terça-feira, 31 de maio de 2016

Voz Ativa, Voz Vibrante!

Aula de Voz I

Vila Velha- ES em 31 de Maio de 2016

Hoje voltamo- nos para um velho e amigável aquecimento vocal, o Si Fu Xi Pá, o Glax e o espreguiçamento seguido de ruídos sonoros comuns em nosso dia- a dia. Como bem sabemos,  a encenação em palco requer cuidados detalhistas e específicos. Isso porque em palco existe aquele momento em que todos estão com os olhos voltados para suas ações, gestos, expressões, movimentos e logicamente para a sua fala, o que é diferente de um filme, cuja cena pode ser trabalhada através da edição de tomadas seguidas, há o favorecendo até daquela relida no roteiro para relembrar alguma fala. Mas, o que pretendo passar para o leitor, com isso? Pretendo discorrer sobre a importância das técnicas utilizadas para os exercícios em voz para a cena e consequentemente o desenvolvimento do ator através desses meios. É interessante falar sobre técnicas no teatro, porque sempre que chego em casa ou converso com amigos que são ignorantes nessa área, uma das primeiras ideias que descobrimos através de suas concepções é a de que os alunos de Artes Cênicas não estudam, apenas fazem barulho. Bem, eles não fazem ideia de nosso comprometimento com o trabalho para que assistam um bom espetáculo ou um bom filme. Atuar não é apenas decorar um texto e transmiti- lo ao público como um cd pronto ou como uma fórmula aprendida para não tirar zero na prova. Atuar, em minha concepção é como um gato cujas pessoas dizem ter 7 vidas. A cada dia há uma lição nova, a cada dia sinto- me me recriando e se, vamos supor, que estejamos nos preparando e ensaiando para um espetáculo, o diretor chegue e diga: Pessoal, não está surgindo a poética ou diga que não estamos mais queimando em palco, o mesmo tem a liberdade de mandar parar, refazer, recriar, zerar e fazer tudo diferente. Se o gato tem 7 vidas, me pergunto, o ator tem quantas? O ator anda numa corda bamba, rascunhando no imaginário entre dilatação e o encapsulamento para atingir a potência de sua energia, resgatando através da ruptura, da quebra de visualidade e audição o sussurrar depois de um grito, o olhar feliz e o olhar sofrido, o ator se recria no próprio palco. Veja bem, em nosso cotidiano nós acordamos com o despertar do celular, tomamos banho, escovamos os dentes, nos alimentamos, trabalhamos e estudamos. Você já parou para refletir sobre as entrelinhas de nosso cotidiano e de nossas profissões? O celular que está despertando foi montado por funcionários, cujos empresários verificam todo o valor inserido no produto e sua demanda, cuja finalidade é voltada ´para a tecnologia, agilidade e conexão com o mundo, cuja criação se deu por pessoas que estudam em vários horários e tem uma rotina por vezes louca como a nossa e tais pessoas estudam para que os consumidores desfrutem de um bom produto que lhe ofereça exatamente os benefícios que à mesma espera, já na loja, nós compramos o produto, vamos ao cinema, encontramos os amigos, voltamos para casa e no outro dia estaremos numa nova rotina e com novos objetivos. Se parássemos para refletir sobre algo tão simples, poderíamos valorizar muito mais os empregos das pessoas. Veja, eu comparo esse processo de estar vivo e fazer coisas ao momento em que se abrem as coxias- Elas são a mostra de todo um trabalho e estudo de pessoas que visam algo em comum, aquilo que pode lhe fazer sorrir ou chorar, refletir ou discutir, se sentir bem ou mal devido à injustiça ou crítica, que lhe leva a comentar sobre o mesmo com os amigos e seguir sua vida com uma breve lembrança ou mesmo com uma reflexão infinita de um determinado assunto. Percebe- se que fiz uma volta para apenas chegar na técnica, mas creio ter sido capaz de mostrar que não fazemos apenas barulhos. A técnica Si Fu Xi Pá, Glax, Ruído, entre outras são utilizadas durante nossos ensaios para aquecer nossas cordas vocais a ponto de nossa voz ganhar potência, leveza e ondas sonoras capazes de transmitir a fala até o o ouvinte mais distante do palco.
De acordo com ALEIXO, o processo de desenvolvimento técnico vocal para o ator envolve aspectos amplos pois o fenômeno da vocalidade no teatro, aplicação dos recursos vocais no processo criativo, se estrutura a partir de fundamentos fisiológicos, culturais e poéticos (técnicas e linguagens). Assim, remeto-me ao momento em que começamos a nos espreguiçar em palco, deixando soarem livres os ruídos e múrmuros que surgem no decorrer de movimentos estranhados, aos poucos a voz tem a frequência aumentada. Formamos um círculo trazendo à tona qualquer assunto uns com os outros (proposta de Rejane Arruda), externalizando a fala aos poucos, aquecendo a corda para que a voz saia com naturalidade e potência. Geralmente, nesse processo, há a re- edificação de nossa estrutura óssea, fixando os pés ao chão em paralelo com o eixo do corpo, em vertical, para que facilite o movimento de todas as articulações de nosso corpo. Mas, o que estamos fazendo aqui não é apenas um exercício para a fluidez do som e sim, também, o reconhecimento de um corpo estranho. Assim, percebemos que cada movimentação altera a intensidade e até tonalidade de nossas vozes.

