determinado caminho, nos levando à reflexão e construção de novas abordagens cênicas para a peça teatral. Dentre os quais estão o View Points (Anne Bolgart), Memorização a partir da repetição da Escrita (François Khan, defendido por Arruda) e Monólogo Interno (knébel); Partimos do princípio da repetição como fonte geradora de potência. De acordo com Khan, podemos receber as ressonâncias do texto em nós mesmos e entender o texto sem pronunciá- lo, o mesmo considera que a urgência com o trabalho na fase de memorização pode promover a fixação da forma e, consequentemente, a perda da liberdade, fazendo- se necessário  a importância de escutar as palavras. O que gera um meio termo, ao mesmo tempo em que surgem assimilações, o ator as capta, mas sem se deixar também muito tempo nelas para que também não tenha algo muito pré- determinado. Essa sequência de sinais, que lembram até as raízes dos neurônios quando são interligadas, gerando inúmeras informações, se expandem a ponto de ficar latente no ator, como consequência da repetição escrita e um trabalho de dentro para fora, podemos ter um ser que emana energia de ações e memórias. E, que tendo o texto concentrado em si após a repetição, pode utilizar de vários desses elementos. Há assim a repetição e há o monólogo interno, advindo de estudos iniciados por Stanislavysk, que refere- se ao que pulsa internamente, parece- me como algo que vem do coração, um discurso de pensamentos que partem do diálogo do ator consigo mesmo, externalizando posteriormente em palavras e ações. Knebel parte de uma análise de uma obra de Gork: A Mãe, para falar à respeito do mesmo. No texto, segue uma sequência de discussões internas do personagem antes que se realize uma determinada ação. Segundo Knébel, para que os pensamentos impronunciáveis possam aparecer, há a necessidade que o ator se introduza inteiramente no mundo do personagem, é preciso que o ator em cena "saiba pensar como pensa o personagem".
O que se necessita é penetrar muito profundamente no curso dos pensamentos do personagem criado, se necessita que estes pensamentos se mantenham perto e queridos pelo intérprete, e com o tempo, eles surgirão por si mesmos durante a atividade. (p.03)
Partindo desse pensamento, alguns alunos fizeram a repetição, tendo em conta a fala do personagem para a cena, alguns partiram de monólogo interno como pulsão para a cena. Outros alternaram entre a repetição a partir do roteiro, alternando com o monólogo. Foram entregues também, em papel ofício, desenhos geométricos, partindo do procedimento de view points de Bolgart, esses desenhos foram utilizados para que houvesse uma manipulação entre a forma e a pulsão interna no ator, os mesmos foram divididos entre vários alunos que iniciaram o campo de visão. Aos demais, sem fala durante a cena, cabia a interação tendo como base cada dispositivo. Sendo o Louro em cena, parti da repetição em alternância com o monólogo interno, porém, sinto- me ainda muito distante de meu propósito, talvez por não ter conseguido entrar muito no personagem. É uma possível explicação. 

