domingo, 28 de agosto de 2016

NOSSOS MONSTROS

"WHO I AM"


Como tenho andado constantemente em mundos imaginários, resolvi iniciar o discurso de jogos com o jogo em que meus queridos MONSTAX (um grupo sul- coreano que debutou recentemente, no qual pude ver junto com muitos outros fãs, sua trajetória desde crianças. Por conta do programa que nos faz ver o desenvolvimento de cada participante, acabamos chorando, rindo e sofrendo junto com os participantes até que os mesmos debutem, assim foi com os monstax), participaram. Talvez por conta de ainda ser jovem, tenho manias realmente muito infantis, principalmente relacionadas às minhas admirações pela coreia do sul, japão e china, que não nego de forma alguma, por ter amigos chineses, acabei admirando a china recentemente. O fato é que há algo mais forte em mim que me leva para perto dessas culturas, particularmente o Japão, por conta de minha família. O Jogo abaixo, no qual os meninos participam é como o de telefone sem fio, você tem que passar a mensagem até o final de forma correta. A diferença é que ao invés de falar no ouvido, eles falam normalmente, mas cada participante utiliza um fone com música alta para não escutar o que o outro fala. Particularmente é um dos meus favoritos, principalmente quando são eles que jogam. O que acho muito legal nesse jogo é que me faz pensar em confusão, e confusões costumam acontecer muito em Alice. Seria bem legal se em algum momento houvesse um falso telefone sem fio, por exemplo entre os valetes ou entre os juízes, ou mesmo entre as sombras, que se iniciariam com uma ideia e chegariam à Alice com uma resposta completamente diferente. Isso me parece muito engraçado, realmente...  a verdade é que uns pensam em Alice como uma garota num hospício, uma garota revoltada ou louca. Eu penso nela um pouco louca porque acho a sua loucura muito convincente e até me encaixo muito em seus pensamentos, mas penso em algo mais comédia. AH! Apesar disso não sou boa em comédia, mas realmente vejo muita comédia em Alice, porque as mensagens em cada personagem realmente parecem ter uma conexão de outro mundo. Há um episódio nos Simpsons em que eles vão ao culto, mas estão todos muito cansados escutando o sermão do reverendo e cada um aos poucos começa a cochilar e tem um sonho ao seu modo, aonde cada um pode ser o personagem principal e conta sua história em seu ponto de vista, penso em Alice assim. 



Uma história contada já dentro do chá maluco, mas realmente ainda não sei como a adaptaria num teatro.... Quanto ao vídeo, por favor, dê uma chance para rir com esse querido grupo composto por pessoas que são realmente muito esforçadas. Os Sul coreanos me inspiram muito por todo seu esforço em acordar cedo e sair muito tarde de seus trabalhos, claro que sua realidade político- social contribui para que façam isso satisfeitos, mas eles são como algo no qual gostaria de ser mais parecida, ter mais força a cada dia.


Devido a diversos fatores, tais como, excesso de pensamentos referentes à Alice, por conta de nossas pesquisas para atuação, mais projeto de Iniciação Científica, mais encontro com grupo de IC, mais encontro laboratorial para experimento de IC, mais Estágio que não conta horas até o momento mas sim apenas extrema importância da experiência de aprender a abordar assuntos de diferentes formas para crianças, mais minha vida particular que tem sido substituída pela de estudos, entre outros..., reformulo todas as minhas palavras antigas referentes a não fazer nada além de estudar. Pois, estudar é algo que requer paciência, concentração, dedicação e amor. Não basta amar nossa área, mas sim amar primordialmente- adquirir conhecimento. Aqui, se reformulam frases, temos que nos deixar querer aprender a aprender. E, falando sobre aprender a aprender, tenho vivenciado procedimentos incríveis atualmente, tais como reaprender jogos, reaprender seria algo como olhar os jogos nos quais passei quase toda minha infância brincando e exercê-los agora, mas com uma finalidade totalmente diferente. Devido à pesquisa relacionada à "Alice no País das Maravilhas", quer será encenada no final do período deste ano, Arruda têm nos aparecido com ideias totalmente diferentes, como a aplicação de Jogos Infantis como dispositivo de criação cênica. O jogo abaixo teve como princípio a brincadeira de Pique- Bandeira, mas infelizmente não saiu como planejávamos. A ideia básica era a de colocar Alice caminhando até que tropeçaria e findaria por cair num buraco, pessoas juntas formariam um tipo de apoio que permitiria que movimentos desordenados levando à concepção que ela estaria realmente caindo. Outras quatro pessoas seria os irmãos gêmeos, que exerceriam os movimentos básicos da brincadeira, como o de puxar (mecanicamente), e fazer brincadeiras de vozes com suas sombras. caberia a um dos gêmeos brincar com selinho, iniciando uma sequência de selinhos em todos os participantes. Mas, findou de maneira confusa provavelmente por não ter sido entendido por todos. Ainda assim, Arruda viu algo em meio à bagunça que não fomos capazes de perceber, ela viu sombras de Alice. 



Pique- Cola



Uma das melhores brincadeiras, mas que resultou num fim drástico após a apresentação do chá maluco. A ideia da brincadeira era que se o jogador escolhido tocasse no outro, o mesmo ficaria colado, sem poder sair do lugar, porém, o mesmo poderia se deslocar novamente caso um dos outros jogadores passasse por baixo de sua perna. Esse princípio básico do jogo nos soou perfeito para o chá maluco. Reunimos os membros e começamos a repensar algumas regras de jogo, que resultou praticamente no acréscimo de caxinguelê, que não foi apresentado no jogo passado. O jogo teria assim, caxinguelê dormindo, e toda vez que o mesmo se movimentasse, teríamos de congelar e permanecer congelado até que o mesmo passasse por baixo da perna de cada um, conforme o mesmo passasse, retomávamos os movimentos em câmera lenta até o estado normal da conversa. Porém, esquecemos de algo primordial, não era essa a proposta de Arruda, na verdade o que ela queria era que acrescentássemos um momento dentro da história que ainda não havia aparecido. Acertamos em colocar o caxinguelê, mas erramos ao colocar no mesmo espaço de tempo. Poderíamos ter colocado antes da chegada de Alice ou mesmo depois que ela sai, pois finalizamos a brincadeira anterior chamando- a de louca, e então seria engraçado caxinguelê iniciar um assunto de loucos sobre o "melado".  
A concepção de trabalhar os jogos como dispositivo de criação cênica é algo que realmente vale à pena pensar. LIMA, ao fazer uma breve abordagem sobre o histórico do jogo como recurso pedagógico, parte de críticas de Aristóteles, Brougére (1998), Ariès (1981), entre outros. Na interpretação de Brougére sobre Aristóteles, há a análise de ser o jogo um relaxamento, divertimento, descanso e resgate de energias para as atividades humanas sérias, já os romanos, concebiam o jogo como atividade carregada de sentidos, transformando- o por um lado, num espetáculo, numa simulação do real, que arrebatava multidões, por outro lado, era visto como um valioso meio de exercitação de conhecimentos, habilidade e atitudes, isento de provocar consequências para a realidade. Pensando na análise de Brougére referente à concepção dos romanos, consigo ver muito do fazemos durante a prática. Vejo que há muito influenciando os atores durante o exercício, que sem pensar, estimula o corpo que está cansando- se continuamente, e a mente, que gera estratégias para alcançar determinados objetivos e enganar o cansaço do corpo. É uma certa linha entre dois pólos que o leva a continuar correndo e brincando mesmo estando cansado. 
Bettelheim (1988, p.157) menciona o fato de separação entre criança e adulto, no mundo do jogo estar ralacionado às mudanças estruturais que ocorreram na sociedade, o que remeteu uma grande perda, pois o compartilhamento do mesmo tipo de atividade significativa entre ambos, estreitam os vínculos, levando a observar e aprender um com o outro. E, isso é incrível, pois me remeteu ao meu estágio, aonde tive de brincar também com as crianças e assim, houve um maior momento de simpatia entre ambas as partes e muita interação. De algum modo, parecemos entrar no mundo da criança e ver como ela realmente vê. 
Apesar de não ter encontrado o ultimo vídeo, fizemos a brincadeira de polícia e ladrão. Essa aula, posso menciona-la como a aula da VERDADE,- pois nesse dia fomos testados não apenas por Arruda (minha visão sobre a situação), mas por nós mesmos frente à concepção de criação de espetáculo. Pode- se dizer que finalmente estamos percebendo que não estamos num lugar em que o roteiro explica- se por si só. Aqui tudo depende da contribuição de cada um, Barba não tinha algo pronto que não viesse em grande parte do grande trabalho de todos na companhia, muito menos Jerzy Grotwski, Refizemos um recorte com base no jogo de pique- bandeira por várias vezes seguidas. Mas, de algum modo a estrutura não se encaixava. Vimo- nos desestimulados e decepcionados frente ao desconhecido. Foi um momento de extrema frustração. Particularmente, eu estava adorando fazer parte daquele momento, de pensar e propor à direção, isso é algo único pra mim, realmente quero poder sugar todo o tutano da terra, para aprender bastante. Mas, nem todos compreenderam, e confesso que eu também me vi perdida inúmeras vezes. Mas queria achar algo assim como muitos. Acredito que a frustração e o medo caminham paralelamente com o ator e o diretor...
Recentemente, debati junto ao grupo de pesquisa de Iniciação Científica, o texto de PEIXOTO, e sua análise sobre o Corpo e o Devir- Monstro. E, ironicamente esse monstro no qual debatemos muito, apareceu em minha análise sobre esse momento. Nós estamos num estado de medo frente ao monstro, no momento tudo o que é referente ao mundo de alice nos gera uma ânsia e ao mesmo tempo um desconforto. Segundo José Gil, o monstro é, ao mesmo tempo, absolutamente transparente e totalmente opaco. Quando o encaramos, nosso olhar fica paralisado e absorto em um fascínio sem fim. No ponto de vista de reação ao novo, Alice estivera em nossas mentes como um monstro em seu estado zero, mas, a partir do momento em que tivemos de cavar a fundo dentro desse mundo, não apenas no mundo de alice, mas no mundo de repetições e experimentações de inúmeras propostas em busca da poética, o livro acabou por tornar- se esse monstro.  O monstro de Alice tem nos transformado aos poucos sem se quer percebermos, como por exemplo, o fato de que dessa vez chegamos num ponto limite em que foi necessário discutirmos sobre as ações de ambas as partes, conflitos com colegas, bagunça e medo... medo de não sermos capazes de continuar no curso, medo de não ser aceito pelos outros, medo de deixar a voz falar,... Fomos afetados! e estamos num estado de metamorfose. 


