Fichamento: CHEKHOV, Michael. To the actor: On the Technique of the acting. Capítulo
5: O Gesto psicológico. Editora Ltda, São Paulo, 1986.
Pg. 75
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(...)
Não podemos controlar diretamente nossos sentimentos, mas podemos instigá-
los, provocá- los e induzi- los por certos meios indiretos. A mesma coisa
deve ser dita acerca de nossos desejos, necessidades, anseios, carências,
apetites, nostalgias e aspirações, que se geram, embora sempre misturados,
com sentimentos, na esfera de nossa vontade.
Nas
qualidades e nas sensações encontramos a chave para o tesouro de nossos
sentimentos. Mas existirá tal chave para nossa força de vontade? Sim, e
encontramo- la no movimento (ação, gesto). Você pode facilmente provar isso a
si mesmo tentando fazer um gesto forte, bem delineado, mas simples. Repita- o
várias vezes e você verá que, após um certo tempo, a força de vontade tornar-
se- á cada vez mais forte sob a influência desse gesto.
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Pg. 76
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Podemos
dizer que o vigor do movimento instiga nossa força de vontade em geral; que a
espécie de movimento desperta em
nós um definido desejo correspondente e que a qualidade desse mesmo movimento evoca nossos sentimentos.
Imagine
que você irá interpretar uma personagem que, na sua primeira impressão geral,
possui uma vontade férrea, com desejos autoritários, despóticos, cheia de
ódio e desprezo. A princípio você procura um gesto global adequado que possa
expressar tudo isso nessa personagem, e, após algumas tentativas, talvez o
descubra. (citação indireta)
O
gesto é forte e bem delineado. Quando repetido várias vezes, tenderá a
fortalecer sua vontade. A direção de cada membro, a posição final de todo o
corpo, assim como a inclinação da cabeça são tais que evocarão
inevitavelmente um desejo definido de dominação e conduta despótica. As
qualidades que enchem e impregnam cada músculo do corpo provocarão dentro de
você sentimentos de ódio e desprezo ou repulsa. Assim, por meio do gesto você
penetra e estimula as profundezas de sua própria psicologia.
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Pg. 78 e 84
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Como
exemplo, pensemos numa personagem que,
de certo modo, contrasta com a segunda ( exemplo anterior referente à uma
personagem de caráter agressivo, até
fanático, apaixonada). É inteiramente introspectiva, sem o menor desejo de
entrar em contato com o mundo de cima ou de baixo, mas não necessariamente um
caráter fraco. Seu desejo de isolamento pode ser muito forte. Uma qualidade
cismática, melancólica impregna todo o seu ser. (...) Sobre os personagens de
todos os casos, estudando e
exercitando os gestos e suas posições finais, o ator sentirá sua tríplice
influência sobre sua psicologia. (citação indireta)
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Pg. 84
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Chamemo-
lhes Gestos Psicológicos (doravante citados como GPs), porque seu objetivo é
influenciar, instigar, moldar e sintonizar toda a sua vida interior com seus
fins e propósitos artísticos.
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Pg. 84- 85
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Tendo
em conta a investigação de sua personagem, você deve penetrar nela, procurar
encontrar que espécie de pessoa ela é. Pode- se fazer isso usando sua mente
analítica ou através do GP. No primeiro caso, percorre um longo caminho, pois
a mente racional, em geral, não é suficientemente imaginativa, é fria e
abstrata demais para realizar um trabalho artístico, podendo retardar sua
capacidade de imaginação por muito tempo. Talvez note que, quanto mais sua
mente conhece a respeito de sua personagem, menos apto você estará a
interpretá- la. Isso é uma lei psicológica.É como conhecer tudo a respeito de
uma determinada ciência ou arte, mas ignorar o fato de que essa inteligência per se está muito longe de significar
proficiência nessa ciência ou arte. Mas, se aplicar o GP a fim de estudar sua
personagem, estará recorrendo diretamente às suas forças criativas e não se
tornará um ator “livresco” ou um que limita a “papaguear” seu papel
mecanicamente.