Sobre a Repetição:
É preciso dominar estes automatismos e adquirir um tipo de liberdade que passa pela divisão de atenção. (p.150) Khan sugere que o ator alterne entre a memória já com o texto fincado e exercícios físicos ou quaisquer atividades que exijam precisão. Ainda com um pouco de problema relacionado à atenção, tenho tido um pouco de dificuldade durante a escrita, mas de certo, com relação ao que já ficou em memória, não tenho alternado com exercícios pontuais. Mas, como costumo pular corda, isso tem me auxiliado na busca das palavras. Tem sido mais difícil do que eu esperava. Além do mais agora há a alternância não apenas nos procedimentos de memorização através da repetição da escrita como também da repetição de partitura corporal. O que me fez treinar mais em casa. Acredito que o movimento de repetição tem potência, não apenas por ter estudado anteriormente a partir da dança métodos parecidos, mas por ter percebido que trabalha a memória corporal e mental. Conversando com meus amigos durante esse período, tenho percebido essa luta em ultrapassar tais barreiras, é algo muito pessoal em cada ator, o que me remeteu ao afeto. Especificadamente, em um dos Axiomas, Spinoza menciona:
Modos de pensamentos como o amor, desejo, ou tudo o mais que seja designado como afeto da alma, não podem existir em um individuo sem a ideia da coisa amada, desejada, etc. Mas esta ideia pode existir sem nenhum outro modo de pensamento. (p.18)
Ora, se pensarmos bem sobre esse ponto, algo a mais surge quando exercemos ou trabalhamos em algum assunto tendo em conta a ideia de coisa amada. Mas, ao mesmo modo que surge a coisa amada, o desejo, também pode surgir a falta dos mesmos, haja vista que o autor menciona a existencia da ideia sem a necessidade de outra coisa, assim existe algo que a contrapõe, o que é essa falta de desejo? Seria algo parecido com frustração ou medo? Como se pressupõe que o desejo independe do afeto, não estamos falando de algo que se acaba, mas de algo possa ser diminuído tendendo ao infinito, como uma linha exponencial, ela tende ao infinito sem necessitar chegar ao seu estado zero. Quando penso nesse desejo, penso como um princípio básico que cada ator carrega consigo frente aos obstáculos de reconhecimento com o personagem. Mas, também vejo essa escassez do desejo como algo que, de um modo diferente, o afeta, o influencia. O ator fica sujeito ha uma infinidades de afetações, cada uma em escalas diferentes gera poéticas diferentes, a ausencia do exagero não significa que o desejo não existe, mas significa que ele está sendo transmitido numa escala diferente. Durante o período em que estudei física, iniciei um projeto em que, num determinado momento, precisei aplicar calculos voltados para as oscilações que haviam em vários habitats, essas oscilações formavam um ciclo que por vezes se expandia formando vários esboços, como uma tensão num fio sobrecarregado, as oscilações me parecem muito com o ator afetado e o ciclo pulsante me remete brevemente ao corpo do mesmo, o ator afetado parte de uma pesquisa infinita dele em relação consigo, posso explicar essa ideia através de um grande ator já falecido, Heath Ledger,


