segunda-feira, 16 de maio de 2016

Você é Bonita!

Aula de Corpo I
Vila Velha- ES em 16 de Maio de 2016

Essa aula foi muito incrível e mexeu muito com meu subconsciente. Acredito que depois de ver nossas explosões, Rejane decidiu ver algo mais voltado para o naturalismo, algo que gerasse um conflito interno. Que nos remetesse há um momento em nossas vidas que tudo o que havia éramos nós e o ambiente. Ela chamou esse momento de ensaio orgânico. Nos entregou uma folha e pediu que cada um fosse para um canto e lembrasse no que pensava ou falava naquele momento. E depois faríamos a partitura corporal tendo em conta esse acontecimento. A princípio eu fiquei pensando sobre esse momento... De um tempo cheio de turbulências interpessoais. Eu estava me tratando numa psicóloga, isso porque criei uma barreira à minha frente que impedia que as pessoas chegassem perto de mim e me refiro à homens. Eu não conseguia explicar, simplesmente maltratava verbalmente ou mentia para qualquer rapaz que começasse a gostar de mim. Lembro de não suportar quando ficava na companhia masculina de alguém... Eu tinha um amigo e ele passou a gostar muito de ficar perto de mim. Então quando vi que estava sentindo algo mais forte pelo mesmo, resolvi tomar uma atitude de afasta- lo de uma forma muito injusta,... Contei à minha mãe e ela disse que eu não era esse tipo de pessoa e que tinha de encontrar o motivo de tratar mal as pessoas que amo. Passei a receber apoio psicológico na Instituição Federal do Amazonas, aliás um excelente apoio. Descobri depois de algumas sessões que o motivo de afastar os homens era por causa do relacionamento de desgosto que tive durante a infância com meu pai vendo- o bêbado e se metendo em confusão,... eu era uma criança mas isso deve ter sido forte o suficiente para me comprometer psicologicamente. Obviamente que nunca machuquei ninguém, apenas afastava àqueles para que eu evitasse qualquer sofrimento semelhante. Eu perdi meu amigo por uma suposta bobagem,... Além desse detalhe percebi que estava me menosprezando,.. eu me achava muito feia e não sabia o motivo de alguém ter que gostar justamente de mim, muitas coisas ficavam pairando em meus pensamentos,.. hoje fico até rindo me chamando de adolescente, mas pessoas fazem atos piores por menos não é? Não sei se já cheguei a comentar, mas o ponto em que decidi parar de vez de fazer isso comigo foi depois do seguinte acontecimento. Passei a manhã triste, me martirizando,, com medo do mundo. Tudo o que queria era sumir, eu não tinha mais a dança, não queria mais continuar o curso e nem sabia porque continuava frequentando as aulas,... comecei a conversar comigo mesma,... meus braços pareciam pesados. Após andar de um lado para o outro no quarto, decidi sentar, vários papeis encontravam- se espalhados pelo chão. Tentei repetir para mim mesma escrevendo naquelas folhas, você é bonita! Você é bonita!Senti minhas mãos tremendo, eu estava com tanta raiva de mim por tudo aquilo, impensadamente minha mão começou a escrever as mesmas frases em meu corpo. Depois de cair no vazio, com medo de mim e da pessoa que poderia me tornar, caminhei até o espelho e olhei- Sami,você é uma obra de arte linda, porque está fazendo isso... meus pensamentos foram interrompidos pela voz de minha mãe que passara o dia preocupada pelo fato de sua filha não ter saído para fazer nada. Fiquei triste comigo depois daquilo e decidi que não era só questão psicológica, que eu não era aquele tipo de pessoa e no outro dia resolvi mostrar meu rosto para a vida e começar a me aceitar, meu amigo continuou meu amigo mas evitou ter outro tipo de relacionamento que não fosse apenas nossa amizade.


Esse momento foi muito importante para mim porque representou uma fase, representou memórias que por vezes preferimos esquecer, mas não consigo mais viver sem as palavras lindas de Bogart, não sei se meus colegas leram o texto completo, mas há uma lição de aprendizagem ali. Enfrentar o medo, enfrentar o que nos incomoda realmente ajuda a chegarmos num ponto de êxtase, aonde a fala interna toma conta de nosso ser. A outra pessoa que despertou muito a minha atenção durante a partitura foi a Anne, que vivenciou a primeira vez que viu a neve, ela realmente conseguiu chegar naquele momento, pois senti a energia e brilho nos olhos dela. Eu amo ver as partituras de Caio porque vejo nele um potencial incrível, ele sabe quebrar a dilatação com o encapsulamento de uma maneira que vejo em poucos e me incluo nisso.  

Referências

BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. São Paulo, 2011.

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