segunda-feira, 2 de maio de 2016

Dor, Força, Amor!

Aula de Corpo
Vila Velha- ES, em 02 de Maio de 2016

Foi nos pedido que levássemos no caderno as descrições de nossos movimentos. No sentido de entender e interpretar o que passamos enquanto desenvolvíamos nossa partitura anteriormente. Ficava a critério de cada aluno seguir a partitura de um colega ou a sua própria partitura. Apesar de ter gostado bastante da partitura de Paulo Henrique, tive uma identificação imensa com minha interpretação anterior, ficando assim, com a mesma. 
Antes de iniciarmos as partituras, fizemos um breve treinamento energético utilizando novos métodos como por exemplo o ato de beliscar, arrastar algo, chutar o ar, dar soco no ar e arranhar, o que me possibilitou novos movimentos. Durante esses movimentos, senti uma conexão muito grande com a Força. Em que sentido? Quando procuramos pelo significado dessa palavra no google, vemos que, no conceito físico, a força significa o ato de alterar o estado de repouso ou de movimento uniforme de um corpo material. Ou, qualidade do que é forte, vigor físico. Logo, eu comparo esse conceito com o ato de exercer movimento sobre um corpo tendo em conta todas as suas questões norteadoras, que seriam- a capacidade de um corpo humano sentir sensações através do toque, da visão, audição ou do paladar. Tais sensações seriam o princípio fundamental para o início de uma reação corporal. Naquele momento, algo tornou essa força possível. Esse algo chama- se dor. A dor de perceber que algumas coisas começaram a dar errado em minha vida, que não conseguia movimentar meu dedo do pé machucado, limitando meus passos anteriormente livres. E, que isso tirava a minha concentração por ter de me proteger de qualquer indivíduo que se aproximasse mais um pouco de meu corpo "em movimento". Depois de muita persistência, a força atuante em mim conseguiu um certo equilíbrio, cada passo vinha como um rascunho, criando um círculo em minha volta, buscando um espaço alternativo em que meu corpo pudesse sentir- se um pouco mais calmo. A força aparece quando eu sou capaz de ultrapassar essa dor. A força aparece quando meu corpo agora mecânico e cheio de energia, encontrou seu próprio ritmo. Agora não há a busca pelo passado, todo a ação de meu corpo veio do que aquele ambiente estava sendo capaz de me fazer sentir. A força agora é apenas um outro componente. Já não sinto a dor, já não sinto a força. Meu corpo transpira a energia que foi queimada, agora meu corpo é vivo.

Interno

Mãe, eu preciso lutar!
Eu sinto medo por tantas vezes.
Medo de acabar sozinha,
medo de não conseguir.
Mãe, não esqueça de mim...
reze por mim como todas as noites
em que me dizia bons sonhos minha fofa.
Mãe, eu preciso lutar!

Externo

Que droga, porque entre tantas pessoas
a dor veio justamente a mim
Poderia eu ter faltado aquela aula
Meu pé estaria bom agora 
e não haveria tanta dificuldade...
Ahh! Deus!! Alguém vai conseguir pisar em meu pé!
...
Nossa... que música bonita.
Todos parecem tão livres.
(olhos fecham, braços embalados, hora livres e ora com repulsas)



Ensaio: Partitura

Descrição:
  • O Toque: Os dedos contornam suavemente os lábios trêmulos.
  • O Chamado: A concentração é tirada por alguém que adentra no cômodo.
  • O mundo nas costas: Ela é empurrada duas vezes com muita força e quase não consegue se levantar.
  • O Sonho: Seus punhos cerrados nos chão se contorcem buscando apoio. A cabeça se ergue, parece enxergar algo, os dedos são levados por esse elemento estranho formando um desenho abstrato.
  • A Dor de Cabeça: Sua mão esquerda senti uma forte dor na nuca, começa a se descontrolar, sente raiva, segura e solta com força seu cabelo.
  • O Reflexo: Tenta de desfazer de tudo de ruim que lhe preenche, escapa correndo. Mas, depara- se com seu reflexo no espelho.
  • Nojo: Encara assustada a figura, a mão na boca falta lhe tirar o ar. Sente nojo e desmancha toda a maquiagem que lhe moldara outrora.
  • A gravidade: Sem forças, chegou o seu limite. Se entrega à força do centro da terra. O corpo, como um ímã, cai ao chão.

Interpretação a partir das descrições feitas referentes à partitura acima.


Para Stanislavsky, sobre o Método das Ações Físicas, o ator deveria procurar expressar- se não mais através dos estados emotivos e abstratos, mas através de algo concreto, como as ações físicas. E, compreendendo seu significado, compreenderá também o método. Para o mesmo, a ação física seria o pleno domínio que o ator deveria exercer sobre o seu corpo para também ser capaz de dominar sua emoção. (FERNANDES, Cinthia. O Treinamento do Ator e a Pedagogia do Teatro. 2012, p. 11)

Assim, pergunto- me, até que ponto devo me basear utilizando- me dos estados emotivos? Até que ponto aproveito o que o externo também pode me proporcionar? Há uma linha tênue capaz de limitar o ator para que o mesmo não se perca? Percebi que a Força utilizada por mim foi capaz de colocar- me numa bolha, que foi expandido até seu limite máximo. A minha preparação para a partitura fez- me passar pela emoção do que a vida me proporcionou como ponto de partida e o público ( meus amigos), trouxe- me uma emoção diferente. A que me situa do lugar, do momento e de quem estou vivendo. Acredito, a princípio que se há o excesso de qualquer uma das partes, sejam interna ou externa, o ator acaba por se perder um pouco em sua perfomance, levando à visualidade de que há realmente alguém que se passa por aquele personagem.

Att.: Sami Cassiano

Referência

FERNANDES, Cinthia Márcia. O Treinamento do Ator e a Pedagogia do Teatro. 2012 Brasília- DF.

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