segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Uma substituição que liberta a alma.

Corpo I ( Aula 2)

Aula de Corpo I

15 de Fevereiro de 2016

Como informado anteriormente, acabei perdendo a primeira aula de corpo e após os comentários de meus colegas referentes à mesma, fui bastante empolgada imaginando o que estaria por vir no próximo encontro. E, como posso descrever a experiência a seguir?- Foi libertadora e dolorosa ao mesmo tempo. Vocês entenderão melhor no decorrer o texto. Boa leitura!  
Obs: As Iniciais em parênteses representam os nomes da professora e alunos participantes em sala.

A aula inicia e começamos os alongamentos: 
Parte I
(R): -Vamos lá, joelhos flexionados alongando os pés e o quadril, procurando mantê- lo no centro. Seguindo, imaginem como se estivessem afastando algo de vocês procurando manter os joelhos sempre flexionados. Agora, vamos furar os vento com movimentos hora rápidos e hora bem devagar, começando assim a torcer os pulsos, mãos fechadas buscando explorar o espaço (ao meu ver dando um sentindo de aversão, como se algo nos impedisse e por vezes nos escapasse), totalmente fora do normal para os movimentos rotineiros de nossos corpos. A princípio, me senti envergonhada, o que é engraçado pois eu tinha o costume de dançar ballet contemporâneo, Jazz e Hip Hop enquanto mais nova e havia momentos nos palcos em que fazíamos movimentos e alongamentos bem diferentes, fossem eles simétricos (clássico) ou assimétricos e expressivos (contemporâneo), deixando- me incomodada. No decorrer dos passos, ao furar o vento, comecei a entender o que realmente acontecia ali. Entendi que não estava dançando e que minha mente estava me manipulando, trazendo- me receio e medo de explorar o desconhecido. De acordo com FERRACHINI: 

A diferença é que na dança pessoal buscamos em nós mesmos, essa relação corpórea nova para "mergulharmos" dentro dela, numa espécie de energia convergente, explorando todas as suas possibilidades. No energético, buscamos o mesmo, mas jogamos essa energia para o espaço, usando- a de maneira divergente. (pag. 100)

O que me possibilitou discernir que não seria como passos em que todos nós traçaríamos movimentos para o mesmo caminho. Mas sim passos sem uma direção em comum, aonde cada um explora o meio  ambiente com pontos de vista diferentes. Gerando conflito com o corpo e a mente. Eu estava presa e isso era um desconforto para o corpo, que parecia estar atrofiado. Criei coragem, meu corpo e mente fluíram, comecei a soltar as amarras que inibiam minhas mãos e pés. Por vezes meu pulso se contorcia, como um bloqueio para que eu não saísse da minha zona de conforto. Fui  ultrapassando as barreiras a cada passo jogando- as como se fossem rochas que empatavam meu caminho. Saindo lentamente, encantei- me com a beleza do desconhecido. A partir desse instante meu corpo começara a fluir exalando energia. Segue abaixo nosso treinamento energético. 




Parte II
R: - Quando eu bater palma vocês farão os movimentos arbitrários. Escolherei alguém entre o grupo que agirá como líder, fazendo movimentos aleatórios, e vocês só seguirão o mesmo enquanto estiver ao alcance de sua visão, saindo de vista esperem até que possam vê- lo novamente. Ao falar outro nome, seguirão o mesmo como um novo líder, tomando para si esses movimentos e substituindo- os por algo que lhe seja similar enquanto no seu cotidiano.
É dada a primeira palma seguida de movimentos aleatórios e a única imagem que me veio à mente foi o quintal atrás da casa de minha mãe, lembrei- me que corria descalça e que cada brincadeira com meus irmãos e primos ali era como um tipo de aventura. Então deixei- me guiar. A líder (A) inicia movimentos mais calmos e suaves, levando- me à minha primeira apresentação de ballet, cuja canção " Fascinação" na voz de Elis Regina arrepiava- me das pontas dos pés até o último fio de cabelo e ainda assim eu tentava conter toda a emoção de estar dançando para tantas pessoas e saber que em especial era para a minha mãe. Em contrapartida, o líder (C) conduz- me à uma correria e desvio de obstáculos, levando- me para o que costumava fazer no cotidiano, buscando um tempo para cada atividade que fizesse, fosse do início do dia para chegar na faculdade seguido de corridas para o estágio na escola até o momento de descontração com meus amigos; faz- me lembrar que quando eu me sentia muito pressionada pelo projeto que desenvolvia, costumava fugir de todas as pessoas que conseguisse buscando a calma em meio a solidão. O líder (P) me tirou completamente do que sentira anteriormente, seus movimentos a princípio estranhos começaram a modelar um macaco, e foi bem legal pois pessoalmente adoro símios, a cena que construí nesse momento foi a imagem do filme "Planeta dos Macacos: A Origem"; com direção de Rupert Wyatt, parecia- me a cena em que César ( Andy Serkis) conhecera a natureza explorando todo o ambiente, pulando, correndo e saltando de galho em galho. O líder (AL) fez- me parecer uma Wendy voando com o Peter Pan conhecendo toda a magia da Terra do Nunca, via por vezes meus colegas fazendo também suas analogias, mas aos meus olhos pareciam os meninos perdidos que outrora haviam sido raptados pelo capitão gancho. O interessante desta analogia foi o fato não somente do líder realmente lembrar o Peter Pan, mas também pelo impacto que essa história tem sobre mim desde a infância relacionada à imaginação e criação, como por exemplo: um telefone aos meus olhos infantis, formava a imagem de um computador; o papel rabiscado era o dinheiro, o barquinho de papel era um navio e a água na bacia era um oceano. A arte de imaginar objetos em vários ângulos e de formas diferentes nos ajuda a resolver aquilo que para outro pode ser um problema. Ao finalizar esse momento pensei comigo mesma, eu costumo viajar, mas nunca viajei tanto, é muto interessante pois, não sei quanto aos meus outros colegas, mas me senti numa espécie de transe. Vi o quanto já estava desinibida em relação à primeira parte de nosso treinamento corporal.

