quarta-feira, 16 de março de 2016

Jogos Teatrais: Um manicômio esquecido

16 de Março de 2016

Aula de Jogos Teatrais

Depois de muito diálogo, já advindo da aula anterior, tentei pensar em relaxar, formei um grupo com (S), (I) e (T).
A Regras eram:

  • Alturas diferentes: Durante o improviso devíamos manter sempre alturas diferentes, toda vez que alguém ficasse na mesma altura do outro, o que visse devia falar alto, para que assim pudesse nos lembrar de que alguém estava fora do contexto, nos levando a procurar novas posições para não ficar com o corpo no mesmo nível;
  • Sem um membro: Cada um tinha a ausência de um membro do corpo, assim eu não enxergava, (I) não tinha um braço, (T) era surda e (S) não tinha a cabeça. Toda vez que um de nós se descontrolasse e gritasse, tínhamos de trocar uns com os outros; 
  • Encontro de Bumbuns: Toda vez que alguém dissesse uma palavra em inglês, todos tinham de correr até o cego fazer um encontro de bumbuns;
Situação: Éramos loucos que achavam que estavam curados e estávamos fugindo de um hospício.
A nossa equipe estava super empolgada, todos falavam: Nossa! vai ser incrível! Que ideia legal!
Até que o grupo de (D) entrou em palco e apresentou a cena de um hospício. Desse momento em diante o que surgiu nos rostos de minha equipe era:- e agora? Temos que mudar? Vamos mudar! A apresentação deles é igual à nossa!
Esses questionamentos geraram um conflito interno, remetendo- nos a tudo o que eu estava tentando esquecer referente à apresentação passada. Então eu respirei fundo e disse:- Calma gente, e daí que eles escolheram hospício, nossas regras são diferentes, a situação também, com certeza será um ótimo motivo para a professora conversar depois.
Decidimos seguir ao palco e quando eu pensei:- enfim, é agora! Todos da equipe pararam já em frente ao público e começaram a falar:- eu faço isso? é hospício mesmo ou vamos fazer num hospital?. Eu fiquei louca por dentro, queria dizer: - não tenham medo, vamos arriscar... Mas, por fora saiu- é hospício, vamos!!!
Começamos já numa zorra, em meu pensamento, eu poderia tentar sentar e sei lá, imaginei que alguém teria a brilhante ideia de tirar a cadeira na hora, mas sentei rápido e ninguém apareceu.. fiquei pensando, preciso fazer alguma coisa, aí gritei para trocarmos os membros, e disse de imediato- cadê minha cabeça?
Como Thais estava no chão pensei rapidamente e já agindo, cheguei perto dela como alguém sentindo uma cabeça e comecei a puxa- la.
- Está aqui, encontrei, é minha cabeça!! Escutei risos, não sabia nem se era para a cena que criei, mas estava satisfeita. E então me deixei levar. Acontece que eu tenho um super amigo que não largo e que é muito hiperativo, o (S) sempre se empolga, ao meu ver, ele é a vida do grupo, não importa o grupo, ele é a vida, porque sei que esse é o jeito dele, é como se ele tivesse um mundo paralelo e na hora que tudo parece perdido, ele entra nesse mundo e com seus gritos e suas loucuras acaba chamando a atenção de todos. Acho que a única questão que falta é haver a lembrança da continuidade de regras, porém, quando ele entra no mundo paralelo, não existe mais regras, é tudo livre e parece que há um monte de monstros ao redor dele e ele fica lutando tentando escapar deles. Então não importa o quanto gritemos, não importa se tentarmos chegar perto, simplesmente não conseguimos. Nesse momento, parecia que eu estava como uma observadora, eu gritava pra ele para que ele lembrasse:- Ah! O grito, temos que mudar os membros! Mas, ele não parava de rodar. (risos) Simplesmente pensei, esquece, sigam, todos começaram a rir, ele é vida, ele é energia! Daí a (I) chegou perto da gente e interrompeu o momento com um: - quer saber, desisto, não vou fugir de lugar nenhum! e foi seguindo, indo embora. Eu pensei, é a deixa. Olhei para T que continuava no chão sendo uma cega e gritei, espera, espera! Deixa eu pegar a cega e a minha cabeça! Vem diacho! Segurei (S) e (T),saindo do palco.