O corpo humano, segundo Klaus Vianna, permite uma variedade infinita de movimentos, que brotam de impulsos interiores e se exteriorizam através do gesto, compondo uma relação íntima com o ritmo, o espaço, o desenho das emoções, dos sentimentos e das intenções. Tal afirmação permite- nos experimentar no trabalho do corpo- sonoro com o estudo das ressonâncias, os impulsos corporais geradores de ações vocais. (ALEIXO apud Vianna, p.2004) 

A utilização do movimento do corpo juntamente com os múrmuros auxiliam na melhor percepção de situações, nos levando a possíveis recortes, nos levando à cena. Houve, ao meu ver, mais poética durante a realização das cantigas com as transições do medo frente aos monstros de cada aluno e a quebra do espaço com a cantiga de ninar: Se essa Rua Fosse Minha. A única questão é que durante esse último ensaio nós acabamos por fazer ao contrário. Por que tinha de encaixar perfeitamente dessa maneira? Então, ainda estamos verificando como ajustar esse momento. Finalizando, não posso deixar de comentar que a brincadeira do dilata ficou maravilhosa. Matheus pegou o microfone e começou a puxar as brincadeiras, como por exemplo: Um aluno de gastronomia dançando marchinha, e agora um aluno de artes cênicas! Isso ficou lindo porque contagiou geral e ficamos fervendo internamente, brincando, pulando, dançando e enfim, se divertindo como deve ser feito no dia.
O video a seguir relata uma pequena parte do processo de criação:




Att.: Sami Cassiano

Referências

ALEIXO, Fernando.Corporeidade da Voz: Aspectos do Trabalho Vocal para o Ator. 2004

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Túnel do Tempo

Aula de Corpo I

Vila Velha- ES em 30 de Maio de 2016

Falta pouco para a abertura de processos e cada passo, cada movimento traz consigo cortes da passagens frente os prazeres da vida ou os desastres pelos quais tivemos de lidar. O treinamento energético foi diferente, dessa vez fomos reluzidos pelas luzes das lanternas. As palavras escritas com pincel no carpa de cada um nos remetia a fala interna que surgiria no decorrer da declamação de cada poema. Começamos os movimentos com relaxando nosso corpo, aquecendo os pés, o quadril, jogando toda a energia negativa fora, os poemas iniciam- se gerando uma vibração latente. É impossível não ceder ao que nos preenche por completo. 
O surdo me remete a imagem do túnel que que se aproxima, esse túnel é capaz de me levar para vários momentos de minha ainda curta experiência de vida. 

O mundo de Tim Burtom- Analogia aos cortes e métodos de substituição.

Furo o ar chamando o ônibus, pulando na piscina, desenhando meu mundo colorido e por vezes animado ao Estilo Tim Burton. Deslizo para longe dos braços de minha mãe querendo encontrar e trilhar meu próprio caminho, enquanto corro as pessoas aparecem em minha frente impedindo- me de voar livremente, não sou como um pássaro, estou presa aos meus próprios medos. Pessoas chocam- se contra meu corpo. 

Luta entre povos- analogia na Pesquisa pessoal com o método
de ação e reação. Imagem: Alexandre O Grande.

Por vezes consigo me desprender e as vezes brigo para sobreviver. As palavras declamadas pelos sábios percorrem meus pulsos. Tento me encontrar em cada ambiente, com PH vivi momentos da dança e minha caminhada para não deixa-la esvaziar-se em minhas veias. 

