I Fragmento
Que trem é esse? Esse som.. um som tão agradável, agradável
agradável som de trem, som de nada, som de tudo, estamos todos juntos, olha
mãe, meus olhos meu olhar, a beleza desse lugar, mas e o presente, que presente
será que irei ganhar, papai Noel vai chegar e vai me presentear, o papai é o
papai, é o papai Noel deve ser ou será... mas e o presente... o presente deverá
chegar.
Ela chegou com um pedaço de mortadela quentinha, eu e minhas
irmãs estamos arrumando a mesa, ele espreme a laranja, sinto, sinto o cheiro da
laranja, agora sinto o cheiro, sinto o cheio de tudo e tudo se mistura, ela
está trazendo o pão quentinho. Que mortadela deliciosa, que mortadela
maravilhosa. Cheiro de Comida, cheiro de mãe fazendo comida e o pai carrega no
colo, o pai cansado com sorriso no rosto, ninguém parava de falar, criança
corre pra lá e pra cá, o pai é magestoso, como pode estar com um sorriso no
rosto... a vovó com seu cheirinho de idosa, cheiro de sabonete de idoso é tão
gostoso, cheiro avó é o melhor.
Essa boca, cabelo castanho,
castanho- claro, castanho- escuro, ruivo, preto, azul, preto, azul.. por que
ela implicou tanto comigo, Jessica, Amanda Maria, Martha Maria, Isabela,
Margarida, Ana, Rebeca, Nicole, Maria Maria a mãe do filho de Deus, Maria minha
mãe, mas aquela Maria,.. eu estava no
banco, sento não agüento levanto o que é aquilo? Ah,.. lá está ela. Pare de me
ignorar! Os meninos afinavam o violão, músicas em todo lado, a bateria, o violão,
a guitarra. Isso é uma carta, um beijo, tem presente melhor do que um beijo, eu
quero um beijo vem me dá um beijo eu eu eu quero um beijo. Olha pra mim!!! É eu
só quero um, eu só queria abraçar e melhorar... Eu só queria melhorar, eu só
queria falar, viajar, o que eu estava falando? Há o que é isso? É é uma carta
pra mim... Uma carta para mim. Ela deixou uma carta pra mim, eu olho a carta, o
papel corta meu dedo, seu cheiro, sua cor. Eu tanto espero e agora ela fala que
gosta de mim, eu poderia tê- la beijado, um beijo gostoso, um beijo amado, mas
criança não sabe nada disso, nem sei
mais de nada, eu beijei ou deixei de beijar, tanto faz ela agora está... Essa carta
é para mim”?
Eu gosto tanto de você... eu
gosto, gosto tanto tanto de você, SHhhhhhhhh..
Eu juro, eu juro que ele piorou
quando foi para o andar de cima. Espera! É você,... não, pai, avô. Pai também é
avô, eu não compreendi todo aquele alvoroço, a mãe corre para um lado a avó
corre para o outro e a titia, tudo bem, ta tudo bem, (ânsia) não, (raiva e dor)
não ta tudo bem coisa nenhuma. Ele ta perdendo peso, ele ta ficando mal, senta,
levanta, o corpo clama, estala, (tenta segurar a dor para si mesmo para que os
outros não escutem) Shhhhh....
(três propostas para morte numa
pesquisa pessoal que por vezes se choca, ora pesquisa pessoal, ora couro. As
pessoas que ali estão se levantam, ficam olhando eretas)
(dor que penetra o corpo e te faz
cair no chão) Ahhhh (grande pausa. Uma sensação lhe corrompe, a perda, como uma
criança que deixa quebrar um brinquedo precioso e tenta pega-lo com todo
cuidado, juntando cada peça) não, não, não, não. (Pessoas espalhas pelo palco
seguem em sua direção, cada um com uma partitura corporal diferente, sugere a
ação- A culpa não foi minha! (As pessoas que se encontram eretas no lado
oposto, começam a caminhar em sua direção, lhe fecham, como uma sombra que
invade toda a luz que outrora iluminava seu quarto e falam em voz mais elevada
e grave, como soldados que cantam um grito de guerra enquanto marcham)- A culpa
foi toda sua! A culpa foi toda sua!! ( As sombras caem ao chão
Tem mata, tem madeira, azulejo,
tem tijoulo, sensação que não quero esquecer, mas porque ... não não não...
Casa antiga, bem antiga, gente nova bem vivida, gente feliz, toda essa gente
feliz, Um cheiro um cigarro, ela me aparece como num estalo, mãe, mãe nada,
avó, vó melinda, mãe mais que avó, o cigarro, o fumo, cheiro de fumo, que
saudade disso tudo, é muita saudade, saudade de mãe, saudade de vó, saudade que
se esvazia, vida e morte, a morte me impediu a despedida.
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