segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Ritual e o Sacrifício

Aula de Corpo I

18 de Abril de 2016




OK. Antes de tudo. Mas que final de tarde estressante! Tudo errado, transito errado, parado, enquanto eu e alguns de meus amigos também tentavam chegar para a aula de Rejane. 
Nessa aula, ficamos de entregar nossos poemas e declamar enquanto os vários grupos faziam o jogo do campo de visão. Como mencionei acima, cheguei uns 30 minutos atrasada e indo à caminho da Gimnica, ainda ao lado de fora podia escutar o som do tambor e pessoas que falavam no microfone. Senti a emoção antes de ao menos tocar os pés na sala. Ao entrar, vi dois grupos fazendo o campo de visão e um de meus colegas declamava seu poema. O que posso dizer? Eu poderia ter entrado de imediato para fazer o jogo. Porém, decidi apenas por um breve momento observar a beleza que se construía naquele ambiente. Vi os olhos de Rejane, vi Thiago, Amires e tantos outros, eles estavam numa energia alucinante. E aquelas palavras... Me atrevo a dizer que nunca encontrei tanto significado em versos como pude encontrar nessa noite. É bem interessante, eu me via como parte de um todo, fazendo por vezes aqueles movimentos nas aulas anteriores e depois pude vê- los, cada um em seu individual rito e juntos parte de uma obra prima. Tão simples seria sem o som, mas o tambor nos faz querer estar ali, atrevo- me novamente! O tambor gera um acordar para o novo. De repente Paulo passou por mim e eu pude acordar. Minha corrida foi algo parecido com: - Hei! Me espera que eu também quero entrar!Segui para o grupo de Amires, senti nela uma energia incrível, pois nós corremos, fomos ao chão. Posso dizer que havia uma certa interpretação dos poemas. Mas tentei não ficar somente nos movimentos, tentei aprofundar- me... Comecei a sentir a batida mais profunda. Para explicar agora meu método de substituição terei de voltar ao tempo e informar pontos que tornaram- se uns de meus princípios. 
Eu nasci numa família cristã católica, fui batizada, segui toda uma trajetória embasada nos costumes de minha família. Mas, havia algo que eu ainda não conseguia identificar. É pelo fato de ter visto muito desde criança, almas desgovernados, com boas e más intenções. Meu amigo visitou- me na noite de sua morte e eu fiquei sem entender,... ou talvez simplesmente não quisesse entender, aceitar ver alguém tão importante simplesmente sumir de sua vida. Minha adolescência começou a mudar. Comecei a procurar por essência, lendo sobre o budismo e algumas outras crenças que geravam mais conforto em mim. O budismo me ajudou a encontrar a paz em momentos difíceis. Agir com amor e cautela independente de qualquer coisa e agradecer toda manhã pelo simples fato de ter aberto os olhos. Foi aí que criei um de meus primeiros rituais: - O Ritual da Manhã. Eu acordava, me espreguiçava, deitada e em seguida sentada, com o sorriso ainda tímido. Chegava em frente à janela cuja vista linda tinha do Quintal magnífico de casa e falava alto- Bom dia mãe natureza! Enquanto meu corpo esticava- se quase por completo. Para, assim, seguir a rotina. 
Os fantasmas ainda me assombravam, por vezes meu psicológico encontrava- se fraco devido à rotina dos estudos, o que sempre os trouxera mais fortes ainda para perto de mim. Eu apenas fazia o meu melhor em ignora- los. Depois disso, li um livro que mudou minha vida,e, que sugiro a todos, não como uma forma de trazê- los para novas crenças, mas sim para apreciarem a beleza de sua informação, para interpretarem a essência do que o mesmo quer passar. O nome do livro é "Brida", de Paulo Coelho. 
Paulo Coelho tem um lago"Mago", "Feiticeiro", cuja doutrina do mesmo remete muito ao espiritismo.  E, isso é muito perceptível em Brida. Resumindo, nessa obra, Paulo nos faz enxergar nas coisas simples e à priori, banais, como algo muito útil. Uma delas refere- se aos nossos sonhos, que por vezes seguem- se de diversas informações e que depois são esquecidas ou deixadas de lado. Mas, na visão dele, há a necessidade de escrever sobre os sonhos, então é sugerida a ideia de deixarmos sempre um papel com lápis em baixo do travesseiro ou o mais próximo possível, e o por que disso? No sonho há o ideal, há o irreal, há a vontade e tudo quanto o imaginário seja capaz de fazê- lo, e é por meio desse que podemos processar maravilhosas interpretações. Outra, é a "Aura", que se apresenta perto do ombro de cada indivíduo. A aura pode ter várias cores com várias intensidades, pois ela explica o momento pelo qual o indivíduo passa. Então, por exemplo, vemos alguém com uma energia incrível a ponto de transbordar, no campo de visão Amires transbordava, ou seja, sua aura contagiava e emanava uma imensidão de luz! Uma das características mais impressionantes sobre a aura é a explicação dos laços que criamos com pessoas que nunca haviam nos encontrado pessoalmente, é o famoso- Nossa! Parece que te conheço há tanto tempo! Nela, a essência faz quase uma substituição pelo corpo. Somos parte de um todo, que foi distribuído em partes ao longo do tempo e em todos os continentes. Quando encontramos pessoas com auras iguais, sentimos uma atração cuja explicação não se define. Isso porque a aura daquela pessoa é parte da minha, independente de ser homem ou mulher. Aí encontra- se a essência. Pois ela elimina o gênero e conserva acima de tudo o amor pelo próximo. Diante dessa explicação, afastei- me do catolicismo e voltei- me mais para minhas concepções sobre Amar a essência. O que a sociedade cria como belo, em minha concepção, não passa de uma ideia de alienação para a população em massa criar loucuras e medos compulsivos que inclusive, quase fizeram com que eu me internasse. O belo aos meus olhos não é o estereótipo, mas a essência. Tudo o que falei agora é a explicação do que senti, dessa catarse que vivenciei durante a transição do corpo movimentando- se até chegar na substituição. Eu me vi em meu próprio ritual, com minhas irmãs e meus irmão, exaltando o desconhecido assim como transformando as palavras dos versos em sentimentos. 


