terça-feira, 26 de abril de 2016

The Blues

Aula de Voz I

26 de Abril de 2016

Essa aula me tocou intensamente, primeiro por perceber que o nosso processo ficará lindo, segundo porque uma das escolhas para a voz tem como base o blues. O blues, a princípio, teve o nome de "worksong", que se deu a partir da vinda de negros que foram escravizados durante um longo período, nos EUA. Relatos informam que os mesmos costumavam cantar durante o trabalho melodias tristes ou esperançosas que diziam mais ou menos que esperavam ansiosos o final do dia, que sentiam falta de familiares ou que estavam sofrendo. De algum modo essa história me afeta muito. Quando criança, costuma escutar algumas músicas enquanto minha mãe arrumava o guarda- roupa e dentre elas havia Jimmy Hendrix, Bruce Springsten, B.B. King entre outros, como por exemplo Aretha Franklin, que gosto muito. Talvez minha mãe tenha sido fundamental para que minha mente fosse sempre aberta para novas ideias e possibilidades, pois costumo escutar muitos estilos de músicas desde nova. Porém, sejamos francos, uma gaita e uma guitarra são suficientes para tornar o som poderoso. E, foi exatamente isso que ocorreu no anfiteatro. Nossos colegas, Vitor, Juliana e Paulo Henrique simplesmente foram maravilhosos na execução dos sons. Abaixo segue um dos worksongs, no período de árduos trabalhos de negros escravizados, prisioneiros. 

Durante nossos processos de pesquisa para elaboração das postagens acabo percebendo o quanto minha mente vem permitindo- me olhar em ângulos diferentes as mais variadas formas de aprendizagem, digo isso voltando- me para a diversidade de culturas que contribuem para novas técnicas que ajudam na elaboração de ideias e formação de pesquisadores. Agregar o blues à nossa performance abriu espaço para brincarmos um pouco com nossas vozes. Quando escuto essas canções, sozinha, costumo fechar os olhos para sentir o máximo possível toda a sensação que aquela música pode me proporcionar. Mas, em grupo, há uma certa diversão, uma liberdade.

Segue abaixo nosso primeiro ensaio para a realização da abertura de processo.




Seguimos numa grande roda preenchendo todas as laterais do Anfiteatro. Allan começou a cantar, não era uma música certa, mas sim arranjos de notas, melodias que remontavam ao blues, depois um de cada vez tinha seu momento para cantar no microfone. De acordo com BELO, Sara:

(...)A voz pode ser usada como um recurso expressivo e criativo bastante importante. Por exemplo para gerar ambientes sonoros: imitação de animais, imitação de sons produzidos pela natureza (como o mar, o vento, etc.), para gerar ambiências de terror através de gritos, de respirações; ou pode ser usada na sua vertente mais musical: voz cantada a solo ou em conjunto; enfim, a voz pode ser usada de tantas formas quantas a imaginação o permitir. Por isso o actor tem de ter uma voz livre, mas ao mesmo tempo dominada e preparada para servir múltiplas e variadas propostas: a par de um aprimoramento e rigor técnicos tem de arriscar e procurar outros registos expressivos. (A VOZ NA CRIAÇÃO CÉNICA - Reflexões sobre a vocalidade do actor. p. 21, 2011)

Assim, a roda de atores começou a preencher o palco aos palcos, entoados pelo som do tambor cada vez mais intenso e frequente, remetendo- nos ao medo, ao susto, ao terror... o tambor forte é a deixa para o grito de horror frente à plateia. Meus olhos seguiram na direção do que antes seriam as cadeiras, mas agora, deformadas, apareciam criaturas estranhas que se contorciam. Todos parados, olhar para a plateia, o som do tambor retorna, seguimos para trás, juntamo- nos, deixamos o ruído tomar conta e começamos a brincar com a voz. - Mamãe! Hey, você está aí? Olá? De repente, anne iniciou a cantiga de ninar, Se essa rua fosse minha. Fomos nos levantando aos poucos seguindo a canção, retornamos para as laterais com as cantigas cada vez mais animadas, demos praticamente umas três voltas até retornamos novamente ao palco brincando e cantando. Com uma energia que parecia querer explodir a qualquer instante, senti novamente a felicidade de uma criança. Mas uma criança no coração. 

O actor é, simultaneamente, um elemento de importância primordial – pois é da eficácia da sua actuação que depende o êxito do espectáculo – e uma espécie de elemento passivo e neutro – pois toda a iniciativa pessoal lhe está rigorosamente vedada. Este domínio é, aliás, um domínio onde não há regras precisas; e entre o actor a quem se exige apenas um simples e determinado tipo de soluço e o que tem de pronunciar com todas as suas qualidades pessoais de persuasão, há a mesma margem de separação que entre um homem e um instrumento. (ARTAUD, 1996, p. 96).

Att.: Sami Cassiano.

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