Analogia ao campo de visão- Step Up 4

Brenda nos levava consigo em sua jornada, estávamos como num campo de batalha. Thiago mostrava nossa insubordinação frente a algo poderoso. Mas reagíamos com força diante de cada palavra.

Step Up 4 - não queremos nos submeter

 Matheus ajudou- me a escapar. E, quando chegou em mim,... queria que meu grito ecoasse, queria apenas me libertar. 
Cada situação descrita acima foi referente aos cortes que surgiam de acordo com os poemas e movimentos no campo de visão. 

Antes do início da aula costumo me concentrar para capturar as imagens que foram tidas como exemplo para nossa fala interna. Assim, no decorrer do tempo vou criando minhas próprias pesquisas relacionadas às imagens. Assim também trabalham Meyerhold, Barba, Arruda, Rubens Corrêa, entre outros pesquisadores. 
Bogart menciona que a arte nos serve melhor precisamente no momento em que ela consegue mudar nossa percepção do que é possível, quando sabemos mais do que sabíamos antes, quando sentimos que encontramos- por algum tipo de salto- a verdade. Isso, pela lógica da arte, sempre vale o esforço.
( A Preparação do Diretor. p. 123)

Referências

BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. Ed. São Paulo, 2011.
Aulas teóricas com experimentação da imagem como captura de memórias que geram a fala interna.

Att.: Sami Cassiano

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Explosão ou não?

Jogos Teatrais I

Vila Velha- ES em 25 de Maio de 2016

Após o teste em sala, pois o anfiteatro não se encontrava disponível, finalmente fizemos em palco. Lá estava eu novamente sendo o belíssimo Pit acompanhado de seus companheiros de guerra, ângelo, João e Thais. Rejane pediu que iniciássemos a apresentação. João tomou o microfone para si como alguém se apega ao ultimo fio de vida. E começou a apresentação. Mas, quando pensamos que ia rolar mesmo. E deusa dos dreads pediu para parar porque não estava ficando bom. E quando vejo aquele olhar já dá para saber que não adianta chorar. Eu cheguei a falar algo, mas apagou no espaço, então ela disse: Não. não dá. Precisamos de alguém para controlar a bagunça, e nomes foram surgindo até chegar em Brenda Vamos às perguntas agora:
Samires, você gostaria de apresentar?- Sim
Você achou chato o que Reja fez?- Em parte sim, mas depois percebi que se ela não fizesse isso aqueles meninos iam virar animais lutando pelo microfone e ficaria completamente desorganizado.
O que você achou da escolha de Brenda?- Acho que não havia alguém melhor, porque ela tem presença em palco, já tem costume com o microfone e tem a voz linda.
O que você achou da determinação de João Camilo para conseguir seu lugar de volta?- Achei desnecessária, primeiro porque quando Reja está criando não adianta ficar falando. Segundo porque ela estava certa mesmo e pronto, mesmo não gostando admito pelo bem da nação!(risos)
O que digo a respeito desse acontecimento é que precisamos acreditar e respeitar mais nossa diretora.Querendo ou não conseguimos manter uma organização depois da alteração. Os grupos apresentaram Matheus como sempre nos faz rir muito. O jogo do grupo dele foi muito bom, eles falavam palavras que eram completadas uns pelos outros. Kelly e Isabela disputavam num teste de moda quem era melhor entre as duas,


Os outros não ficaram gravados em mente. Mas a questão toda desse dia foi a decepção, ângelo chegou comigo e disse que não estava muito à vontade na animação e que iria conversar com Reja para ficar no improviso, enquanto eu já havia até comentado o mesmo fato antes do acontecimento. Mas disse que faria por ser algo que ela tinha visualizado,... Eu acredito que da minha parte, há muitos fatores externos me influenciando e talvez por isso não esteja conseguido alcançar esse meio entre a o enquadramento e a vulnerabilidade. Há algo que venho percebendo durante essas aulas, alguns dos improvisos me fazem lembrar um pouco do teatro do absurdo, como por exemplo, o grupo de Matheus que se referia sempre há um objeto que todos queriam comprar, o que me fez lembrar da peça de Ionesco- A Cantora Careca, 1950. O momento em que começam a discutir sobre a família Bob lembra a discussão em torno do objeto que querem. na aula passada, por exemplo, consigo fazer uma certa analogia entre os atos e palavras de Allan que geravam uma certa agonia e comicidade paralelamente. Infelizmente não tenho o vídeo da apresentação de Matheus, mas deixarei aqui em baixo uma parte referente A Cantora Careca e A lição para assimilarmos melhor a analogia.