Agora, volto- me para nosso segundo líder, (E). Quando preciso falar de (E), sinto- me no dever de utilizar da melhor forma possível as palavras certas. O que vejo quando ela está em cena ou como por exemplo, durante o campo de visão, é uma pedra preciosa bruta que precisa ser lapidada, na verdade não somente ela, todos nós temos essa parte rígida, mas direciono- me à ela em especial. No início, ainda sentia- me no ritual, mas depois pareceu- me uma festa em seu fim, cujas pessoas já estavam cansadas de tanto dançar. Sim, pode ser isso, ela estava cansada, e pode ter começado a trazer esse sentido como método de substituição. Ou, ela ainda tem receio de mostrar o quão criativa pode ser. Penso, o quanto de energia deve ter nesse corpo pronta para fluir. Apenas se liberte (E), deixe sua imaginação entrar no desconhecido e o explore. Mas, houve um momento em que a mesma simplesmente parou e pareceu gritar para a professora que ela a trocasse por outro imediatamente. Todos nos olhamos e retomamos aos poucos o acompanhamento daqueles passos cansados e tímidos. O líder trocou novamente, agora era João, e então saí completamente do Ritual. O que acontece é que João é brando, leve como uma seda que desliza ao corpo de uma bela dama, por favor, não me entenda mal, refiro à sua tranquilidade exacerbada. Lembro- me de tê- lo visto se dilatar durante uns dos improvisos, e foi incrível, então vamos meu amigo, não tema, dilate seu corpo, dilate sua mente. Trocou novamente o líder, agora sou eu,- espera, eu não conseguia mais chegar à tempo do sacrifício durante o ritual, exceto pelo tambor que tentava me sugar. Eu escutava flores em versos que alguém estava a declamar e de repente consegui me assimilar. Vi- me em minha antiga casa, eu tinha passado o dia anterior no Pronto Socorro, devido ao meu ataque de asma, isso me impossibilitou de ir para o curso. Coloquei minha calça frouxa e preferida, que sempre me remetia ao balé, à minha linda e magnífica professora Ana Mendes. Deitei na cama para ler o livro de Física I, de Halliday Resnick. Estava até concentrada, mas minha atenção foi substituída pelo berro da mamãe. Ela tem o costume de falar alto... - Paquita mamãe! Vem aqui rapidinho, tem uma pessoa querendo te ver!! Quando eu cheguei à janela, vi o Igor, com aquele nariz de rato! Ele era realmente muito engraçado, com o óculos quase caindo e aquele cabelo de anjinho. Eu comecei a rir porque na verdade eu estou quase sempre rindo,. Caminhei até a porta da varanda. Então, seus braços outrora quase invisíveis escondendo- se nas costas começaram a mover- se em minha direção, surpreendendo- me com um buquê de Rosas Vermelhas e um coração de pelúcia com dois anéis entrelaçados. As palavras não apareceram em minha boca, na verdade eu até havia ido lá na frente um pouco sem graça, pois estava desarrumada e com cara de doente. Porém, sabia que se eu não fosse lá, aquele macakito (apelido) iria bater na porta do meu quarto até que eu fosse à loucura. Eu nunca havia ganhado rosas, e aquele momento foi simplesmente único. Lembro que ele precisou retornar para dar aula e eu fui ao quarto, passei um longo tempo cheirando as rosas, toda boba, tão melodramática, tão tímida, tão adolescente. Nós não duramos tanto quanto esperávamos, isso  porque eu me sentia muito nova para me ater num relacionamento tão forte e sério. Eu não queria ser um reflexo na família,... Mas, foi bom enquanto durou. O que ocorria durante essa substituição era uma garota apaixonada que estava a exaltar as flores. Por hora ela queria voar, por isso seus braços ergueram- se e depois ela se sentiu no meio de um mar profundo de paz e então os braços seguiram como se fossem carregados por ondas. 