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Pg. 86
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]Fichamento: CHEKHOV, Michael.To
the actor: On the Technique of the acting. Capítulo 2-
Imaginação e Incorporação de Imagens. Editora Ltda, São Paulo, 1986.
Pg.25- 26
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Desejos,
devaneios, objetivos de vida, êxitos e fracasso, esquecidos e vagamente recordados
aparecem como imagens em sua mente, sem fidelidade aos fatos, como
recordações. Agora, em retrospecto, estão levemente mudados, com alguns
traços de imaginação. Eis que surgem aqui e li imagens desconhecidas. Elas
são produtos de sua imaginação criativa.
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Pg. 26
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Não
tarda que essas imagens, que aparecerem e reaparecem trazendo consigo figuras
estranhas, comecem a “atuar”, a “representar” diante de seu olhar fascinado.
Diverte-
o o fato de que essas imagens possuem suas próprias vidas independentes;
espanta- o o fato de que elas apareçam ser serem convidadas, forçando- o a
observa- lo com mais freqüência, despertando seus sentimentos- e ocorre uma
reação. Você ri e chora com eles. Como mágica você vê- se no desejo de estar
em eles, de ser um deles, vê- se agora entre eles, quer atuar e atua. De um
estado de espírito passivo para um estado criativo. Eis o poder da
imaginação.
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Pg. 27
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Embora
essas imagens criativas sejam independentes e mutáveis entre si, o ator não
deve pensar que elas lhe surgiram inteiramente desenvolvidas e realizadas.
Para que atinjam o grau de expressividade que o satisfaça, precisará de uma
colaboração ativa. Assim, o ator deve fazer perguntas a essa imagem como se
fizesse a um amigo, por vezes, lhe dará até ordens rigorosas. Modificando- se
e completando- se sob a influência de
suas perguntas e ordens, elas darão respostas visíveis a sua visão interior.
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Pg. 29
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Você
orienta e constrói sua personagem fazendo novas perguntas, ordenando- lhe que
mostre diferentes variações de possíveis modos de atuar, de acordo com seu
gosto (ou com a interpretação da personagem dada pelo diretor). A imagem
muda, transforma- se repetidas vezes até que, subitamente ou gradualmente
você se sente satisfeito com ela. Assim, você estará apto a estudar e a criar
sua personagem mais profundamente.
O raciocínio seco mata a imaginação. Quanto
mais você sondar e aprofundar sua mente analítica, mais silenciosos se
tornarão seus sentimentos, mais fraca sua vontade e mais pobres as
oportunidades propiciadas à inspiração.
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Pg. 30
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As
imagens que vejo com o olho da mente têm sua própria psicologia, à semelhança
das pessoas que me rodeiam em minha vida cotidiana. Entretanto, há uma
diferença: na vida cotidiana, vendo as pessoas somente por suas manifestações
exteriores, movimentos, gestos, vozes e nada vislumbrando por trás de suas
expressões faciais, movimentos, gestos, vozes, entonações, eu poderia julgar
erroneamente suas vidas interiores.
A
vida interior das imagens criativas está completamente aberta à minha
contemplação. São- me reveladas todas as suas emoções, seus sentimentos, suas
paixões, seus pensamentos, seus propósitos e seus desejos mais íntimos, ou
seja, vejo a vida interior através de minha personagem.
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Pg. 31
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Para
o desenvolvimento da imagem em alto grau, perceberá que não necessitará
espremer seus sentimentos para extraí- los de seu eu, eles surgirão por si
mesmos de seu íntimo, sem esforço, com
desembaraço, assim que você aprender a ver a psicologia, a vida interior de
suas imagens.
Quanto
mais desenvolvida é sua imaginação, por meio de exercícios sistemáticos, mais
flexível e ágil ela se torna. Você deve possuir suficiente força de vontade,
mais do em geral exerce nas atividades cotidianas para conservá- las ao ponto
em que elas afetem e despertem seus próprios sentimentos. Esse é o poder da
concentração.