Acontece como na aula explicada por Rejane, 
no teatro do absurdo vemos procedimentos como Situações banais, frases feitas, gestual cômico, jogo de palavras, construções verbais sem sentido, gestual mecênico repetido incessantemente, ações sem motivação aparente. Como por exemplo Ananda repetindo sempre a palavra- Vai para a igreja. Ou isabela que por vezes parecia perdida em suas próprias palavras,.. acho que há um pouco do absurdo nos improvisos.

Att.: Sami Cassiano

Referências

ARRUDA, Rejane. Teatro do Absurdo, aula de História do Teatro.


terça-feira, 24 de maio de 2016

Caos ou Cansaço

Aula de Voz I

Vila Velha- ES em 24 de Maio de 2016

Dilata Sullivan


Em síntese, a linguagem vocal, assim como também "a música, (...) oferece muitos exemplos notáveis de hibridação" (Burke, 2003, p. 32 apud Santos p. 31)

A música tem o poder de tocar nossos corações, tem o poder de gerar sensações, trazer lembranças e até mesmo esperança, então há algo mais interessante do que utilizar- se da música para conseguir gerar a fala interna?


Hoje, devido à quarta acústica, muitos dos componentes não apareceram, e isso inclui o Allan que puxa o Blues. Pois estavam ensaiando arduamente para dar o seu melhor na quarta acústica. Mas seguimos firmes e criamos nosso próprio som. Claro que não foi na mesma qualidade pois quem me dera ter uma voz linda para cantar, mas valeu a nossa intenção. Levei meu objeto de estranhamento e o utilizei; apesar de tê- lo feito para ficar ajustado ao meu óculos, ainda estou tendo um pouco de dificuldades. Eu até poderia utilizar sem o óculos, mas me sinto mal, porque fico pulando e a máscara gera uma certa tensão claustrofóbica quando estou sem os mesmos. Acho que estava bem ativa nessa aula. mas vejo que o pessoal parece ter muito medo de aparecer. por exemplo, nos momentos que ficamos no palco fazendo as brincadeiras, percebo a maioria amontoada na parte de trás, deixando boa parte da frente vazia. E isso não ocorre somente na aula de voz, então eu corro pra frente e imagino que há alguma criança rindo e começo a brincar. Mas me sinto um pouco incomodada de não sair daquela parte porque nossos colegas não vão para frente. Bem, pode ser uma transição de fase, todos temos nossos medos e nossos erros, mas temos que aprender a encarar  a tempo. 
Sobre nossa grande roda em torno do público posso dizer que ficou linda, exceto pelos imensos espaços que todos nós continuamos deixando. Precisamos também treinar mais as músicas, dessa vez senti que conseguimos cantar mais as cantigas, quanto às marchinhas,... quase não escutamos as vozes uns dos outros.
Segundo Souza
No que diz respeito às tendências teatrais, performances e poesias sonoras mais recentes, observamos que voz, texto e ruídos se misturam na ideia de paisagem sonora. Especificamente na cena teatral pós- dramática, encontramos o que Lehmann, chamou de peça paisagem, na qual texto, voz e ruído se misturam na ideia de paisagem sonora. (p. 31) 
Essa peça paisagem parece se construir ao longo do processo do medo frente ao terror, com todos juntos há apenas aquele algo imaginário em nossa frente, porém forte o bastante para para gerar essa tensão entre o caos e o medo. As vozes geram o recorte de vários momentos. Gritos, sussurros e o surdo como portal entre o espaço-tempo nos leva à batida para acordar. A quebra é feita com uma das mais lindas canções de ninar e começa a acordar aos poucos as crianças de seus pesadelos.

Se essa rua 
Se essa rua fosse minha
Eu mandava 
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas 
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu 
Para o meu amor passar...


O Jack protege as crianças do Breu, então não há o que temer! Tenhamos o brilho de acreditar como as crianças e assim todo o resto surgirá como a água fluindo livremente ao caminho da cachoeira, às vezes a graça está em deixar nosso lado criança ali sempre guardado para aparecer em momentos como esse.

Att.: Sami Cassiano

Referências

SOUZA, Cristiane dos Santos. Reflexões Sobre o Hibridismo Vocal em Performance. Ed. Urdimento, 2014.