Aí de repente Rejane trouxe- me para o real, pedindo que cada um de nós formássemos uma dupla com a primeira pessoa que estivesse à nossa vista. Meus olhos encontraram Mari. 
Mari e seus cabelos de fogo, nós a chamamos de Jean Grey, eu particularmente a chamo de Fênix. Ela se aproximou e disse, o que vamos fazer? E, eu lhe disse, hora, é ação e ração, vamos ver até onde conseguimos ir. Comecei empurrando- a, resolvi buscar algo dentro de mim, e encontrei a raiva. Eu a empurrava e recebia grandes empurrões em troca. Um foi muito forte, nossa força levava uma a outra até o outro lado do espaço. Não aguentei, precisava sentir algo mais forte dela, eu queria receber uma reação maior que aquelas, então dei- lhe um tapa. Ela me empurrou mais forte ainda, ... tentei não cair no chão, pois Mari é grande e forte e pela mesma razão eu a queria retrucando seu melhor em mim. Nossos braços se entrelaçaram, eu retirei, comecei a deixar a raiva crescer, dando- lhe empurrões seguidos. Então, Rejane pediu para pausar, enquanto Mari chegava em mim e dizia,- Sami,eu fiquei com muito medo de te machucar. Retribui o carinho, dando- lhe um beijo no ombro e um amigável abraço. 
O vídeo que escolhi para mostrar um pouco sobre o jogo de gerar um impacto sobre o oponente foi o do filme " O poder do Ritmo". 



O estilo de dança feito acima é o Krumping. E eu o escolhi exatamente pelo seu significado. O Krumping advém do clown dancing e seus movimentos tem como um dos sustentos, tirar toda a raiva que está em seu corpo até que não reste mais nada da mesma e apenas haja sentimentos bons, tornando- se assim, uma dança de libertação. Isso tudo porque esse movimento teve surgimento num período onde o que predominava era a violência. Se você observar algumas das sequências, é perceptível que há um tipo de luta, em que cada elemento do grupo tenta atingir em expressões, gestos e movimentos fortes, o seu oponente. Não deixando de ser um jogo de ação e reação.
Fizemos a grande roda para discutir o assunto. Allan foi um dos que se manifestaram e o interessante é que ele falou exatamente sobre o que senti, sobre o sacrifício, sobre o ruído, a vibração. Claro, foi ao seu modo e com suas próprias características frente ao manifesto. Mas, deu para perceber o quanto a maioria de nós sentimo- nos apropriados por toda aquela beleza ritualística. Rejane enfatizou sobre algumas pessoas que precisam se soltar mais, assim como mencionou sobre algo que sempre esqueço, "OS JOELHOS". É incrível como eu consigo esquecer algo tão importante! 
Mas, depois de atentar- me muito às suas palavras, tomei uma decisão. Propus a seguinte ideia para meus amigos:- Pessoal e que tal se nós nos reuníssemos para fazer um treinamento energético contínuo? Muitos gostaram, mas poucos ainda se manifestaram. Então comecei a criar minha própria aula. A parte de alongamentos já é algo muito normal pra mim, e treino constantemente pulando corda para criar resistência. Durante as leituras sobre o  treinamento energético e muitos vídeos que venho assistindo, acabei criando uma grande empolgação. Delimitei os treinamentos iniciais na duração de duas horas e meia, seguindo o que a professora costuma pedir antes de fazermos as ações livres, como por exemplo, desenhar o círculo e pintar, torcendo o punho e tornar os movimentos mais firmes. Fiquei repetindo durante um bom tempo- Joelhos flexionados, joelhos flexionados! Porém, fiz uma mudança ao deixar 1 hora os movimentos sem som e depois coloquei uma sequência de músicas com tambor e outros instrumentais Membranofones voltados para as músicas africanas. Por que Músicas Africanas? Porque há uma essência nelas que me levam para uma outra realidade. Sinto- me envolta de uma fogueira, no deserto, livre, somente há as estrelas e o resto é sugado pelo tambor através do meu corpo. Está sendo uma experiência muito interessante. Recordo que anteriormente referi- me a resistência, mas chega um momento durante os movimentos que nosso corpo parece querer falhar, nesse momento talvez tenham surgido as ações. Para saber melhor, terei que filmar, e ainda encontrarei um modo de fazê- lo para lhes mostrar. 

Att.: Sami Cassiano.

  

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