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Pg. 32
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O
verdadeiro ator não deslizará pelas superfícies das personagens que
interpreta nem lhes imporá seus maneirismos pessoais e invariáveis. Criar na
acepção real significa descobrir e criar novas coisas.
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Pg. 33- 34
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Inicie
o exercício com recordações de eventos simples e impessoais. Tente recordar o
maior número possível de detalhes. Concentre- se nessas recordações,
procurando não romper o fluxo de sua concentração. Logo, comece treinando- se
em capturar a primeira imagem no próprio momento em que ela aparece aos olhos
de sua mente.
Apanhe
um livro, abra- o numa página ao acaso, leia uma palavra e veja que imagem
essa palavra faz surgir em seu espírito. Isso lhe ensinará a imaginar coisas,
em vez de limitar às concepções abstratas, inanimadas dessas coisas.
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Pg. 34- 35
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Após
um certo tempo, tendo captado uma imagem, observe- a e aguarde até que ela
comece a movimentar- se, a “mudar”, a “falar” e a “atuar” por si só. Atente
para o fato de que cada imagem tem sua vida independente. Não interfira nessa
vida, mas acompanhe- a pelo menos por alguns minutos. Depois, crie novamente
uma imagem e deixe- a desenvolver sua vida independente. Passados alguns
instantes, comece a interferir nela fazendo perguntas ou dando ordens: Quer
mostrar- me como você se senta? Como se levanta? Como caminha? Como sobe e
desce uma escada? Como se encontra com outras pessoas? Se a vida da imagem
adquirir força excessiva e se tornar obstinada, converta para ordens. Agora
acrescentando uma natureza mais psicológica: que aparência toma quando está
obstinado? Bem- humorado?...Dê boas vindas cordiais a um amigo. Mostre- se
desconfiado, pensativo. Ria, chore. Repetindo quantas vezes forem necessárias
até que a imagem lhe mostre o que você quer ver. Coloque- a em situações
diferentes, dê- lhe ordens como de mudar sua aparência exterior, fixe- a em
outras tarefas, alternando em liberdade e depois dando ordens novamente.
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Pg. 35
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Escolha
uma cena curta de uma peça, com poucas personagens por várias vezes em sua
imaginação. Depois formule às personagens uma série de perguntas, dê- lhes um
certo número de sugestões:- Como atuariam se a atmosfera da cena fosse
diferente? Sugira atmosferas distintas. Mude o ritmo da cena. Peça que lhe
dêem mais força a sentimentos, que tornem outros mais fracos e etc. Assim,
você aprenderá a colaborar com a sua imagem criativa enquanto trabalha seu
papel, você aprenderá a aceitar sugestões de sua imagem.
Agora,
tente aprender a penetrar, através das manifestações exteriores de uma
imagem, a sua vida interior.
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Pg. 36- 37
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É
certo que, com freqüência, as imagens lhe revelam sentimentos, emoções e
desejam de que você não tinha conhecimento antes de começar a usar a
imaginação criativa. Mas, seja qual for o nível profundo de sua vida
subconsciente donde tenham emergido, tais sentimento, emoções e desejos são,
de qualquer modo, seus.
Parte-
se agora para o exercício de desenvolver a flexibilidade de sua imaginação.
Escolha uma imagem e estude- a pormenorizadamente. Depois, faça- a
transformar- se aos poucos numa outra imagem. Ex: Um homem torna- se
gradualmente velho e vise e versa.
Depois,
comece a trabalhar com imagens em movimento, como por exemplo uma multidão
excitada ou um torneio de cavaleiros.Tente ouvir as vozes e os sons de suas
imagens. Não permita que sua atenção seja distraída ou salte de uma cena para
outra e assim perca as cenas de transição. A transformação de imagens deve
seguir um fluxo regular e contínuo como um filme.