Dessa vez a minha reação foi diferente. Eu não fiquei frustrada, simplesmente chamei o pessoal e disse: - Gente, não acho que nossas regras foram ruins, simplesmente nosso psicológico foi afetado. Tenho uma sugestão, vamos brincar durante a semana, vamos ficar criando situações e regras. Brincar de Jogos para relaxar e se acostumar com as pessoas ao redor pode ser uma experiência maravilhosa. E todos concordaram, mas nessa semana praticamente não tivemos tempo para fazer. Ainda assim a desmotivação sumiu em minha mente. Agora eu entendo, a lembrança da regra é importante, mas falta a elasticidade na hora de deixar fluir o corpo para o personagem aparecer, falta um pouco da diegese para limitar no momento necessário a minha ação, para saber em que momento parar e  em que momento continuar. O que posso esclarecer sobre a nossa improvisação até agora resume- se numa palavra: - Adrenalina.
Quando subimos ao palco, sentimos a adrenalina tomar conta de nosso ser, há um êxtase de ser o centro das atenções. E, quando não há textos e sim apenas você, sua imaginação criativa, a situação criada pelo grupo e a plateia, o que lhe resta é conseguir exprimir todo o improviso. Obviamente que a energia aumenta, a adrenalina é imensa e até a tensão por saber que precisa prender o público no que quer passar. Em nossa área, aprender a lidar com essa sensação é fundamental. Isso é um processo contínuo de aprendizagem. Você já viu algum ator falar, estou com medo de apresentar, tenho medo de ir lá na frente... Ter medo é uma imensa barreira se você decide entrar atuação. Eu prefiro esconder o medo nos arquivos, entre sete chaves, para não mais encontra- lo. O que me resta é relaxar, para aprender a lidar com as emoções quando estou improvisando. 
As aulas de improviso tem me mostrado a conexão entre as disciplinas, o corpo me ajuda a limitar movimentos, minimar o máximo e expandir ao máximo. Curvar- me, flexionar os joelhos, trazer o abstrato para o palco, gerar o estranho e coloca- lo no método da substituição. Assim, temos alguém real, uma pessoa em seu cotidiano que juntamente com o abstrato torna- se engraçada, torna- se estranhamente curiosa. A voz precisa de mais atenção, com toda certeza, não é por falar baixo e sim por fazê- la ecoar sem forçar e tornar o diálogo compreensível. Esse pensamento me fez parar para pesquisar. Esses dias tenho visto vídeos mais voltados para a fala, tenho visto vídeos de chineses, pois acho a fala deles muito interessante quando tentam dizer frases em português, soa quase como num tom infantil, como uma criança que está aprendendo o alfabeto. Enquanto que a aula de história do teatro me mostra que tenho um pouco da transição do simbolismo, o abstrato, a estranhamento, um pouco mais voltada para o momento em que o cinema começa a se apresentar, com a imagem projetada, eu adoro esse momento. Mas tirarei um dia para falar somente sobre esse assunto. Retomando minhas ideias, o que quero dizer é que nada está separado. E, quando essas abordagens ficam juntas podemos começar a ver um progresso, a realizar algo. Termino esse meu texto com a frase: Estamos num processo contínuo de aprendizagem inter e multidisciplinar.



A escolha do clipe: Pitty- Anacrônico.

Essa música retrata que estamos sempre nos modificando, através de novos conhecimentos e prioridades. Acreditando que para a contextualização estilo manicômio, é uma ótima canção, com uma filosofia muito boa. A necessecidade intrínseca do ser humano de querer melhorar, querer sempre novas coisas, adquirir novos objetivos, isso nos ajuda a seguir, nos ajuda a crescer. Quando penso em como fiquei pra baixo na aula anterior posso dizer hoje que agora entendo, não há o que temer exatamente, há o que escolher. A nossa escolha é continuar e procurar alternativas que mostrem o nosso lado cômico, que nos façam ficar livres no palco. Ao meu ver, essa é uma boa forma de ser louco.

Att.: Sami Cassiano


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