O vídeo abaixo não é referente a jogos, mas poderia servir como base para regras em jogos, como movimentos de alices. Por exemplo, num diálogo as reações só poderiam ser feitas com base em biomecânica, acredito que não apenas nos faz pesquisar mais sobre o procedimento como também nos auxilia a encontras ações corporais de uma alice diferenciada. Eu realmente acho essa técnica linda!

O vídeo abaixo é do Pato Fu, Fernanda Takai me parace uma garota que vive num mundo paralelo.


Ovelha Negra é perfeita!



"WHO I AM"



REFERÊNCIAS

LIMA, José Milton de. O Jogo Como Recurso Pedagógico no Contexto Educacional. ed. Cultura Acadêmica, SP, 2008.
PEIXOTO, Carlos Augusto Júnior. O Corpo e o devir- monstro.Lugar Comum. 2009.

domingo, 21 de agosto de 2016

Reconstruindo abordagens

Interpretação I

Proposta para encenação: Alice no País das Maravilhas

Tendo em conta essa proposta, iniciamos várias pesquisas, não apenas teóricas como também práticas a fim de compor essa construção de cenas. Alice no País das Maravilhas possui várias adaptações e inclusive interpretações direcionadas para diversos fins. Entre as várias interpretações, conhecemos a de que Alice na verdade era uma paciente num sanatório. E, que por sofrer de esquizofrenia, acabou por ser internada, criando assim um mundo à parte para fugir de todo o sofrimento que passara nas mãos dos médicos e enfermeiros. Mas, a história é retratada por Charles Lutwidge Dodgson, com pseudônimo de Lewis Carrol, que cria uma história nonsense e atemporal, pois mesmo contendo vários trocadilhos próprios do período no qual se baseia, consegue manter um diálogo criativo recheado de abordagens para discussões infantojuvenil. O fato é que essa obra possui uma sequência de fatores que mesmo sendo criados numa visão de estranhamento frente ao que conhecemos como impossível ou sem sentido, acaba recebendo explicações inteiramente racionais. De acordo com (....) o leitor modelo de Todorov é aquele que compreende a existência do mistério (sobrenatural) que não pode ser explicado pelas leis que regem o seu mundo real, nesta situação ele terá que optar ou por acreditar nesse acontecimento que não lhe é familiar (maravilhoso), ou convencer- se de que tudo não passou de ilusão (estranho). O que enfatiza que o fantástico advém desta indecisão. Essa análise me remete ao teatro do absurdo, em que é feita a observação de que o absurdo na verdade pode ter mais sentido do que imaginamos. Claro que há um certo paradoxo, como por exemplo, COUTO, à respeito do teatro do absurdo enfatiza que, em relação ao período em que surge o teatro do absurdo, no pós- segunda guerra mundial, Martin Esslin surge com essa nomeação de absurdo, em que há a instauração da linguagem que fala a língua da realidade dos homens numa nova estrutura dramática. Apesar do paradoxo encontrado entre Alice e o tetro do absurdo, ao colocar o estranho e sem sentido como hipótese de aceitação; e, a realidade crua do homem no pós- guerra, há a relação entre a aceitação do sem sentido em ambas as partes e decodificação desses “nonsense”.
Pode- se observar por exemplo, na análise de Couto em relação à duas peças do teatro do absurdo: As Cadeiras e Fim de Jogo, a essência do que os autores Becket e Ionesno queriam tratar, a solidão humana, o vazio. E, ao que concerne Alice, há a solidão humana, mas o vazio é abandonado pela hipótese de um mundo utópico.

O Rinoceronte por Ionesco: Além do retrato da obra, fixei- me também no cenário com galhos, que pode servir como base para as buscas do ambiente da floresta.

Verifica- se também, numa contextualização sobre a prática com ênfase nas pesquisas do livro, a imensa compatibilidade desse mundo abordado a partir da biomecânica de Meyerhold, dos atores super marionetes, bonecos vivos. O estranhamento é tratado o tempo inteiro e pode ser comparado tanto ao teatro de super marionetes como também com o teatro performativo, como exemplo disso, coloquei em textos anteriores a relação com o teatro performativo e híbrido de Jan Fabre, uma análise crítica sugerido pelo grupo em que participei sobre uma Alice aliciada, Alice afetada, o que explica por si só o fato de que Carrol contribui com um texto atemporal.

biomecânica gerando efeito extra- cotidiano

Exacerbação dos movimentos

O excesso causa um efeito boneco vivo

O corpo dilata, percebe- se muitos desdobramentos

Durante o processo de desconstrução e reconstrução diante da criação, partimos da proposta de Arruda, que enfatiza sua pesquisa sobre a repetição da escrita do texto como processo de memorização, sobre o mesmo, François Khan também o descreve como um procedimento para a assimilação do sentido das palavras. Assim, segue- se a sequência de  apropriação do texto dando seguimento à composição da fala. Arruda enfatiza que nessa sequencia há essa apropriação do texto, que é repetida vezes seguidas até que se torne algo automático. Durante essa repetição formam- se fissuras em que o corpo encaixa e a fala interna surge depois com uma extrema potência. Assim, a fala interna vem antes da fala externa. Segundo Khan, o todo o tempo que você passa inicialmente só para memorizar o texto com um sentido, é fundamental, pois todo esse momento acumulam- se várias coisas que estão lá, mas que estão agora imprecisas e pedem para revelar- se. É bom manter por um certo tempo, pois depois a ação tende a sair com mais energia. Arruda diz que esse processo permite a manipulação do texto. O que me remeteu uma de suas aulas, referentes à partitura corporal e a repetição, também apresentada como um procedimento primordial na biomecânica, nessa aula desenvolvemos uma partitura corporal e a seqüenciamos em números, repetindo- a inúmeras vezes, o suficiente para que o corpo lembre automaticamente e assim possa posteriormente manipular entre a minimização dos movimentos ou mesmo a dilatação, levando ao extra cotidiano.


