terça-feira, 19 de abril de 2016

Dilatação da Voz

Aula de Voz I

19 de Abril de 2016

A aula, dessa vez, foi ministrada em sala de aula. Para tornar o ambiente mais propício, concordamos em apagar as luzes durante a recitação dos poemas. Iniciamos com Alberto, não me recordo agora se fui eu que recitei depois do mesmo. Mas, comentarei sobre o momento em que fui recitar. 
Luzes apagadas. Decidi não usar a luz do celular para que não fosse tirada a minha concentração, caminhei até um ponto em que as cores das palavras tornaram- se visíveis devido ao pequeno feixe de luz que reluzia do corredor pelo vasculhante. Meus ouvidos fecharam- se. Primeiro, voltei à infância. Eu estava no quarto dos meus pais, com o livro de literatura na mão, esperando pelo-" Pode começar"! De papai Fernando. O meu pai Fernando na verdade não é meu pai biológico, Ele chegou em minha vida quando eu tinha mais ou menos uns quatro anos, lembro- me que um dia ele conversou sobre algo parecido, Você pode me chamar de pai se quiser ou de tio Nando. Mas, escolhi chamá- lo de pai. Isso porque ele cumpriu desde sempre esse papel. Seus métodos de ensino eram um pouco rígidos para a minha mente e de minha irmã Nanda, sua filha biológica. Durante os estudos de matemática, ele nos sentava lado a lado, pegava a palmatória e começava a perguntar sobre as multiplicações, adições, entre outras. Sempre que errássemos, recebíamos em contrapartida uma palmada na mão. O estudo terminava e parecia que eu e Nanda estávamos vindo de um campo de tortura, com os olhos vermelhos de tanto chorar, e, as mãos em cor proporcional às dos olhos. (risos)
Eu gosto de lembrar disso, porque meu pai me ensinou a querer aprender a tabuada para não levar mais palmadas nas mãos, aprender se tornou uma questão de honra, aonde quer que eu fosse, levava a tabuada comigo, esquecia do tempo no banheiro só estudando as multiplicações. As sabatinas continuavam e eu levava cada vez menos palmadas, mas continuava chorando muito porque a Nanda nunca gostou de matemática e preferia levar palmada a estudar os cálculos. Não era diferente em relação à leitura. Ele nos colocava no quarto, trancava a porta e dizia:- Eu quero escutar claramente o texto daqui, na sala. E, depois me expliquem o que entenderam. E a batalha literária começava. A verdade é que eu nunca passava muito tempo recebendo chamadas por algo. Sempre procurava me superar e até começava a me sentir muito bem fazendo isso. Mas, quando Nanda entrava em cena, aos meus olhos iniciava- se o martírio. Hoje costumamos rir muito mesmo disso. O fato é que essa foi a essência para que eu inicia- se a recitação. Depois, me vi dentro do meu quarto, com mais ou menos uns 18 anos. Sofrendo de depressão. É que eu sempre tive uma paixão imensa pela dança. E, apesar de ter iniciado o curso de física, de virar noites e noites em claro estudando, em minha mente, esse mundo não fazia muito sentido. Eu era rodeada por amigos das turmas de química, física, engenharia, biologia e publicidade,... mas ainda assim parecia estar sempre sozinha. Quando iniciei o curso de Física, sumi das aulas de balé, pois queria tentar seguir em frente e me focar, mas não demorou muito para minha mente ficar conturbada e meu corpo chorar pedindo para voltar. Liguei para meu antigo professor de Hip Hop, Edgar Damasco, pedi que me ajudasse a retornar. Ele conseguiu uma bolsa pra mim no turno noturno. Então, nesse período ganhei duas bolsas, umas pela CAPs referente ao projeto que desenvolvia com meu orientador Dr. João Netto e a bolsa no Studio de Dança Patrícia Marques. Minha rotina era acordar às 5h45 para estar às 7h no IFAM, que era o horário da orientação. Depois da orientação vinham os estudos rotineiros até as 13h, início da aula, saía as 18h correndo, para receber a carona de um amigo que adorava tudo relacionado à dança, e por esse amor, ele me ajudava sem cobrar nada, nada mesmo em troca. Às 19h já estava com a roupa confortável e pronta para ensaiar. O retorno para casa era sempre complicado, pois o bairro em que eu tinha as aulas era muito longe de casa e passava por outros bairros considerados muito perigosos. Mas era tão bom,... Depois de um tempo eu já começava a faltar às aulas de Cálculo IV (eu realmente adorava essa disciplina), e um espetáculo muito importante se aproximava. Eu começava a me sentir um pouco fraca,... adoeci. O médico me informou que adquiri gastrite, e, que sofri uma fadiga. No decorrer dos dias comecei a sofrer por não saber mais o que fazer de minha vida... Meu co- orientador conversou comigo, disse que meu projeto estava entre os mais cotados e que se meu embasamento e cálculos tivessem bons fundamentos como o esperado, conseguiria uma bolsa de estudo na França. Consegui acesso às aulas de Frances juntamente com meu namorado, do curso de Engenharia Mecânica. Agora, havia mais uma preocupação. Numa manhã, tranquei a porta do meu quarto, me encostei num canto, entre a cama e o guarda- roupa, e me entreguei ao choro... Eu poderia conseguir a bolsa, quem sabe trabalhar em algum Instituto de Meteorologia ( sempre tive fascínio por fenômenos e desastres naturais como Descarga elétrica, Tornados, Tempestades) ou poderia correr o risco de me engajar na dança ou no Teatro,... E, pensei no que isso implicaria para meus pais, em especial ao meu pai Edimir... Pensei na reputação de minha família, eu era a filha que passara nas Universidade e Instituto Federal,.. eu era o comentário para os parentes, motivo de orgulho da minha linda avó. Perguntei a mim mesma, olhando para o espelho do armário. Samires, o que você quer? O que você quer? O que você quer? A minha mãe me interrompia de hora em hora perguntando se estava tudo bem, enquanto eu só retrucava, enxaqueca, enxaqueca,..  Então tomei uma decisão da qual não posso mais reclamar, pois hoje sei que tudo me levou para o lugar em que estou hoje. Eu apresentei no espetáculo. Antes de começarmos lembro de ter ido ao palco ainda vazio, fiquei olhando para tudo ao redor. Agradeci a Deus por ter me dado aquela oportunidade de dançar, prometi que não erraria nenhuma sequência,... Depois foi a magia. Foi perfeito. Terminei meu namoro. Cheguei ao 7º Período, mas encontrei alguém cuja essência nada perfeita o tornou perfeito, pois todos os nossos erros trouxeram- me para onde estou. Já aqui e longe de meus pais, continuo a tomar decisões e correr atrás de coisas importantes. Mas, essa corrida ganhou novo sentido. Esse curso deu- me a chance de poder responder o que quero ser. No fim das contas eu sempre presenciei meu próprio drama. Sou alguém que rir sem motivo, aliás quase toda a família de meu avô materno, " Minha maior inspiração", é assim. Choro na mesma medida que em fico rindo, choro de saudade, choro de amor, choro pelo que for. Grito quando preciso, as pessoas me acham fofa e eu me acho uma boba e tola. Pois meu excesso é um drama que não tem fim... Por isso escolhi esse poema. Por isso fiz essa substituição. Segue o poema de Clarice Lispector.
Sonhe
Seja o que você quer ser,
Porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê- la doce.
Dificuldades para fazê- la forte.
Tristeza para fazê- la humana.
E esperança suficiente para fazê- la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus
caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram .
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por 
suas vidas.

