quarta-feira, 27 de abril de 2016

Explosão!

Aula de Corpo I
Em 27 de Abril de 2016

O Corpo dilatado é um corpo quente, mas não no sentido emocional ou sentimental. Sentimento e emoção são apenas consequência, tanto para o ator como para o expectador. O corpo dilatado é acima de tudo um corpo incandescente, no sentido científico do termo: as partículas que compõem o comportamento cotidiano foram excitadas e produzem mais energia, sofreram um incremento de movimento, separam- se mais, atraem- se e opõem- se com mais força, num espaço mais amplo ou reduzido.( A Arte Secreta do Ator. Barba/ Savarese. p. 54) 

Inicio o relato dessa aula com a citação de Barba/ Savarase a respeito de dilatação. Isso, porque partimos de uma riqueza de procedimentos assim como de improvisos para começar a estruturar a peça Sente- se quem puder. Durante as primeiras apresentações, estavam em palco os personagens Alberto e Clarice, cuja regra de jogo transparecia no decorrer das falas, como por exemplo as combinações de músicas que completavam suas frases, posso dizer que sabemos quando há também uma ótima química entre a dupla.
Bastidores: no centro, de vestido, podemos ver o Ator que interpreta Clarice
(Diogo).

A dupla Clarice e Alberto em completa sintonia.
Um ponto interessante que começamos a desenvolver foi o objeto humano, num estilo mais simbolista, a figura humana organizada junto ao cenário tornava- se parte de um todo, torna- se parte daquele ambiente. Logo, conseguíamos visualizar guarda- roupas, cama, sofá, pinturas famosas em tela e esculturas que, quando unidos ao ambiente nos respondia com tamanha beleza: Veja! Sou a contribuição de um todo, sou um objeto, sou uma forma, tomei forma!
Isabela e Samires, em diagonal direita, formam o guarda- roupa.

João, lateral direita, forma o Cabide perto da porta.

No meio, Lucas é o tapete de Urso, atrás João Bisi é
Vaso de Cerâmica. Nas coxias, os atores interpretam
os vizinhos curiosos.
O que acrescento como aluna e observadora é o fato de termos em palco pessoas experientes e pessoas inexperientes, que, ao tomarem forma, não conseguiam obter uma concentração forte o suficiente para segurar até o final da cena aquele objeto. Tomo a mim mesma como exemplo, apesar de não ter essa imagem na foto, quando tomei a forma da estátua Discóbolo de Miron. (c.450 a.c.)
Discóbolo de Miron (c.450 a.c.)
Meu comprometimento de estudo da imagem foi terrível, pois troquei a posição das pernas e não conseguia lembrar de forma alguma em que posição ficava o braço direito. O que deixou meu corpo instável e insustentável. Lembro de escutar a professora relembrando Sustenta o Corpo! Escolheu agora tem que sustentar!
Outra situação que não pude deixar de perceber é o fato de saber que agora, mesmo com muita ou pouquíssima experiência, não sou e nem posso mais agir como uma mera estudante aspirante e tampouco quero ser alguém que faça atos que prejudiquem  ao grupo, o que quero dizer com isso é que vi a grande empolgação de todos (me incluo em muitos momentos), mas que mesmo a empolgação na hora da criação e transição de uma cena para outra, poderia ter ocorrido com um pouco mais de comprometimento, como por exemplo evitar várias conversas paralelas enquanto a professora mencionava constantemente as mesmas palavras. Cheguei a pedir à uma colega que respeitasse um pouco evitando falar enquanto a professora instruía, recebendo em contrapartida palavras grosseiras. Não direi nome de ninguém. Gosto imensamente de minha turma e sei que somos demasiadamente falantes e empolgados, contudo, claro, como não ser quando somos atores. Mas, como atores e futuros docentes, em algum momento estaremos numa situação como essa, é apenas um caso a se pensar, que no decorrer do tempo teremos de aprender um pouco mais sobre sermos profissionais.

A Explosão em cena

Novamente estou eu aqui, a falar de meu querido amigo San, meu companheiro de paixões por desenhos, pelo Japão e tantas outras coisas. Algo a mais que me serviu como aprendizagem hoje é que estamos suscetíveis a qualquer coisa, enfatizo, " qualquer coisa". Durante uma das cenas, agradeço por ter sido a final, a Rejane simplesmente falou, San, esse é o seu momento. E, como ele adora, começou os giros, gritos de monstro, pulando, haviam muitas pessoas ao redor. Paro e volto. Mais cedo no trabalho, estava me sentindo mal, com muita dor de cabeça, então meu marido pediu que eu ficasse em casa, mas isso é quase impossível porque não gosto de forma alguma de faltar aulas, logo, resolvi ir. Provavelmente durante esse horário o meu amigo San estaria entrando na van para seguir à Universidade. Depois de algum tempo eu cheguei, e, ele, logo em seguida. O ensaio continuou e ele esqueceu de tirar o tênis. Durante esse momento eu estava tranquila e sorridente pensando na próxima cena. Ele teve a primeira explosão e eu fiquei com receio vendo todos se jogando no chão. Rejane falava, alguns prestavam atenção, outros riam, outros brincavam, outros estavam no mundo da lua. E voltamos para a explosão. Paro novamente. Se eu tivesse voltado para casa, teria descansado um pouco, mandado a mensagem à professora pedindo minhas desculpas por não ter ido à sua aula. depois procuraria desenvolver uma das postagens no blog, enquanto o San estaria na van seguindo para a Universidade e estaria atento ou não ao fato de que seria melhor tirar o seu tênis durante o ensaio, e de repente quando Rejane dissesse- " é seu momento". Ele teria feito sua maravilhosa explosão como o de costume sempre nos trazendo alegrias, provavelmente eu teria assistido ao possível vídeo que alguém resolveria fazer desse ensaio, rindo sempre das performances dele. Mas, ocorreu o contrário, quando a frase é o seu momento se firmou, percebi não estava em casa, senti apenas uma estranha sensação, uma leve dor que aumentaria assim que meu corpo começasse a esfriar. O San estava de costas para mim quando deu um grande pulo, e, eu estava de lado tentando não cair do empurrão que levei de um dos colegas, quando o pé dele, calçado com seu All Star concentrou todo o impacto que poderia em seu calcanhar, para conseguir equilíbrio, ainda com as penas flexionadas na mesma posição que um jogador de Vôlei cai depois de sacar uma bola. Bem, eu fui andando devagar para o banheiro, tentei lavar o dedo que já estava num roxo quase um vinho tinto, uma mistura bela. Meu corpo começou a esfriar e senti uma dor inevitável, consegui uma carona com meu amigo. O vento forte ia de encontro com a moto enquanto sua frieza penetrava as laterais de minha unha ensanguentada. Mas, sobrevivi. Quis enfatizar a dor, porque nunca na minha vida tinha espocado meu dedo numa situação tão absolutamente boba. O resultado é que estou perdendo minha unha, que encontra- se com o sangue coagulado na derme. Ela só crescerá depois que a parte morta sair completamente, então todos já sabemos, que não importa o trabalho, sempre há situações inusitadas, até onde soube, atores esperam morrer no palco, então porque não perder a unha ou quase um dedo.
Tirando isso, a aula foi maravilhosa!

Att.: Sami Cassiano


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