Curiosamente esse procedimento me fez, tanto no texto como na partitura corporal, fez- me abordar a interpretação de uma nova forma. Vejo como um imenso desenvolvimento desde o início do curso. O fato de que há uma fala interna e um acúmulo de sentidos que estão prestes a sair nos faz pensar a própria encenação de um modo distinto. Não é como simplesmente decorar ou escutar minha própria fala inúmeras vezes, mas sim como um impulso, algo que lembra um pouco as palavras de Barba e Savarase ao falar sobre a arte do ator, sobre a explosão, sobre a ponte formar o limiar entre o exagero do cotidiano ou a minimização do mesmo. Creio que essa proposta torna nosso trabalho como uma verdadeira missão, por utilizar- se da paciência, da reflexão, da memória e do contínuo treino. Lembro- me de que meu antigo orientador de metodologia do ensino prof. Dr. Amarildo Meneses (período em que cursava física) costumava pedir que independente de qualquer coisa, eu deveria escrever. O mesmo informava que a escrita tinha a capacidade de nos fazer trabalhar em conjunto com a leitura, mas a escrita nos levava ao treino. E, agora, numa área totalmente diferente, tenho a oportunidade de lembrar e aplicar novamente essa observação. Comentei com Arruda a incrível capacidade que a escrita gera enquanto estamos praticando a repetição como assimilação: inúmeros sentidos e recortes de cenas nos invadem, ficam pulsando em nossa mente. Segundo Arruda, há uma pré- organização da cena, que vai se criando através desse processo do cruzamento entre a fala interna e a fala externa- um pré- jogo. O pré- jogo é outro texto que o ator cria, que contém o texto do ator encaixado. Ele resulta de associações particulares, que surgem enquanto o ator escreve, ou ainda por encontro: quando olha outros materiais e subitamente associa o texto dado. (p. 91- 92, 2013) O que foi meu caso enquanto praticava a escrita. Revendo a aplicação de jogo na cena “O chá maluco”, apresentado pelo meu grupo, percebi por exemplo que houve momentos em que conseguimos colocar essa prática, ainda que um pouco crua, devido ao conhecimento prévio desse tipo de abordagem, mas ainda assim há indícios como o momento em que surge o diálogo:
Alice: Desculpe, eu não sabia. Ninguém me falou que a mesa tinha dono.
Lebre: Por acaso você se sentou na mesa sem ser convidada.


Pouco tempo atrás eu ainda lidava com meu imenso déficit de atenção, levando- me a buscar dispositivos que me auxiliassem no aumento de concentração. Cheguei à algumas conclusões “pessoais”: Músicas que conheço me tiram completamente o foco do que devo fazer, assim passei a escolher estilos completamente diferenciados como por exemplo músicas alemães ou italianas; nem todos os textos que lemos são convidativos, principalmente quando estamos acostumados com um tipo de leitura, o que nos leva a sair de nossas zonas de conforto. Porém, não há como escapar disso, a leitura é voz alta em paralelo com a leitura mental deixam o texto mais visível aos meus pensamentos. E, concentração, acredito que seja algo primordial, na pesquisa de Aleixo, ao falar sobre o “texto e memória: encontro com François Khan”, há um momento em que a reflexão é enfatizada. A reflexão é produto de concentração. A concentração me faz atingir muitos objetivos que busco constantemente, como por exemplo, a minha visão de rainha de copas, cujo vídeo apresentei anteriormente, no discurso com ênfase em corpo. Lembro- me de ter chegado ao êxtase partindo do princípio de transformação, tendo em conta as obras de Jan Fabre.
De acordo com Khan, a questão não é a escrita- o que talvez pudesse ser explorado por outra abordagem, mas exercitar uma nova maneira de visualizar, incorporar, de assimilar os sentidos das palavras, e, assim possibilitar o acontecimento do texto no ato de falar. Na prática, é como se parássemos o tempo para dedicar total atenção, foco, de escuta, sentidos para o simples ato de escrever e pensar o texto. (p. 87, 2014)
Esse esclarecimento remeteu- me à outra abordagem, frente a anàlise de Souza, sobre a paisagem sonora, no aspecto em que há a reflexão do corpo, ele torna- se uma entrada de absorção de todos os sentidos. Murray Schaefer nos convida a prestar atenção nos sons do ambiente e do espaço, um exercício contínuo de captação e registro das sensações provocadas pelos sons. Porém com algumas diferenças. Souza e Schaefer mencionam o momento de parar e refletir, enquanto que na memória através da escrita por repetição, o corpo continua sensível às provocações, ele torna- se uma máquina que absorve vários sentidos, vários recortes ao mesmo tempo em que se concentra na escrita. Há um corpo vivo e pronto a explodir.

Att.: Sami Cassiano


REFERÊNCIAS


ALEIXO, Fernando Manoel. Texto, Memória e Fala: Um Encontro com François Khan. Urdimento, vol. 2, 2014.
ANDRADE, Jéssica Tarcísia Benício de. Alice no País das Maravilhas: Entre o Fantástico, o Estranho e o Maravilhoso. Guarabira- PB, 2014.
ARRUDA, Rejane Kasting. A Incorporação do Pré- Jogo: Tentativas de Formalização de um Procedimento Estranho. Pitágoras, USP, Vol. 5, 2013.
BARBA, Eugenio/ SAVARASE, Nicolas. A Arte Secreta do Ator. Ed. Hucttec- UNICAMP, 1995.
COUTO, Lara. O Teatro do Absurdo: Parte I. 2015
SOUZA, Cristiane dos Santos. Reflexões Sobre o Hibridismo Vocal em Performance. Urdimento, vol. 1, 2014.




domingo, 14 de agosto de 2016

O Som Expressa

ÊNFASE EM VOZ II

"Era manteiga da melhor qualidade"


A técnica de sons por livre associação como interpretação do concreto e do abstrato tem nos sido muito eficiente. Pude perceber que a interpretação gera composição na voz. Tendo em conta o método utilizado:
1. Aquecimento da voz e do corpo: 
Os atores ficam em horizontal na posição zero, Ao comando de R. Arruda, saímos de nossas posições iniciais e vamos para o lugar cujo olhar foi direcionado anteriormente. A partir de então, iniciamos o espreguiçar corporal, técnica utilizada para deixar o corpo mais livre, à vontade e suscetível para o trabalho de ruídos. As vibrações começam a surgir a partir do bocejo. Princípios básicos são retomados nesse momento, como por exemplo, a ideia de "Paisagem Sonora" (soundscape), inicialmente pensada por R. Schafer- sobre o momento em que paramos para prestar atenção nos sons do ambiente e do espaço. Sugiro inclusive enfatizar esse procedimento como primordial para o desenvolvimento de captação e identificação dos ruidos que nos cercam constantemente, mas que passam despercebidos. Há um estudo dentro da própria filosofia em que entra- se em questão a reflexão sobre o quanto deixamo- nos levar pela rotina, o que restringe a capacidade de desenvolvimento da mente sobre o próprio pensar. Exemplo prático desse teorema é o trânsito. Suponhamos a seguinte situação, você encontra- se nesse momento no centro da cidade, no horário de congestionamento. Todo o barulho parece ensurdecedor, os carros buzinam, as pessoas se concentram nas paradas em massa para chegar o mais breve possível em suas casas, cada parada de ônibus e cada mudança de sinal gera um tipo de comportamento nas pessoas. Esses comportamentos, imperceptíveis frente à angustia e pressa do momento nos remetem à ações corporais. 

Ações por influência da paisagem sonora.
Observe na imagem o comportamento e expressões de cada pessoa enquanto esperam pelo ônibus. Quando exercemos o treinamento por mimese, buscamos as pequenas ações, alguns vícios corporais. Mas por vezes deixamos escapar algo muito interessante que acontece em paralelo, que é a paisagem sonora. Principalmente se você se encontrar em meio ao caos, situação durante à espera do ônibus. O você consegue pensar referente ao som da fila que fazemos no caixa, para efetuar pagamentos? Ou no som do silêncio? Sabe, quando acordamos no meio da madrugada, está tudo escuro e mesmo os animais dormem, mesmo os cachorros resolvem silenciar- se. Tudo o que se escuta é o som do silêncio. E, se você já o escutou, sabe o quanto o seu barulho pode ser ensurdecedor. 
Há vários sons em contraposição gerando uma imensidão de ruídos. Encontram- se então nesse momento, duas hipóteses, a reação à paisagem sonora e o corpo- susceptível, gerando a ação corporal resultante. Se pensarmos a partir da concepção de P. Bausch sobre o corpo- imensidão, pode- se colocar como repertórios que se encaixam: corpo- susceptível à paisagem sonora. Como denotado na imagem acima. De acordo com R. Torralba, em análise ao corpo- imensidão de P. Baush, diz- se que a performance é iniciada como num ritual, mas para tanto, é necessária a postura de quem escuta com toda pele os movimentos do mundo, postura de um corpo que aguarda e que se cria num intervalo entre o movimento e o pré- movimento e entre o movimento e o movimento movendo. Assim, voltamo- nos para a próxima situação. Tendo em conta o corpo susceptível à paisagem sonora em diálogo com o corpo- imensidão diante da técnica de desdobramentos corporais que realizamos no início do aquecimento, em conjunto com o ruído, encontramos uma ação e reação da voz em  diálogo com o corpo. O Corpo move, horas se dilata e horas se contrai formando posições abstratas e assim começam a fluir as vibrações sonoras que cada movimento pode proporcionar. Cada desdobramento gera um conjunto de tonicidade, frequência e notas diferentes. 