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Pg. 37
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Crie
em seguida uma personagem inteiramente por si mesmo. Comece a desenvolvê- la e elabora- la com detalhes, Trabalhe nela
durante dias ou até semanas. Trabalhando desse modo, pode chegar o momento a
qualquer instante, em que sua imagem se tornará tão poderosa, que você será
incapaz de resistir ao desejo de incorporá- la, de representá- la, mesmo que
seja uma cena curta.
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Pg. 38
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Imagine-
se inicialmente fazendo algum movimento simples: erguer um braço, por- se de
pé, sentar- se ou apanhar um objeto. Estude esse movimento em sua imaginação
e depois concretize- o. Imite- o, por assim dizer o mais fielmente que puder.
Se, ao concretiza- lo, notar que algum movimento não é igual, repita
novamente o movimento, até estar certo que sou corpo seguiu exatamente todos
os detalhes propostos no movimento imaginado.
Faça
o mesmo procedimento com a personagem de uma pessoa, observando cada detalhe.
Você perceberá que poderá acontecer pequenos desvios. Esse desvio é resultado
da súbita inspiração durante o processo de incorporação, aceite- o como um
fato positivo e desejável.
Assim,
será estabelecido gradualmente as ligações tão necessárias para vincular a
sua vívida imaginação a seu corpo, voz e psicologia.
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Pg. 39
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Quando
trabalha desse modo a personagem que irá interpretar no palco, você pode,
para começar, escolher apenas uma característica dentre todas as que
apresentam a sua visão interior. Assim fazendo, você nunca conhecerá o choque
resultante da tentativa de incorporar a imagem toda de uma só vez, num ávido
trago. Você sabe que seu corpo, sua voz e toda sua compleição psicológica nem
sempre são capazes de ajustar- se em curto prazo à sua visão. Trabalhar a
imagem pouco a pouco evita essa dificuldade. Habilita seus meios de expressão
a processarem tranquilamente a necessária transformação e a se prepararem
para anuir às respectivas tarefas que terão de cumprir.
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CHEKHOV,
Michael. Para o Ator- Como Abordar o
Papel, 1981; (Tradução: Álvaro Cabral- 2ª edição, São Paulo, 1996.
Pg. 163- 164
|
(...)
Existem numerosas maneiras de abordar o papel. Uma delas é por meio do uso de
nossa imaginação, vamos supor, portanto, que escolhemos abordá-los dessa
maneira. (...)Comece lendo a peça várias vezes, até estar familiarizado com
ele como um todo. Depois, concentre- se somente em sua personagem,
imaginando- a primeiro, cena após cena. Em seguida, demore- se nos momentos
(situações, frases, diálogos) que mais atraem sua atenção.
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Pg. 164
|
Continue
fazendo isso até “ver” a vida interior da personagem, assim como sua
aparência exterior. Espere até que ela desperte seus próprios sentimentos.
Tente “ouvir” a personagem falar.
Você
pode ver sua personagem tal como foi escrita pelo autor ou poderá também
ver-se a sim mesmo desempenhando a personagem já caracterizada. Ambas as
maneiras são corretas.
Comece
colaborando com a personagem, fazendo perguntas e obtendo suas respostas
“visíveis”. Faça suas perguntas a respeito de qualquer momento que escolher,
independente da continuidade das cenas, tal como dada na peça, melhorando
assim alguma coisa em seu desempenho aqui, aperfeiçoando alguma coisa ali, à
medida que vai passando os olhos por toda a área da personagem. (...)
incorporando-a pouco a pouco, com movimentos, frases e pausas.
Continue
esse trabalho mesmo depois de iniciados os ensaios gerais da peça. Guarde
todas as impressões que acumulou durante os ensaios no palco, seu próprio
desempenho, o desempenho de seus colegas de elenco, as sugestões e marcações
dadas pelo diretor, cenários, etc. Inclua tudo isso em sua imaginação e
depois, recapitulando uma vez mais seu prório desempenho, formule a pergunta:
“Como posso melhorar este ou aquele momento?” Responda melhorando- o primeiro
em sua imaginação e depois submetendo- o à prova real (trabalhando ainda em
casa entre os ensaios).