Reconhecido, atrevo- me a dizer "eternamente", por todo seu trabalho frente a atuação de Coringa. Falar sobre alguém como Ledger, ao meu ver nunca é demais, isso porque acompanhei seus trabalhos desde criança e sempre lhe apoiei como fã. Pensando no mesmo num ângulo totalmente diferente, atualmente, percebo a entrega do ator em relação ao personagem. O mesmo ficou um longo tempo hospedado sozinho num hotel, trabalhando esse difícil diálogo com alguém considerado um personagem de peso- Coringa, além disso, pesquisou manias minimalistas que deram ao mesmo uma identidade muito singular, tais como os olhos com lapsos, mãos mais contorcidas, mania de lamber os lábios,... Além de ter feito uma pesquisa em cima do personagem, conversou com Jack Nicholson (um dos atores a interpretar Coringa) para que durante esse processo, não acabasse gerando comparações entre atuações, sendo aconselhado em vários aspectos. Apesar de muitos comentários sobre a morte de Ledger ser relacionado ao papel, não creio que tenha sido totalmente por isso, apenas sei que Nicholson pediu que Ledger tivesse um pouco de cuidado diante do personagem, por ter uma carga de energia intensa e que o deixaria muito cansado, penso que o excesso de remédios gerou esse acidente, e, que pode ter tido influencia do personagem. Sem descartar os detalhes, penso no corpo como uma forma de expressão, há a fala, evidentemente; mas, também há o corpo. Sem esquecer da diferença do corpo dilatado no extra- cotidiano tendo em conta muitas performances no Teatro e sua diferença a partir da minimização no cinema, o corpo expressa, o corpo fala, o corpo assim como a mente, é afetado, a mente passa uma informação para o corpo, mas o corpo também independe da mente. Isso porque o corpo é marcado por memórias gravadas, ou por lapsos da mesma. Heath, em seu personagem, trabalhou a tal ponto em cima desse biotipo e suas individualidades, que chegou um momento em que seus tiques nervosos apareciam por si só, reagiam independentes de duas falas. Falar sobre a mente e a conexão com o corpo envolve muitas variáveis. Mas, finalizo por enquanto esse discurso com essas perguntas, há, na psicologia, questões relacionadas à conexão corpo- mente, aonde há situações em que minha mente domina os sentidos do corpo; enquanto na neurociência, nosso corpo é formado por vários nervos que estão em contato com neurônios, as raízes dos neurônios passam as informações entre o cérebro e as funções corporais, se não me engano essa ligação existe exatamente no cortex, mas me limito a afirmar a priori, a questão é, temos assim uma conexão mente e corpo, há estudos na neurociencia e fisiologia voltados para pessoas que perdem membros de seus corpos, mas que continuam a sentir dor no membro inexistente, a chamada dor- fantasma. Se o corpo fala por si só, descartamos a mente, mas também descartamos esses impulsos elétricos gerados pelos neurotransmissores, que são comprovados cientificamente, sendo assim é realmente adequado falar do corpo e mente separados?
Quando iniciamos o campo de visão, segui o grupo de PH, e mesmo tendo visto algo em desacordo com o que foi pedido, o segui. Admiro muito o trabalho de PH, mas tenho percebido nele reflexos de ações "clow", digo reflexos por se tratar de algo que parece ser sem querer, algo que provavelmente ela deva estar fazendo constantemente, e sei que não deveria me preocupar tanto, mas isso me chamou a atenção por ser incomum diante dos procedimentos abordados em sala. Lembrei- me que anteriormente entrei em contato com Arruda fazendo perguntas relacionadas ao "animal" Louro (um dos personagens em que estou trabalhando), sendo assim direcionada a fugir do personagem animal e trazer mais para o lado humanizado, cabendo apenas aos acessórios ou vestimentas a comparação, analisando a situação, vi num determinado momento o animal e algo parecido com Arlequim da Commédia Dell'Art, faço esse recorte como um ponto a ser colocado diante da questão que deixei em ênfase acima. O Corpo pode agir por conta própria? O Corpo afetado por uma sequência de estruturação e lapidação diante de outro personagem torna- se um corpo afetado, logo, poderia o mesmo fazer tais movimentos inconscientemente? 
Me veio à memória um momento em aula, em que Arruda mencionou sobre o processo de desvencilhamento do Ator e Diretor diante trabalhos finalizados. Observo que por ser um processo que dura de meses a anos, por tornar-se muito compacto, realmente fincado, estruturado, acabada tornando- se difícil o desvínculo. 
Durante minhas buscas, atrevi- me a pensar numa voz um pouco estridente, sem me ater apenas ao anima, haja vista que não é essa a intenção, busquei personalidades distintas, que chamam atenção com suas roupas, vestimentas, acessórios:

Elza Soares


Dercy Gonçalves:


Carmen Miranda:


Esse personagem tem pouca fala, mas é tão interessante... Apesar que esse nesse discurso, a enfase seja em corpo, achei o vídeo de Carmen interessantíssimo, devido à brincadeira com "P".
Partindo do princípio de que as roupas e acessórios é que trarão a característica das aves, encontrei alguns adereços sugestivos:







KNEBEL Monologo Interior In El Ultimo Stanislavsky Traduc_a_o Arruda

ALEIXO, Fernando Manoel. Texto, Memória e Fala:Um Encontro com François Khan. Urdimento, Vol.2, 2014;
PEIXOTO, Carlos Augusto Junior. O Corpo e o Devir- Monstro. Lugar Comum, 2009;
 SPINOZA, Benedictus. Ética Demonstrada em Ordem Geométrica e dividida em cinco partes.