2. O Som por livre associação:  
Nesse momento, cada um escolheu uma palavra como livre associação de sons. Após o sorteio, em grande roda e de costas uns para os outros, inciamos as associações. Aparaceram sons e apareceram ruídos, gerando a partir dos mesmos palavras que remetiam àquele conjunto de tonicidade, frequência e notas. Após o enunciador falar, o grupo inteiro repetia sua composição vocal. 
Nós temos os sons e temos a voz, o som é modificado de acordo com os fatores históricos que nos permeiam, enquanto a voz torna- se diretamente ligada ao som, ou seja, pode agir como um reflexo dos ruídos formados por fatores- histórico- culturais diversos. Formando aos poucos os aspectos de vozes híbridas. Isso porque, de acordo com C. Souza, a voz advinda de cada palavra, liga- se à sons que possibilitam desdobramentos, lembrando que por ser associada ao sujeito enunciador, revela imbricações culturais construídas nas relações com outros sujeitos e com o ambiente.

3. Num contexto geral, disse- me: Acorde Alice!: (Gosto, Critico, Sugiro)

O fato de Alice no País das Maravilhas ter sido escolhido como encenação para esse período tem gerado um diferencial significativo, particularmente falando, em todos na turma. Gosto dos procedimentos diferenciados utilizados no decorrer dos encontros. Sinto que essa escolha gerou uma certa busca por identidade. Perguntas sobre o que estou fazendo nesse curso começaram a surgir, questionamentos sobre falta de pesquisa pessoal também. Critico a falta de entendimento, por medo de alguns colegas serem mal interpretados. Às vezes sinto- me um pouco incomodada, não apenas comigo mesma- quando vejo que não fiz bem algo por não ter me empenhado melhor ou por não ter entendido a proposição de alguns exercícios, por vezes adoeço e isso me tira um pouco a concentração, infelizmente as doenças crônicas vem junto no pacote desde o nascimento; mas, também por alguns amigos que parecem levar o curso com a barriga, brincando o tempo inteiro, e não apenas deixando de prestar atenção no que o docente explica, sendo mal educado, como também atrapalhando os colegas que estão buscando aprender. Creio que já passamos da fase de ensino médio, assim como foi mencionado por vários professores em sala de aula. Tudo tem limite. O problema disso tudo é o fato de que gostamos dessas pessoas e lhe queremos o bem, então quando lhe fazemos críticas, deveria ser para lhe servir bem e gerar o incômodo suficiente para procurar melhorar até para não atrapalhar o colega. Algumas perguntas, sinto que são desnecessárias, como por exemplo, o fato de estar num curso de artes cênicas, e perguntar ao professor se é para fazer uma leitura completa de um livro no qual estamos trabalhando seriamente para fazer uma encenação. Outra situação é você saber que nessa área, reavaliamos nossas concepções e medo. Creio que o ator viva numa batalha incessante de lidar com o medo, com o difícil, com imensos obstáculos histórico- sociais- culturais e toda essa gama de problemas proporcionados pela área e mesmo pelo receio de se expôr e gerar críticas. De fato, não é fácil. Mas, assim como minhas doenças crônicas, vejo que esses fatores também estão inclusos no pacote. 
Sugiro nos desafiarmos mais, que essa gama de pensamentos não se tornem negativos, mas sim motivacionais para a busca dessa identidade. Falo isso sem me pôr acima de qualquer pessoa, falo como uma amiga que se preocupa com seus amigos. Um colega chega e me diz que nunca entendeu nada mas que inventou algumas coisas para não tirar nota ruim, ao meu ver isso é medo, falta de comprometimento e até um desrespeito para os teatrólogos que passaram anos pesquisando sobre conceitos, procedimentos e técnicas. Se você não sabe: busque! Questione! Leia! Pratique! Peça ajuda ao colega para que possa ter abordagens diferentes, podendo até ser mais esclarecedor. Um amigo chegou comigo e falou, vem cá, me diz qual é o seu segredo? Você está se saindo de tal maneira... Vou falar algo que cheguei a conversar com meu querido amigo e marido: O que devo fazer? Devo estudar e dar meu melhor em tudo? Pois esse curso é tudo pra mim, fora esse curso o que eu sou? quem eu sou? Apenas a Samires,... Mas, também tenho receio de me sair bem em algo e gerar conflitos, como vi com alguns de meus colegas, não quero que meus amigos se afastem... E, meu marido me disse que confia em mim e que sabe que independente de qualquer coisa, buscarei sempre me superar e que infelizmente eu não tenho muita alternativa, pois preciso estudar e dar meu melhor, os verdadeiros amigos lhe farão críticas construtivas, lhe apoiaram mediante suas conquistas e lhe escutarão sempre que necessitar... Para minha família e meu marido eu sou alguém de quem eles se orgulham por não desistir, apesar de tantos obstáculos. E, eu vejo neles e em mim o reflexo de alguém que não pode desistir. De alguém que deve correr atrás de seu sonho. Por vezes sinto- me só, e tenho até a impressão de que tudo pode desmoronar, isso porque nunca fui uma garota de falar sem parar, como minha irmã mais velha, eu ficava impressionada ao ver como ela conseguia fazer amizades tão facilmente, mas eu sempre tive assuntos limitados, por ser um pouco mais fechada e medrosa (tempo em que minha auto estima não existia de forma alguma, por ser obesa), as vezes sinto ter traços orientais muito fortes relacionados ao estilo tradicional, porque abaixo minha cabeça sem pensar duas vezes, porque sinto forte em mim o dever de honrar minha família gerando bons frutos, porque sinto a necessidade de respeitar as pessoas acima de mim, mesmo quando na verdade eu poderia falar mais,...sei que devo estudar e lutar para conseguir chegar o mais perto possível de meus sonhos,... Isso é incrível não é? Eu quase não tive contato com meu avô e bisavô paterno, mas sinto como se eles fossem extremamente próximos a mim. Então, creio que pude explicar o que faço: Primeiramente esse curso não é algo como uma brincadeira, mas sim a grande chance e talvez única chance de conseguir realizar meus humildes sonhos de continuar no palco fazendo o que amo, a arte. Segundo, eu não tenho emprego, o que me deixa numa dívida eterna de comprometimento com meu projeto e com meus estudos. Terceiro: Treinamento, pois leio os artigos e vejo vídeos sobre os grupos, sobre as companhias que adoraria fazer parte e vejo um árduo treinamento de todos os componentes. Minhas inspirações, Stanislavski, E. Barba, Pina Bausch, Jan Fabre, O Grupo de Pesquisa LUME, e tantos mais, sem deixar de mencionar R. Arruda, não é tentar ser aluno querido, eu sinceramente não penso dessa forma porque me sinto incapaz de ser 100% comunicativa e delicada para chamar esse tipo de comentário. Mas sim buscar superações através de nossas inspirações, essas pessoas me fazem ver Arte e me fazem querer fazer também. Então para meu amigo que disse que tem gente com um dom nato, eu não conheço isso em mim como um dom nato, mas sim como um processo em construção, em todos os alunos. 

