terça-feira, 31 de maio de 2016

Voz Ativa, Voz Vibrante!

Aula de Voz I

Vila Velha- ES em 31 de Maio de 2016

Hoje voltamo- nos para um velho e amigável aquecimento vocal, o Si Fu Xi Pá, o Glax e o espreguiçamento seguido de ruídos sonoros comuns em nosso dia- a dia. Como bem sabemos,  a encenação em palco requer cuidados detalhistas e específicos. Isso porque em palco existe aquele momento em que todos estão com os olhos voltados para suas ações, gestos, expressões, movimentos e logicamente para a sua fala, o que é diferente de um filme, cuja cena pode ser trabalhada através da edição de tomadas seguidas, há o favorecendo até daquela relida no roteiro para relembrar alguma fala. Mas, o que pretendo passar para o leitor, com isso? Pretendo discorrer sobre a importância das técnicas utilizadas para os exercícios em voz para a cena e consequentemente o desenvolvimento do ator através desses meios. É interessante falar sobre técnicas no teatro, porque sempre que chego em casa ou converso com amigos que são ignorantes nessa área, uma das primeiras ideias que descobrimos através de suas concepções é a de que os alunos de Artes Cênicas não estudam, apenas fazem barulho. Bem, eles não fazem ideia de nosso comprometimento com o trabalho para que assistam um bom espetáculo ou um bom filme. Atuar não é apenas decorar um texto e transmiti- lo ao público como um cd pronto ou como uma fórmula aprendida para não tirar zero na prova. Atuar, em minha concepção é como um gato cujas pessoas dizem ter 7 vidas. A cada dia há uma lição nova, a cada dia sinto- me me recriando e se, vamos supor, que estejamos nos preparando e ensaiando para um espetáculo, o diretor chegue e diga: Pessoal, não está surgindo a poética ou diga que não estamos mais queimando em palco, o mesmo tem a liberdade de mandar parar, refazer, recriar, zerar e fazer tudo diferente. Se o gato tem 7 vidas, me pergunto, o ator tem quantas? O ator anda numa corda bamba, rascunhando no imaginário entre dilatação e o encapsulamento para atingir a potência de sua energia, resgatando através da ruptura, da quebra de visualidade e audição o sussurrar depois de um grito, o olhar feliz e o olhar sofrido, o ator se recria no próprio palco. Veja bem, em nosso cotidiano nós acordamos com o despertar do celular, tomamos banho, escovamos os dentes, nos alimentamos, trabalhamos e estudamos. Você já parou para refletir sobre as entrelinhas de nosso cotidiano e de nossas profissões? O celular que está despertando foi montado por funcionários, cujos empresários verificam todo o valor inserido no produto e sua demanda, cuja finalidade é voltada ´para a tecnologia, agilidade e conexão com o mundo, cuja criação se deu por pessoas que estudam em vários horários e tem uma rotina por vezes louca como a nossa e tais pessoas estudam para que os consumidores desfrutem de um bom produto que lhe ofereça exatamente os benefícios que à mesma espera, já na loja, nós compramos o produto, vamos ao cinema, encontramos os amigos, voltamos para casa e no outro dia estaremos numa nova rotina e com novos objetivos. Se parássemos para refletir sobre algo tão simples, poderíamos valorizar muito mais os empregos das pessoas. Veja, eu comparo esse processo de estar vivo e fazer coisas ao momento em que se abrem as coxias- Elas são a mostra de todo um trabalho e estudo de pessoas que visam algo em comum, aquilo que pode lhe fazer sorrir ou chorar, refletir ou discutir, se sentir bem ou mal devido à injustiça ou crítica, que lhe leva a comentar sobre o mesmo com os amigos e seguir sua vida com uma breve lembrança ou mesmo com uma reflexão infinita de um determinado assunto. Percebe- se que fiz uma volta para apenas chegar na técnica, mas creio ter sido capaz de mostrar que não fazemos apenas barulhos. A técnica Si Fu Xi Pá, Glax, Ruído, entre outras são utilizadas durante nossos ensaios para aquecer nossas cordas vocais a ponto de nossa voz ganhar potência, leveza e ondas sonoras capazes de transmitir a fala até o o ouvinte mais distante do palco.
De acordo com ALEIXO, o processo de desenvolvimento técnico vocal para o ator envolve aspectos amplos pois o fenômeno da vocalidade no teatro, aplicação dos recursos vocais no processo criativo, se estrutura a partir de fundamentos fisiológicos, culturais e poéticos (técnicas e linguagens). Assim, remeto-me ao momento em que começamos a nos espreguiçar em palco, deixando soarem livres os ruídos e múrmuros que surgem no decorrer de movimentos estranhados, aos poucos a voz tem a frequência aumentada. Formamos um círculo trazendo à tona qualquer assunto uns com os outros (proposta de Rejane Arruda), externalizando a fala aos poucos, aquecendo a corda para que a voz saia com naturalidade e potência. Geralmente, nesse processo, há a re- edificação de nossa estrutura óssea, fixando os pés ao chão em paralelo com o eixo do corpo, em vertical, para que facilite o movimento de todas as articulações de nosso corpo. Mas, o que estamos fazendo aqui não é apenas um exercício para a fluidez do som e sim, também, o reconhecimento de um corpo estranho. Assim, percebemos que cada movimentação altera a intensidade e até tonalidade de nossas vozes.

O corpo humano, segundo Klaus Vianna, permite uma variedade infinita de movimentos, que brotam de impulsos interiores e se exteriorizam através do gesto, compondo uma relação íntima com o ritmo, o espaço, o desenho das emoções, dos sentimentos e das intenções. Tal afirmação permite- nos experimentar no trabalho do corpo- sonoro com o estudo das ressonâncias, os impulsos corporais geradores de ações vocais. (ALEIXO apud Vianna, p.2004) 

A utilização do movimento do corpo juntamente com os múrmuros auxiliam na melhor percepção de situações, nos levando a possíveis recortes, nos levando à cena. Houve, ao meu ver, mais poética durante a realização das cantigas com as transições do medo frente aos monstros de cada aluno e a quebra do espaço com a cantiga de ninar: Se essa Rua Fosse Minha. A única questão é que durante esse último ensaio nós acabamos por fazer ao contrário. Por que tinha de encaixar perfeitamente dessa maneira? Então, ainda estamos verificando como ajustar esse momento. Finalizando, não posso deixar de comentar que a brincadeira do dilata ficou maravilhosa. Matheus pegou o microfone e começou a puxar as brincadeiras, como por exemplo: Um aluno de gastronomia dançando marchinha, e agora um aluno de artes cênicas! Isso ficou lindo porque contagiou geral e ficamos fervendo internamente, brincando, pulando, dançando e enfim, se divertindo como deve ser feito no dia.
O video a seguir relata uma pequena parte do processo de criação:




Att.: Sami Cassiano

Referências

ALEIXO, Fernando.Corporeidade da Voz: Aspectos do Trabalho Vocal para o Ator. 2004

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