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Pg. 164-165
|
Nossas
imagens estão livres de quaisquer inibições porque são produtos diretos e
espontâneos de nossa individualidade criativa. Tudo o que dificulta o ator
provém de um corpo subdesenvolvido ou de peculiaridades psicológicas
pessoais, como timidez, falta de confiança e medo de causar uma falsa
impressão (sobretudo durante o primeiro ensaio).Nenhum desses elementos
perturbadores é conhecido de nossa
individualidade criativa; ela está tão livre de limitações psicológicas pessoais
quanto nossas imagens estão livres de corpos materiais.
|
165
|
Sua
intuição artística lhe dirá quando esse trabalho com a imaginação tiver
cumprido seu propósito de ajudá- lo a estabelecer a personagem. Poderá então
ser posto de lado. Não se apóie exclusivamente nele por tempo demais, ou
pesadamente demais, como se fosse seu único esteio para abordar um papel.
Você pode usar mais de um meio simultaneamente.
Também
pode começar seu trabalho na base de atmosferas. Imagine sua personagem
movimentando- se declamando suas falas em diferentes atmosferas dadas ou
indicadas pela peça. Depois, crie uma dessas atmosferas em sua volta. E,
comece atuando sob a influencia dela. Atente para que seus movimentos, o timbre
da sua voz e as falas que diz estejam em plena harmonia com a atmosfera que
escolheu.
Stanislavski
costumava dizer que é uma boa coisa um ator poder apaixonar- se por sua
personagem antes de começar a trabalhá-la. Apaixonar- se nesse caso seria
apaixonar-se pelas atmosferas que envolvem o personagem.
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Pg. 166
|
Stanislavski
estava convencido de que se o diretor ou ator, por alguma razão, não passavam
por tal período de paixão, poderiam encontrar mais tarde inúmeras
dificuldades em seu trabalho, numa peça ou num papel. Sem dúvida, essa
devoção, esse amor, poderia ser chamado o “sexto sentido” que nos habilita a
ver e a sentir coisas que se mantém obscuras para outros. (...) Portanto sua
abordagem do papel por meio de atmosferas dar-lhe-á uma grande oportunidade
de descobrir na personagem muitas características interessantes e
importantes,e nuanças sutis que, de outro modo, poderiam escapar facilmente a
sua atenção.
(...)
Procure definir a qualidade ou as qualidades gerais e mais características do
papel em que vai trabalhar. Poderá descobrir, por exemplo, que as qualidades
gerais do caráter de Falstaff são a malícia e a covardia; ou que D. Quixote
pode possuir a qualidade de desenvoltura combinada com a de romantismo e coragem.
(...) Cada personagem tem suas qualidades penetráveis e definíveis.
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Pg. 167
|
Tendo
encontrado a qualidade geral para a personagem como um todo, e tendo- a
vivenciado com a sensação de um sentimento desejável, procure interpretar seu
papel sob a influencia dela. Interprete- o primeiro em sua imaginação, se
desejar, e depois comece ensaiando- o concretamente (em casa, ou no palco).
Assim
fazendo, você poderá descobrir que as sensações que usa para despertar seus
sentimentos genuínos não são inteiramente corretas. Se assim for, não hesite
em altera-las repetidas vezes, até se considerar inteiramente satisfeito.
Tendo
escolhido as sensações gerais da personagem, faça apontamentos à margem do
script. Como resultado desse procedimento, você terá sempre um certo número
de seções ou fragmentos em que seu papel inteiro será subdividido. (...)
Quanto menor for o número de fragmentos ou seções, mais úteis serão para seu
trabalho prático em cima do papel que lhe coube. Serão suficientes umas dez
seções para um papel teatral ou cinematográfico de tamanho médio. Ensaie sua
personagem de novo. Obedecendo fielmente as anotações que registrou.