Experimento em 10/08/2016
Cena: Chá Maluco
Grupo: 
Alberto, Matheus ( Chapeleiros)
Angelo Vitor/ Kelly Sousa (Alices)
Caio Paranagua/ Sami Cassiano ( Lebres de Março)
Ausência de nosso caxinguelê fofo (Ananda) e Eduesley
A dinâmica do grupo no qual participei foi muito boa, na verdade fiquei muito feliz com meu trabalho, porque na noite anterior, enquanto estávamos efetuando a pesquisa das cenas e exercendo o método da repetição como apropriação na cena escolhida, o que ajudava a fluir melhor a palavra, sem esforço, eu me encontrava super concentrada, porque minha rinite estava muito forte. Apesar de minha concentração, parecia que cada levantada de cabeça que eu dava, exercia um giro ao redor da terra e voltava.
Eu particularmente admiro muito a amizade entre Matheus, Caio, Ângelo e Ananda. Pois todos parecem estar sempre numa vibe muito boa. Parecem não precisar de muito esforço nas aulas de Jogos, pois cada palavra flui naturalmente. E, dessa vez tive a oportunidade de fazer parte desse grupo. Durante a aula, lhes mostrei alguns recortes de cenas que havia feito de aulas passadas. Principalmente das cenas de Barra Bandeira, em que num dos jogos, Ananda fica na frente dos integrantes para que não ultrapassem. E, depois todos se juntam, é como se eu estivesse vendo um recorte de cena do chá maluco. Decidimos deixar como ponto a ser acrescentado, caso o trabalho foi em grupo. Já em casa, infelizmente passei muito mal, o que comprometeu a prática de repetição da cena, acontece que eu já havia feito esse procedimento anteriormente por puro interesse mesmo. Então conseguia me lembrar da maior parte do que ocorrera no chá. Eu fui virgem para essa aula, o que peguei foram apenas espasmos que coelhos e gatos costumam ter quando alguma parte de seu corpo coça, e criei a mania de tremer a mão perto da orelha, enfatizando a mexida nervosa do relógio.  Também tentei deixar meu pulso torcido para trás com os braços flexionados. Não me sinto a melhor pessoa em jogos, mas confesso que, mesmo doente, ultimamente tenho criado um bolha ao meu redor chamada de momento de extravasar, aonde me libero para brincar, acho até que isso tem me permitido falar mais com meus amigos. Fiquei um pouco decepcionada com atitudes de meu colega Alberto, porque quando todos criamos as regras para brincar, ele simplesmente chegou e disse que faria sozinho porque queria mostrar algo meio que "melhor" à parte. Simplesmente saindo sem dar quaisquer outras satisfações. Mas, por algum motivo desconhecido o chamei e disse que aquilo parecia um ato de total egoísmo, que aquilo não se tratava de chegar com o único intuito de mostrar um solo, nem sempre se trata de uma única pessoa. Nesse momento todos nós vimos um grupo, independente de nossas afinidades... Acho que a proposta em grupo nos deixa abertos para trabalhar a criatividade e fazer questionamentos sobre. Temos tantas pessoas, o que fazer para que todos participem? Que regras de jogo podemos criar para que todos consigam aproveitar o momento e ao mesmo tempo possam ter as regras em mente? Sabe, ... nem sempre se trata de solo,.. o Alberto é um excelente aluno. Mas talvez por ter um alter ego, acaba se perdendo em seu próprio pensamento. Mesmo nas perguntas, que as vezes não possuem nenhum sentido, creio que se ele se desse a chance de primeiro escutar e refletir, poderia se questionar e elaborar perguntas mais coerentes. É como se ele soubesse de tudo isso mas mesmo assim insistisse,... eu odeio quando as pessoas o cortam, pra mim é como um bulling disfarçado, mas ele também não coopera muito para que ajam mudanças positivas.
A outra pessoa com quem me decepcionei novamente foi meu anjo (Â). Eu o tenho em meu coração. Mas, poxa,... na apresentação ele simplesmente chegou informando que não havia lido nada,... ok,.. depois fizemos uma nova apresentação com uma nova proposta e ele novamente disse não ter lido. Algumas coisas não dependem só da força que nossos amigos nos dão. Mas dependem principalmente de nossa motivação para trazer boas mudanças. A lição que tirei dessas situações é que num trabalho em grupo, todos devem se propor a dar o seu melhor, se meu amigo que trabalha ainda assim é capaz de ler um texto, então porque eu não conseguirei? E, a outra é que, devemos ter humildade suficiente para nos deixar guiar também pelas concepções de nossos amigos. Nem sempre a nossa palavra é a que vale.
O que dizer sobre minha interação com Caio Paranagua? O Caio é um ser apaixonante! Creio que qualquer pessoa possa se sentir muito a vontade trabalhando ao seu lado. Isso porque ele consegue ter percepção, ideias, sugestões, mas também sabe ouvir. Eu tenho certeza que poderemos escutar durante muito tempo esse nome. Pois há um enquadramento interno nele que não sei explicar ao certo. Podemos ver, principalmente em jogos, seu corpo pulsar, isso porque as palavras fluem, mas as ações também. Parece haver uma carta na manga para cada situação. Infelizmente não encontrei o vídeo de voz, no qual participamos também no mesmo grupo... A associação de som feita por ele foi pareceu na medida certa, uma voz de pessoa comendo: "HUmmm! Não tem,.." É como se ele estivesse comendo pipoca ao meu lado, assistindo futebol americano. O fato de que o mesmo tem ultrapassado suas limitações, como por exemplo nas aulas de corpo, mostra que tudo depende do quanto você quer algo e do quanto é capaz de lutar para conseguir.
Segue abaixo, nossa cena de Jogos:


Obs: Percebi mais enquadramento interno e muita interação entre mim o personagem.


A fala interna que criei foi o fato de que logo logo o tempo passaria. Surgiu o momento em que Matheus falou sobre o tempo e iniciei um tic sobre tic tac falho, mas por estar num colapso nervoso próprio da Lebre, acabei deixando fluir mais o tic tic. Vendo esse recorte, penso que a atitude de Caio foi primordial, ao me empurrar. Depois do jogo chegamos a sugerir esse diálogo do coelho com a própria sombra. O que denota um pouco de loucura e brincadeira ao mesmo tempo. Por ser um coelho, fiz de meus pés as minhas patas e Caio pediu para apropriar- se das ações, por vezes nossas patas ficavam com espasmos, a caída que dei, com as pernas para cima, foi referente há um programa antigo que vi sobre os coelhos quando vão cruzar. Toda vez que o coelho chega em seu, digamos assim - êxtase- ele se treme e cai desmaiado com as patas duras, o que é extremamente engraçado quando se vê no vídeo verdadeiro. Levei Jarra e copo com o intuito de colocar um pouco do teatro performático de P. Bausch. Logo no início sugeri ao grupo um pouco da repetição de partitura como um meio de abordar um pouco do teatro pós- dramático apresentado pela mesma. Durante o tempo de 09:32 da performance, a bailarina inicia uma sequência de selinhos no rapaz. No tempo 11:16, o rapaz lhe serve uma taça, mas torna-se vários objetos ao mesmo tempo, como por exemplo, o fato de que ela lhe põe o casaco ao redor e depois senta- se no colo do mesmo. Me remeteu à cena que fizemos de objetos vivos, para a apresentação do "Sente- se quem puder". No tempo 13:18 imaginei um jogo de imitações como espelho entre duas Alices, que depois se aborrecem e tentam corrigir uma a outra. No tempo 20:25, o bailarino lhe leva champagne e sobe na cadeira enquanto o mesmo é derramado, devido à altura, o champagne cai quase todo na roupa da bailarina, que fica apenas olhando fixa e estupefata. Seria muito interessante uma apropriação dessa cena, quando o chapeleiro lhe oferece vinho, mas na verdade é chá.


26/07/2016

Apesar de termos criado fala interna nesse experimento, pelo menos me analisando, não me senti com algo forte suficiente que pudesse gerar potência diante da associação da voz. Meu corpo perdeu o equilíbrio no início e isso tirou toda a concentração que havia acabado de criar.



ESTÁGIO I
Como havia mencionado, diante de uma das propostas estavam a confecção de máscaras. Mesmo sabendo que a escola disponibiliza muitos materiais, também levei algumas folhas de E.V.A., pinceis e esponjas. Ao chegar na escola, todos já encontravam- se entusiasmados com a proposta. Percebi que trabalhar no momento com a criatividade em grupo pode ser uma sugestão mais coerente. Isso porque vejo muita ansiedade naquelas crianças. Quando eles param para fazer algo em grupo e não como competição, há mais interação e foco. Os meios que tenho procurado são para deixa- los mais descontraídos e dinâmicos. Apesar disso, alguns alunos ainda tem muita repulsa. Parece ser um receio de ter que gostar da aula. No final da aula a sala estava uma bagunça, com tinta para todos os lados. Mas, todos começaram a organiza- la, limpando o chão e as mesas. Percebo na escola uma metodologia de ensino que busca a ajuda ao próximo, e acima de tudo busca alimenta- los com brincadeiras próprias de infância.










As máscaras ficaram lindas. Há algo próprio da criatividade da criança que gera elementos de estranhamentos muito lindos. Fiquei de pegar as imagens com um dos professores para postar aqui. Em breve elas já estarão inseridas no blog. O propósito dessa próxima aula é finalizar as máscaras e iniciar O procedimento de Reflexo do colega, todos com suas máscaras. O motivo é direcionado ao momento de extravasar. Geralmente as máscaras deixam as pessoas mais confortáveis, então partirei dessa concepção e dependendo do resultado, serão criadas estratégias. Não será feito algo que tire a brincadeira, tudo terá alguma brincadeira em ênfase, para que assim possamos ver os recortes que irão surgindo e a diferença entre a concepção de um não- ator adolescente e um ator.