Parte III

R: - Paralelos uns aos outros, o primeiro escolhe alguém do outro lado, exerce uma ação sobre o mesmo, volta ao seu lugar. A pessoa que sofreu a ação retribui com uma reação. ambos se fixam no meio enquanto exercem movimentos que no decorrer do tempo que serão substituídos por algo que acontece em seu cotidiano, como por exemplo; sua reação ao falar com sua melhor amiga. A princípio serão feitos somente os movimentos, sem diálogo.
Caminhei em direção ao (E). A imagem criada naquele momento era de minha irmã, que mora em outro estado, chegando para me visitar. Na metade da caminhada busquei expressar minha emoção ao vê- la dando um grande sorriso e abraçando- a fortemente. Retornei. (E) a princípio provavelmente não entendeu mas fluiu de acordo com a ação iniciada, levando- me para o meio e começando a brincar e a dançar. Depois nos sentamos dando a ideia de que lhe mostrava fotos dos lugares que conheci ao chegar na Cidade em que resido atualmente. Com o passar do tempo percebi que fomos mudando completamente e já não parecíamos mais duas irmãs, talvez porque nesse momento eu comecei a sair do meu mundo e entrar no dele. Senti então seus movimentos de repulsa, tentando afastar- se de mim, por vezes tentei me aproximar dando menção de acalma- lo. Mas nada do que fazia dava certo. E então, a professora entrou para da procedimento ao próximo ponto.

Parte IV

Foi nos dada a liberdade de dialogar

Meu parceiro começou a dizer: - Você não me conhece?! 
Senti que as expressões corporais agora eram violentas e lembravam diretamente a cena de um casal a brigar dentro de casa. Eu transmitia querer sair daquela situação, pegar minhas coisas e ir embora, mas quando tentava, ele ia até mim segurando- me firme e dizendo- aonde você pensa vai?! Num súbito momento rimos juntos da situação, foi um lapso da cena estranha que estávamos criando. Retomamos numa contínua discussão, falando alto dizendo que o outro era melhor que ele para instigá- lo a ter mais raiva. Ele segurava meu queixo e eu tentava entender o que ele falava, meu corpo não respondia mais a mim e sim à uma mulher com medo. Foi então quando a professora deu a pausa. E caímos na gargalhada um com o outro falando, o que é isso? Nossa!! - Eu saí do transe! 

Conclusão

Sentamos todos formando um círculo para comentar as nossas experiências. Sinceramente, nesse momento eu não consegui falar. Talvez porque era algo completamente inovador aos meus olhos e tudo o que tentava naquele instante era absorver toda àquela situação. Ao ouvir também as analogias de alguns colegas que comentaram no círculo, percebi que felizmente a criação desses mundos tão únicos sob cada olhar não era somente minha. E isso é ótimo, pois acabou me deixando mais empolgada.
Chegando em casa, a princípio realmente não conseguia dormir, a minha mente era bombardeada por imagens em cima de imagens, e depois vieram os espasmos em meu corpo. Mesmo fazendo exercícios rotineiros meu corpo ainda não sentira o que sentia nessa madrugada. Foi maravilhoso, pois a dor mostrou- me que eu realmente me entreguei nessa nova experiência.



Sugiro o que veja o vídeo acima. Coreografia de Kyle Hanagami, o mesmo me retoma uma ideia a mais de como faria uma sequência para demonstração Att.: Sami Cassiano


REFERÊNCIAS

FERRACINI, Renato. O Treinamento Energético e Técnico do Ator, Revista do Lume. v. 1, 2012



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