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Pg. 167-168
|
Uma
outra abordagem do papel é por meio de Gestos Psicológicos (GP). Tente
encontrar o GP correto para a personagem como um todo. Se não conseguir
descobrir imediatamente o GP global para o papel, pode inverter o processo e
recomeçar pela descoberta de GP’s menores, através dos quais o principal
ficará lentamente à vista.
|
Pg. 168
|
(...)
Se, quando aplicar um GP na prática, descobrir que ele não é inteiramente
correto, deverá melhora- lo de acordo com seu gosto e sua interpretação da
personagem. A força, o tipo a qualidade e o ritmo do GP deve ser livre e
habilmente manipulados e alterados quantas vezes você repute necessárias.
As
sugestões de seu diretor durante os ensaios, os encontros com os demais
colegas do elenco e as mudanças no script pelo autor podem constituir outros
tantos estímulos para a alteração de seu GP. Assim, mantenha-o flexível até
se considerar inteiramente satisfeito com ele.
Defina
o ritmo geral em que vive sua personagem, assim como os ritmos particulares
de diferentes cenas e momentos, e pratique seu GP de novo, de acordo com esse
diferentes ritmos.
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Pg. 169
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Enquanto
emprega o GP como meio de abordagem de seu papel, aplique- o também para
determinar as diferentes atitudes que a sua personagem manifesta em relação a
outras. Pensar que uma personagem permanece sempre a mesma enquanto
contracena com outras personagens da peça é um erro crucial que até
experientes atores cometem com freqüência.
Observe
a si mesmo e verá de que modo diferente começa instintivamente a falar, a
movimentar-se, a pensar e a sentir quando se encontra com pessoas diferentes,
mesmo que a mudança que os outros produzam em você seja pequena ou quase
imperceptível. É sempre você mais outrem.
Releia
todo seu papel e tente definir que sentimentos gerais (ou sensações de
sentimentos) as outras personagens despertam na sua. Fazem- no sentir-se
cordial, indiferente, frio, desconfiado, confiante, entusiástico, hostil,
tímido, covarde, circunspecto ou o que?
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Pg. 169-170
|
Descobrirá
freqüentemente que o principal GP que expressa sua personagem como um todo
necessitará apenas de uma ligeira alteração para incorporar sua atitude geral
em relação às outras personagens. A aplicação do GP permite a oportunidade
ímpar de pintar seu papel em várias cores, tornando assim seu desempenho rico
em tonalidades e fascinante de observar.
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Pg. 170
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Caso
deseje iniciar seu trabalho construindo a personagem e a respectiva caracterização,
comece seu jogo com o corpo e o centro imaginários, procurando traços
característicos que sejam apropriados a seu papel. No começo poderá usar
separadamente o corpo e o centro imaginários e combiná-los mais tarde.
Afim
de adotar e adquirir fácil domínio sobre eles sugere-se que tome seu script e
copie todas as intervenções de suas personagem, incluindo entradas, saídas e
cada movimento por mais insignificantes que possam parecer-lhe.
Depois,
um por um, comece executando todos esse acontecimentos, grandes e pequenos,
tentando obedecer as inspirações, sejam elas quais forem, que lhe sejam por
ventura dadas pelo centro ou pelo corpo imaginários, ou por ambos. Não
exagere, não enfatize excessivamente a influencia deles, ou então seus
movimentos se tornarão artificiais.
(...)
Se o que você sinceramente deseja é uma expressão sutil e caracterizada de
sua caracterização, deixe que seu bom gosto e sentimento de verdade sejam
guias nesse agradável “jogo” com o corpo e o centro imaginários.