REFERÊNCIAS

SOUZA, Cristiane dos Santos. Reflexões Sobre o Hibridismo Vocal em Performance. Urdimento, Vol. 1, 2014.
TORRALBA, Ruth. O Corpo Imensidão de Pina Bausch: Dança- Teatro- Performance. UFF, 2015.


sábado, 6 de agosto de 2016

ALICE AFETADA

MIRACLES

Durante meu recesso não tive muito tempo para respirar fora dos horizontes de Artes Cênicas. Isso porque tenho corrido incessantemente atrás dos meus sonhos. Soube das inscrições para concorrer a bolsa de IC ( Iniciação Científica) e fiquei como uma louca pensando em vários tópicos que poderiam ser abordados numa pesquisa, mas esqueci de algo, para prosseguir necessita- se de um orientador. O que me desiludiu completamente porque todos os professores disponíveis já estavam com seus orientandos. Era tarde demais,... sem projeto,.. sem oportunidade e pior que isso, ter que lidar com o fato de que teria de arranjar um emprego que limitaria totalmente meus passos frente minha área. Em tempos de crise, quem somos nós para reclamarmos dos empregos? Pois é, mas lá estava eu, reclamando como uma criança, pensando em situações como, isso irá me limitar em conseguir iniciar um grupo de teatro ou conseguir meu espaço para estudar ou participar de grupos de leituras, pior, como farei o estágio obrigatório no próximo período?... como um ser humano tolo, simplesmente me deixei chorar por um longo tempo. Essa realidade de desemprego é pior quando nos encontramos longe de nossos pais. Mesmo com meu marido ao meu lado tentando ser o mais compreensível possível, sabemos que a compreensão, o choro e o amor não pagarão o aluguel, a comida e a renovação do curso no próximo mês.
Posso dizer que costumo ser positiva diante dos enigmas que a vida nos propõe, mas tem vezes que realmente pensamos, nossa! Não dá para dar um tempo de tanto problema... Não! Na verdade respire pois logo logo poderá surgir mais alguma coisa! 
E, eis que surgiu a oportunidade, recebi uma mensagem que me deu um propósito, uma reanimação inimaginável. Minha professora informou a possibilidade de me orientar alegando que mais propostas poderiam ser aceitas nesses período. Assim, deu- se início à correria contra o tempo, temos novo prazo, tenho que mostrar a proposta mais clara, tenho que desenvolver a proposta, independente dos problemas que foram surgindo durante essa elaboração, nunca me senti tão feliz desenvolvendo algo. Para falar a verdade, toda oportunidade que tem surgido, tenho segurado como minha vida, na qual não quero abrir mão de modo algum. (risos)
Durante esse tempo longe da Universidade me comprometi com duas coisas importantíssimas: O projeto e a proposta de formação de um grupo de teatro. Isso porque tenho me apropriado dos teatrólogos que me inspiram. Eu costumo falar da Diretora Anne Bolgart (sua posição sobre a importância de criar um grupo de atores com o mesmo propósito), de Jan Fabre (sua CIA, onde pode desenvolver seus conceitos diferenciados e voltados para o hibridismo performático), de Pina Bausch ( trabalha a performance com o conceito de corpo imensidão, costuma acrescentar elementos da natureza e parecer seguir fielmente o propósito do ator atingindo seu limite através do cansaço, como em suas performances "Cafe Muller"),  e E. Barba como pessoas que quanto mais conheço sobre seus trabalhos, mais me vislumbro. Mas, esses dias tenho me dado a chance de conhecer novas pesquisas, graças ao meu projeto. O que nos limita num trabalho também pode ampliar nossa mente (pesquisas de vários teóricos e seus trabalhos na área). A profa. Dra. Rejane Arruda, que atualmente é minha orientadora, também tem me servido como grande inspiração. Numa reunião lembro de ter lhe perguntado sobre a duração de seu sono por dia porque por vezes eu estava acordada ainda passando pela madrugada, lhe perguntava sobre assuntos diversos relacionados às aulas e a mesma estava ali para responder e então de manhã cedo lá estava ela novamente nos direcionando pelo grupo, e, ela me respondeu- acordo 7h e durmo 1h da manhã. Tudo bem, isso seria tranquilo para alguém que não tem muitas obrigações, mas, se tratando dessa pessoa, isso foi como um exemplo de que tenho que acordar para a vida e tirar a preguiça e tudo o mais de irrelevante totalmente fora do meu caminho, porque essa pessoa simplesmente não para durante o dia, e por vezes, também não para mesmo pela madrugada, ela tem uma imensidade de obrigações na universidade e não somente isso, mas seus grupos de pesquisa e apresentações das peças teatrais e mais organização do curso por ser a coordenadora e mais as aulas e a orientação em cima de cada das pesquisas de cada orientando, resumindo, não é fácil de forma alguma, e para mim além de não ser fácil, é inspirador.


A INSPIRAÇÃO

Iniciei as pesquisas do projeto, cujo tema é direcionado para o resgate de origens como dispositivo de memória para a arte performática, o que me possibilitará desenvolver o conceito de "Teia e suas Ramificações" com um grupo de atores voluntários. O conceito básico sobre a teia é o fato de que cada grupo cultural está interligado gerando indivíduos híbridos, indivíduos com características próprias resultantes de um grande entrelaçamento histórico- cultural advindo de suas raízes. Se andarmos por essa teia, temos a oportunidade de conhecer suas ramificações, ou seja, seus vários subgrupos, diversificados e cheios de história que podem contribuir para a memória do ator. Se o ator lembra, essa busca pela origem se torna memória, gerando força energética no indivíduo limpo de todas as resistências que o limitam. Apesar de ter selecionado atores, por ter iniciando recentemente meu estágio, acabei por ganhar uma oportunidade única. Durante a conversa com a pedagoga sobre as atividades dos alunos, um assunto completamente relevante quase passara despercebido,- os alunos tem um horário para a prática de "capoeira", ao escutar isso meus olhos brilharam, e antes que ela abordasse qualquer outro assunto, pedi a oportunidade de chegar mais cedo e participar do grupo, lhe dei uma base sobre minha ideia referente ao diálogo entre culturas e recebi um sim como resposta. Espero ansiosa para rever a capoeira e quem sabe trazer diálogos interessantíssimos através dos encontros para o grupo no laboratório.

CARÊNCIA

Conheci o grupo de alunos com quem irei trabalhar durante esse período. E, a primeira coisa que me veio à mente enquanto toda a criançada chegava me rodeando foi: Que curioso! As crianças pareciam me avaliar da cabeça aos pés. Imediatamente quebrei os olhares estranhos frente ao desconhecido com um imenso sorriso, iniciando um diálogo de apresentação. E, como me responderam?- Você veio do Japão? Porque seu olho é pequeno... Você chegou aqui há quanto tempo?
Parece que independente do que tente, há sempre um assunto relacionado à isso. Mas, aproveitei as perguntas engraçadas para gerar um diálogo positivo com toda a turma. Mesmo não nascendo no Japão, sendo brasileira e com mínimos traços de meu bisavô, fiz do útil ao agradável. Respondi palavras em japonês e deixei dúvidas contínuas sobre cardápios oriundos de lá. Pensando nessa reação, imaginei algo que seria interessante para se tentar no grupo de pesquisa- como se dialoga o olhar frente ao desconhecido? Isso pode gerar poética!
Formamos uma grande roda e perguntei o que eles conheciam sobre o teatro, se já haviam ido alguma vez, e o que entendiam sobre atuar?


A princípio todos pareciam recuar, mas então tomei partida falando sobre sobre reações, chamei um dos alunos e pedi que ele exercesse uma ação sobre mim, o que o deixou com receio, então entreguei meu braço e olhei para o outro lado, ele o empurrou e todos riram, no mesmo instante em que senti o empurrão, olhei assustada. E depois ri com todos, procedendo na explicação do que o colega acabara de fazer e sua importância no teatro. Ainda em roda, fizemos duas brincadeiras para descontrair, a primeira foi a de improviso de história, muito utilizada por nossa turma no início do curso com ênfase em jogos teatrais, mas diferente do que costumávamos fazer, a história de cada um parava numa determinada palavra e não numa sílaba da palavra, todos riam incessantemente. A segunda foi de reprodução de sons- utilizada recentemente na aula de voz, pela Profa. Arruda. Mas, diferente do procedimento que utilizamos, com papéis e palavras representando os sons, os deixei mais livres. Foi muito interessante perceber como nós interpretamos tudo ao redor de maneira tão diferente das crianças. Sons de ratos, sons agudos, sons de gatos e de chuva, apresentados por várias delas de maneiras distintas e criativas.
Alguns alunos apresentaram comportamentos um poucos agressivos, mas não a ponto de me deixar com qualquer receio, e sim a ponto de me fazer pensar, como posso tirar esse medo frente ao novo? como posso lhe mostrar a calma diante do caos? Quando estamos na escola, nossos olhares mudam completamente,... percebi que a rua em que a escola se localiza demonstra aspectos da realidade delas, um ambiente mais pesado. A escola é toda gradeada. Cada canto, cada janela. E, as crianças recebem ensino integral, o que significa que sua primeira casa e sua primeira família, é a escola. Conversando com um dos integrantes da atividades e brincadeiras feitas com os grupos, foi me informado que o objetivo é fazer com que elas saiam da realidade difícil que lhes cerca, a maioria delas são muito carentes, e isso é perceptível naqueles que mais se recusam a sorrir, a se deixar abrir e brincar com todos,... Na segunda aula, brincamos de mímica. Foram formados dois grupos, chamados de família. As regras eram:
Ambas as famílias dialogam sobre o que irão escolher para fazer a mímica;