Quero agradecer à professora Rejane por sempre conversar conosco, nos mostrando onde melhorar, nos ensinando novos caminhos. E, agradeço muito aos meus amigos de sala, porque sei que compartilhamos muitos sentimentos juntos. Sempre faço questão que me falem o que for preciso, porque acredito muto no processo contínuo de aprendizagem. E, confio muito nos profissionais que nos direcionam nessa Universidade. Quero enfatizar uma pessoa, que, por imenso respeito, darei apenas o nome, "amigo". Ao meu olhar, quando escolho algo, não o escolho por escolher. Há uma essência pelo que optei. Mesmo alguém que diga, eu não pesquisei ou eu não procurei, precisou de um nome base para sua pesquisa, precisou escolher em algum momento. Então meu querido amigo, lhe direi algo que aprendi com uma incrível Professora Doutora. 
Aquilo que eu não sei.
Eu procuro
Eu leio
Eu treino
E aí sim eu o aprendo.
Não tema o desconhecido, torne as barreiras uma motivação para aprender sobre o desconhecido. Pois assim, quando algo similar lhe aparecer novamente, você já não o temerá como antes. Eu falo isso como alguém que se deparou diante de uma barreira, e por medo, preferi mudar a ter que encarar. O professor está presente em nossas vidas para nos direcionar. Então temos que nos desfazer de tudo aquilo que possa nos cegar diante de nossa aprendizagem. Com a mente clara e aberta, conseguiremos enxergar melhor esses caminhos. E, o que digo, é para você, para mim e todos os nossos amigos.

Att.: Sami Cassiano

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