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Pg. 170-171
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Após
um certo lapso de tempo, acrescente ao exercício algumas frases ligadas a seu
papel; umas poucas, no início, depois cada vez mais, até que o texto de seu
papel seja ensaiado na íntegra desse modo. Logo, aprenderá que espécie de
fala a sua personagem está propensa a adotar- lenta, rápida, tranqüila,
impulsiva, refletida, leve, pesada, (...) Todas essas nuanças de fala lhe
revelarão através do mesmo meio do corpo e do centro imaginários, se você
obedecer fielmente às sugestões deles, sem ter pressa em obter resultados.
|
Pg. 171
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Desde
o começo de seu trabalho com a personagem, poderá também utilizar algumas das
Leis de Composição (...) Recomendo fortemente a sua atenção os princípios
sugeridos por Stanislavski para a abordagem de um papel. Stanislavski
chamou-lhes Unidades e Objetivos.
Unidades
e Objetivos são, talvez, sua mais brilhante invenção e, quando adequadamente
entendidos e corretamente usados, podem conduzir imediatamente o ator para o
próprio cerne da peça e do papel, revelando-lhe sua construção e dando-lhe
uma base firme sobre a qual interpretar sua personagem com plena confiança.
|
Pg. 172
|
(...)
O objetivo é o que a personagem (não o ator) deseja, quer; é sua meta, seu
propósito. Os objetivos seguem- se uns após outros, em sucessão (ou poderão
sobrepor-se parcialmente).
Todos
os objetivos da personagem se fundem num objetivo global, formando uma
corrente “lógica e coerente”. A esse objetivo principal, chama Stanislavski o
Superobjetivo da personagem. Isso significa que todos os objetivos menores,
seja qual for seu número, devem seguir a um único propósito, realizar o
superobjetivo (o principal desejo) da personagem.
No
intuito de denominar o objetivo, de fixá-lo em palavras, Stanislavski sugeriu
a seguinte fórmula: “Eu quero ou eu
desejo fazer isso e aquilo...”, e depois segue- se o verbo expressando o
desejo, a meta da personagem. Eu quero
persuadir, eu quero livrar- me de,
eu desejo compreender, eu desejo dominar e assim por diante.
Nunca use sentimentos e emoções enquanto estiver definindo seus objetivos-
como quero amar ou desejo sentir-me triste-, porque sentimentos e emoções não
podem ser feitos. Ou você ama ou sente-se triste ou não. O verdadeiro
objetivo encontra- se na vontade de sua personagem.
|
Pg. 173
|
Comece
por dividir primeiro o papel ou a peça em três grandes unidades ou seções,
depois, se necessário, faça qualquer número de subdivisões.
|
Pg. 174
|
Em
o Inspetor Geral, o Prefeito prepara-se para a batalha contra o Inspetor,
dando instruções detalhadas aos seus funcionários. Essa é a Primeira Unidade
para a personagem do Prefeito. A Segunda Unidade: chega o falso Inspetor e a
batalha começa. Alonga, paciente e laboriosa trama do prefeito é coroada de
êxito. O perigo passou, a vitória foi garantida. A Terceira Unidade: a
descoberta do fatal equívoco. A chegada do verdadeiro Inspetor. O Prefeito,
os funcionários e as mulheres são derrotados, humilhados e aniquilados.
Tendo
encontrado as três unidades principais, você pode passar ao estabelecimento
de suas subdivisões, acompanhando sempre o desenvolvimento da batalha que
está em curso na peça.
|
Pg. 175
|
Stanislavski
acrescentou que, com bastante freqüência, só depois de muitas representações,
quando a reação do público se torna evidente, é que o verdadeiro
superobjetivo pode ser percebido e fixado. Dessa afirmação de Stanislavski,
somos levados forçosamente a inferir que o ator deve contentar-se, muitas
vezes, com um certo número de objetivos menores da personagem, sem saber
aonde eles o conduzem. Mas minhas asserção é que, para um ator, é de suprema
importância conhecer de antemão ou ter algum conhecimento prévio sobre a meta
final dos objetivos secundários; ou seja, compreender a principal finalidade
da personagem.