  • Família A
  • Família B
  • Tira par ou ímpar
  • A família que ganhar escolhe quem começa;
  • Cada família tem direito a duas respostas
  • A família que perder tem que pagar uma prenda escolhida pela família adversária.
No começo todos pareciam concordar, mas quando a primeira família trapaceou, começaram as brigas;
Observações:
  • Diferenças por tamanho: Uma família era composta por crianças de estatura menor, porém com um componente a mais;
  • Diferenças por idade: Palavras mais fortes, como palavrões, já são utilizadas pelos mais velhos, o que intimida os mais novos; Os mais novos aproveitaram mais a brincadeira, criavam movimentos criativos para as escolhas e não pareciam ter o menos interesse em brigar; Três alunos se destacaram em comportamentos diferenciados, o que me leva a repensar as abordagens e brincadeiras, comportamentos como recusa a se juntar aos grupos, raiva, desafeto pareceram muito presentes, principalmente em um deles;
Como ainda estou montando o planejamento por aguardar a aprovação do projeto, estou fazendo aulas iniciais com o objetivo de ter mais diálogo e afeto com os alunos. Mas, depois dessa brincadeira, resolvi mudar de ordem algumas aplicações da oficina.
Sugestões:
  • Elaboração de máscaras em E.V.A;
  • Jogos em paralelo que não sejam necessariamente competitivos;
  • Brincadeira com cantigas;
  • Apresentação numa manhã com o Grupo Meninice;
  • Poesias;
Obs: Quando trabalhamos com crianças ou adolescentes, precisamos reavaliar toda nossa concepção sobre o que é direcionado às mesmas. 
 O que é ser um Maestro?

CORPO EM VOZ

Como mencionarei mais adiante vários dos aspectos importantíssimos que temos abordado nas aulas de voz, me atentarei nesse momento às performances que tem surgido constantemente junto à voz. A escolha de Alice como encenação para esse período foi um dos momentos mais felizes de toda minha vida. Isso porque a vejo como um clássico de desenhos infantis e filmes e infelizmente nunca tive a oportunidade de ver uma adaptação encenada no teatro, até agora. Contudo, dessa vez não sei espectadora e sim um dos personagens atuando.Iniciamos a aula de voz a todo vapor, e, um dos pontos que mais me chamaram a atenção foi o fato de que agora estamos trabalhando mais a voz e o corpo em conjunto. O alongamento inicial nos auxilia na busca de posições confortáveis que influenciam tanto na qualidade de frequência de voz, como nas notas e melodias criadas a partir das mesmas, advindas das interpretações dos sons. Posições que auxiliam na passagem do som foram comentadas, como por exemplo no caso de Lucas, que foi muito feliz ao falar de sua experiência em deixar o peito aberto e o corpo ereto, o que melhorou a saída dos sons. Algo muito interessante também foi mencionado por Dulce, que mencionou a dinâmica entre os atores totalmente diferente do que ocorreu no período passado, os atores tem se dado a chance de participar de grupos diferentes, o que gerou novas concepções, afinidades e criatividades. Eu fui uma das pessoas que mudei de grupo, que foi formado por mim, Dulce, Caio Paranaguá, Lorena, Thaís Lemos, Ângelo e Matheus. 
Durante nossa pesquisa de sons, que se deu a partir de:
  • Voz de trouxa (Samires);
  • Comendo Bolo (Ângelo);
  • Som de TV (Dulce);
  • Narração (Thais Lemos);
  • Voz de flor (Matheus);
  • Comendo pipoca (Caio Paranaguá); 
  • Treva (Lorena);
Acabou surgindo a necessidade de dialogar com o corpo, como por exemplo, no caso de Lorena, em que saltamos nosso corpo com as mãos se fincando ao chão, denotando à Treva e o grito surgiu: Dark!
Eu achei todos os grupos lindos, mas especificamente, escolheria o meu, pela harmonia de um coro. Pude ver uma fazer uma analogia ao filme de alice, relacionada ao exército da Rainha de Copas, uma chegada mais agressiva, com um coro de "Naipes das Trevas".

ALICE AFETADA

Foi solicitado que cada um de nós fizéssemos uma apropriação de uma das cenas de Alice para a elaboração de uma partitura, já tendo em conta personagens com os quais nos identificamos. Mas, me deparei numa imensa incógnita que vem me assombrando até nos sonhos. Após toda a alegria de poder encenar essa história, apareceu a frustração. Isso porque eu realmente gosto de quase todos os personagens, particularmente adoro o chapeleiro e a Lebre de Março, mas Alice representa pra mim algo impossível, totalmente além de meu alcance. Agoniada e numa busca constante, resolvi ver algumas vezes a adaptação que mais me atraiu:



Foi então que algo me pareceu peculiar, mas resolvi não me ater, a primeira coisa que apareceu foi, porque tenho que ser a rainha de copas? Ela tem semelhanças comigo, olhei ao redor todos meus objetos preferidos na cor vermelha, meu copo vermelho, meu travesseiro vermelho e comecei a ficar triste,.. porque não posso ser o chapeleiro? Ou a lebre, eu queria realmente ser a lebre de março... e por que não ser uma alice? Então liguei para minha mãe, como sempre costumo fazer se minha cabeça começa a virar pelo avesso, às vezes pareço ter um turbilhão de coisas dentro dela, o que me impede de organiza- la,... Falei chateada,.. sobre tudo, e, ela disse: tenta então o chapeleiro. Lhe cortei imediatamente, o chapeleiro é alguém que gosto tanto tanto,.. e lhe vi sendo interpretado por um de meus primeiros amores de cinema... como posso fazê- lo? Ele é alguém incrivelmente demais pra mim. Ela pediu que eu parasse um tempo para pensar,.. mas esse pensamento perdurou a noite inteira, a ponto de me fazer acordar levantar de madrugada para ao menos descrever no papel tudo o que surgia constantemente. Eu precisava dormir para acordar cedo. Coloquei as palavras no papel, imaginando que assim minha mente ficaria mais vazia,.. mas ocorreu- me totalmente o contrário, aparecia cada vez mais... como pude deixar isso tomar conta de mim desse jeito?
Quando consegui dormir, o tempo não foi nada bondoso,... poderia ser algo parecido como no filme- e então eu roubaria apenas algumas horas para ter um sono mais decente...
O celular despertou sem piedade e lá fui eu estudar, mas sabia que tinha de decidir aquilo. Mandei mensagem para meu marido, meu querido marido que tem tido sua paciência dobrada. "Ele me conhece". E, perguntei o que ele achava, mas obtive respostas parecidas com a mamãe, ele disse que eu não pareço Alice, mas seria uma Rainha de Copas perfeita. Então eu apenas lhe devolvi a mensagem de que não me sinto bem em ser ela, por que ser uma Rainha de Copas? Ela é má! Eu sou sonhadora,... por que não ser Alice? Voltei a assistir o filme e depois simplesmente passando novamente por meu estado de tolice lastimável, comecei a chorar. Mas, também eu choro por tudo! Chorei com raiva pensando em meus olhos, talvez se meus olhos fossem um pouco maiores eu teria chance de me parecer com Alice, afinal de contas, ela é morena ou branca? Eu só vejo de uma forma! Porque não uma Alice Negra? Ou uma Alice de olhos pequenos!