(...)
o ator deve estar consciente do superobjetivo
para o papel inteiro desde o começo.
Pois, de que outra forma poderá fundir todos os objetivos numa “corrente
lógica e coerente” sem cometer erros?
|
Pg. 175-176
|
Sabe-
se que cada personagem mais ou menos significativa trava um combate ao longo
de toda a peça, está em conflito com alguém ou alguma coisa. Ele vence ou
perde a batalha. Suponha-se que ponderemos as seguintes perguntas: O que
acontece à personagem? O que é que ela faz
ou pretende fazer depois que obteve
sua vitória? O que faria ela se
vencesse sua luta, o que deveria
fazer? A resposta a essas perguntas semelhantes pode indicar mais
precisamente a troco de que esteve a personagem combatendo ao longo de toda a
peça ou qual era seu superobjetivo.
|
Pg. 177
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Se
desejarmos, poderemos tentar descobrir objetivos menores para a personagem
cujo superobjetivo já está desvendado ou, pelo menos, já nos foi indicado. Já
não vacilaremos, como teria acontecido se começássemos buscando primeiro os
objetivos menores. Daí em diante, o superobjetivo revelará todos os objetivos
menores que lhe estão subordinados.
Mais
uma vez, insisto em que se adie o trabalho de encontrar os objetivos menores.
Existe ainda um ponto de vista superior a ser atingido, pode-se galgar ainda
mais alto, até o próprio cume, do qual é possível observar toda a peça como
um vastíssimo panorama, com todos os seus eventos, unidades e superobjetivo
das personagens nele contidas.
Você
encontrará o superobjetivo da peça inteira, ou pelo menos preparará o caminho
para a sua descoberta se aplicar o mesmo método de fazer perguntas. Mas,
dessa vez, não se dirija às personagens, recorra diretamente ao público. É claro que não precisa e nem
deve esperar por um público real mas pode imaginar seu público e antever-lhe
as reações futuras.
|
Pg. 178
|
O
ator curioso poderá perguntar-se por que será necessário consultar o público
imaginário. Não seria mais simples consultar diretamente o autor, estando sua
peça com vistas à descoberta de sua idéia
mestra, de sua concepção do superobjetivo ? O resultado não seria, afinal,o
mesmo?
Não,
não seria o mesmo! Por mais fielmente que um ator ou diretor leia uma peça,
trata-se ainda de sua própria interpretação do que o autor pretendeu dizer.
E, seja qual for a intenção do autor, o que o público interpreta de sua peça
é o que constitui o superobjetivo decisivo.
|
Pg. 179-180
|
No
começo, as experiências do público imaginário surgirão aos nossos olhos como
uma impressão espontânea, imprecisa e geral. Mas, devemos deduzir daí todas
as conclusões nítidas e específicas, formular todos os pensamentos potenciais
e definir todas as emoções. Um pouco de prática com esse experimento deve
tornar-nos competentes em sua execução e assegurar-nos o sentimento de que o
público imaginário não nos desapontará.
|
Pg. 185
|
(...)
Nunca tente discernir qualquer objetivo com sua mente racional. Esta pode
deixá-lo frio. É possível que o conheça, mas não o deseje, ou não o queira.
Poderá permanecer em sua mente como uma manchete, sem instigar sua vontade. O
objetivo deve ter suas raízes no ser todo e não na cabeça apenas. Suas
emoções, sua vontade e até seu corpo devem estar inteiramente “cheios” com o
objetivo.
|
Pg. 187
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O objetivo convertido num GP que instiga o
ser inteiro e o ativa, pode ajudá-lo a superar a dificuldade de não estar se
apropriando do mesmo.
Por
mais consciencioso que você ou seu diretor possam ser, não é necessário usar
todos os meios disponíveis de uma só vez. Pode escolher aqueles que mais o
atraem ou aqueles que lhes propiciam os melhores e mais rápidos resultados.
Não tardará a notar que alguns são mais adequados para um papel e alguns para
um outro.
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