De repente tudo parecia mais claro, talvez não houvesse escolha, talvez eu seja uma rainha de copas, eu não sei!
Choros com risos!
É isso, sou uma rainha de copas, mas antes fui uma Alice, como fui traída e me machuquei muito, a vida me ajudou a ser uma rainha de copas. Sou uma Alice afetada!
Coloquei a música da Pink, que tocava repetidas vezes. E me vi num processo de metamorfose, me obriguei a esse processo. O que é a Alice afetada, uma alice adulta, uma alice estilo garota interrompida? Uma alice aliciada (comentado pelo grupo com Allan e Caio na aula de Interpretação), que precisa se tornar uma Rainha para esquecer sua dor ou ter de conviver com ela da maneira mais cruel, sua cabeça fica cada vez mais cheia com tanto medo do que elas pessoas falam dela, de como ficam rindo de seu aspecto.
Comecei a pintar minhas unhas, elas precisam de adequar ao momento que surge, esse processo de transformação. Jan Fabre, minha inspiração, me mostra uma alice afetada a partir da performance de Mounte Olympus.
A mão de Juliana suja, que foi mostrada como exemplo, era uma imagem de Alice suja, ela poderia já ter aprontado muito, ou poderia ter caído muito para chegar ao seu limite e se transformar.




A Alice Louca, que está internada no Hospício, proposta de Matheus. A Alice Louca representa o resultado da metamorfose. Uma menina má que um dia sonhou em ter um coração bom.



Peguei minha camisa de manga comprida, ela me remetia fatos relacionados ao hospício e à metamorfose animalesca na performance de Fabre.


Mandei uma mensagem para minha mãe novamente. Mas, dessa vez pedi que ela resgatasse em mim uma memória muito importante, que me traria a força energética na qual meu corpo e mente precisavam. Eu era criança, uma criança sapeca como tantas, mas também era uma criança gordinha, no dia das mães, eu e minhas irmãs demos presentes para ela e uma lembrancinha com vários chocolates e bombons dentro. Meus primos apareceram no final de semana e fomos todos brincar. Como haviam vários bombons, resolvi pegar um e por saber que ela veria o plástico no saco de lixo, resolvi esconder na parte de trás de casa. Mas, quando chegou no domingo à noite, ela resolveu pegar seu chocolate e simplesmente não havia mais nada lá. Como de costume, ela juntou minhas irmãs comigo uma ao lado da outra, e tivemos de falar quem pegou os chocolates e bombons. Eu não queria apanhar, então respondi imediatamente que havia pego o bombom.E, minhas irmãs admitiram suas falhas, mas ela queria saber dos chocolates, e nenhuma de nós os comeu. Provavelmente tenha sido um de nossos primos. Independente disso ela não quis saber, achou que poderia ter sido eu,.. e como eu e minhas irmãs não confessamos, foi nos tirado o que mais gostávamos naquele período, - A Capoeira.
Semanas depois, minha irmã acabou com as caixas de cotonetes da mamãe. Hoje parece absurdo. Mas, bem, eram cotonetes que aparecem em baixo de meu travesseiro. E, novamente lá estávamos nós na mesma situação. Mas, dessa vez, a Nanda estava ao meu lado e eu sabia que ela tinha feito aquilo, mas a Nanda,, sendo uma criança esperta, colocou justamente embaixo de meu travesseiro. A mamãe queria que eu confessasse, mas eu não podia dizer que havia feito algo que não fiz. Então ela, farta de mentiras de crianças que não paravam de fazer estripulias, achou justo que eu levasse umas lapadas de cinturão para servir de exemplo de que não aceitaria mais que ficássemos mentindo sobre tudo. Foi a primeira vez que apanhei, foi a primeira vez que levei lapadas de cinturão, foi algo para carregar durante longos e longos tempos como o dia que apanhei injustamente. Depois de algum tempo, a Nanda resolveu de confessar e a mamãe implorou perdão. Obviamente eu a desculpei. Pois ela apenas fazia a ação necessária.
Essa memória pareceu muito justa e suficiente para fazer um desenvolvimento digno na partitura. Havia uma coincidência entre minha lembrança e a lembrança da Rainha de Copas, então me apropriei completamente desse momento, utilizando o método da substituição.
Fiz uma coroa de E.V.A. pequena e vermelha, com o símbolo de copas na frente, com o propósito de denotar que Alice era uma criança quando começou a passar por momentos de injustiça.
Escolhi uma tinta vermelha, que remete à carne, ao sangue e à rainha no momento em que se machuca. A fita vermelha que coloquei enfeitando minha camisa representava a mudança do azul de Alice para o vermelho. A regua representava uma palmatória: - A punição severa.
Levei uma necessaire vermelha juntamente com o batom, queria colocar como fala interna a discussão de Alice com a mãe e a irmã, era um recorte que ficava se desmembrando repetidas vezes em sua mente. Lembrei da técnica Meisner e passei um longo tempo em frente ao espelho, conversando comigo mesma. O objetivo era pegar minhas reações durante cada frase, recortar esse momento para utilizar como memória durante essa discussão, no desdobrar da partitura.
Eu teria em cena um conjunto de objetos e teria que utiliza- los. Apesar de ter uma ideia do que fazer, queria me propor em grande parte fazer algo como improviso. Por isso, depois pegar a palmatória, resolvi dialogar com Alice, Rainha de Copas e o público. Queria poder sentir um pouco do improviso que Fabre costuma colocar em suas " Instalações vivas". Obviamente que ainda não cheguei nem em vinte por cento do que poderia propor, mas penso que lidar com barreiras pode trazer poética, pois buscamos soluções repentinas diante do problema ou obstáculo. Gera estranhamento? Gera poética?
Já durante a apresentação, percebi que perdi um pouco do processo de metamorfose, talvez não tenha feito tempo suficiente o diálogo interno com questionamentos em frente ao espelho. Não sei se ainda chegaremos a utilizar ou não a técnica Meisner não apenas com as perguntas suscitando intenções, mas também utilizando com diálogos e movimentos em cena. E, também não tenho conhecimento suficiente sobre a mesma para dizer se fui fiel ao raciocínio de detectar as minhas próprias reações às emoções refletidas. Mas, tentei seguir o propósito até o fim.
De acordo com Arruda, o arranjo do ator é composto tanto por elementos fixos quanto móveis (fluidos), assim, a partir de seu uso, a reformulação imaginária se abre, fica solta. O material fixo é a frase (externa), que é traduzida como intenção ou objetivo, para provocar um outro, que é a ação interna.
Durante meu diálogo, por vezes tentei afirmar que eu Alice, mas conforme afirmava, me via em dúvidas, essas dúvidas pareciam transparecer através de minhas reações, então, houve um momento em que não me questionei sobre ser alice, mas debochei de mim mesma por ter sido uma alice. Acredito que nessa situação a fala interna torna- se essêncial, por gerar conflitos que aos poucos se externalizam.






Obs: Chegaram a mencionar alguns reflexos de uma partitura realizada por mim no início do curso. Além da coincidência, posso dizer que realmente pode ter surgido esse recorte como um esboço essencial a ser acrescentado. Talvez o momento mais próximo tenha sido o do batom. Mas, eu tinha de utilizar o batom como transição fundamental para a Alice Afetada.

O Belo

Pessoas me surpreenderam demais nessa aula, uma delas é Dulce: Apesar de seu gênio forte, sabe- se que quando ela entra em cena, há sempre algo novo a ser acrescentado. Há muito conhecimento adquirido através de experiências, pode- se colocar em ênfase esse fator, mas há algo muito mais interessante surgindo. Lembro-me de uma aula em que ela parecia estar com muita vergonha de seu corpo. E, dessa vez ela simplesmente nos apareceu com uma partitura envolta em erotismo. Fiquei espantada com tanta beleza em tão pouco tempo. Pois percebi nesse momento que ela estava se dando a chance de ultrapassar seus limites, vi em Dulce o Gato ou possivelmente a lagarta azul, que me me remeteu à imagem de Frida, na qual meu grupo colocou fundamentou sobre a sexualidade em pauta.
Isabela a cada dia mais bela, me pareceu uma verdadeira alice, partiu de desdobramentos no espaço para explicar a Alice aumentando e hora crescendo. O sorriso de isabela possui um ar bobo e misterioso ao mesmo tempo. Sua voz é engraçada e seu corpo tem uma característica que lembra algo infantil. Como uma boneca de massinha, perfeito! O recorto do susto ao comer o bolo lembrava cenas de desenhos feitos com bonecos de massinha, seria lindo uma alice assim.
Allan tem tamanho, mas seu jeito e voz são amáveis e por vezes até cínicos ( no bom sentido), nunca vi um Allan tão "Gato". O recorte da perna de Allan se movendo  delicadamente no espaço e seu sorriso surgindo aos poucos foi magnífico.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, R. K. A Pergunta que Antecede a Fala: um  procedimento para o ator no cinema. SP, Revista Científica, Porto Algre, 2011.
FREITAS, Wallace José de Oliveira/ CIOTTI, Naira. O Teatro Transdisciplinar de Jan Fabre. O Percevejo Online- UFRN, 2015.