Não dá para colocar no armário?

Jogos Teatrais I

Vila Velha- ES em 24 de Maio de 2016

Depois de nossa caracterização na UVV, Rejane disse que teve uma ideia e pediu para que fôssemos caracterizados de Inês Plazil (João Camilo), Conchita (Ângelo Vitor), Camburizinha (Thais Furtado), Pit Bicha (Sami Cassiano), sem sabermos sobre o que realmente seria feito à respeito disso, fomos e nos caracterizamos. Ao chegar lá, ela informou sobre testarmos em paralelo com os improvisos uma animação. então começamos.
O primeiro grupo a apresentar foi o de Diogo, que apresentou um tipo de programa de culinária em que o apresentador tinha de descobrir qual o prato que estava envenenado. Eu achei muito criativa a ideia do grupo porque ele souberam criar regras que os levava a utilizar o espaço, Allan parecia falar um idioma parecido com Turco, Isabela parecia ter sofrer de hiperatividade, Sancler parecia ser um dinossauro ( não sei bem pois ele já tem uma imagem muito marcada de monstro), Ju falava engraçado, parecia um sotaque de algum interior.
E então nós partimos para a ação, fizemos algumas brincadeiras de improviso, brincamos com a galera. Porém, Reja nos deu a dica de que não estaremos animando para os colegas e sim para a plateia. Ou seja, precisamos encontrar dispositivos de animação que auxiliem nessa  brincadeira. A Thais sugeriu piadas e Ângelo sugeriu brincadeiras entre os próprios personagens. Há algo que percebi, um conflito entre o grupo sobre quem fazia o que e em que momento entrar, então Rejane nos aconselhou entrarmos um de cada vez ou em dupla para que não houvesse disputa entre os animadores. 
A apresentação de João foi muito engraçada e posso dizer que ele finalmente dilatou pra valer:





O grupo de Kelly surgiu com um improviso diferente, eu não sei ao certo as regras utilizadas, lembro que em algum momento eles puxaram alguns dos alunos para dançar, mas não sei a palavra ou ação chave que desencadeava o jogo. Porém o que me chamou atenção realmente foi o fato de surgido algo diferente. Pela primeira vez alguém encarou o improviso com o drama. Eu achei lindo porque por vezes vemos o improviso como o que leva à comicidade, mas dessa vez, apesar de não terem esquecido de cômico, houve mais a tragédia. Vi Kelly falando-  A gente coloca no armário? Eu achei incrível. A Kelly costuma dizer que não consegue explodir em palco, mas ela improvisa bem. Dulce nos faz ver algo diferente e isso é muito bom, pois mostra a diversidade de ideias e opiniões.
O Grupo de Matheus foi muto bom também, o homem que estava querendo se matar enquanto era levado pela razão, pelo anjo e pelo diabo. Ficou muito engraçado e creio que se fosse no dia da apresentação as pessoas sentiriam bem essa vibração e quebra de sequências que acabaram trazendo a comicidade. 

Att.; Sami Cassiano

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Encarando a timidez

Jogos Teatrais I

Vila Velha- ES em 18 de Maio de 2016



Representar é metade vergonha, metade glória. Vergonha de se exibir, glória quando você consegue se esquecer de si mesmo. 
                                                                                                                                            John Cielgud

Como mencionado anteriormente, a peça A cadeira de Sente- se quem puder precisou ser reelaborada ao ponto de modificarmos totalmente e deixarmos em jogos de improvisos, levando a grandes polêmicas e medo de muitos alunos que ainda não se sentem confortáveis em jogos. Com o intuito de nos guiar e ajudar frente ao medo, Rejane nos passou um texto de Anne Bogart, em que há um capítulo enfatizando a Timidez e também ficamos de fazer um Brain Storming de situações para que termos alternativas no dia da apresentação. Começo informando que apesar de minhas atitudes de apoio ao improviso, meu coração palpitava loucamente toda vez em que minha vinha a imagem do improviso em palco. Mas Rejane foi avassaladora na escolha do texto, eu pessoalmente já tenho uma admiração muito grande por Anne Bogart, porque iniciei uma leitura sobre o mesmo livro " A Preparação do Diretor" e fiquei maravilhada com os estudos da mesma e seu olhar frente os obstáculos que lhe apareciam.  Anne é uma ótima observadora e pesquisadora. Relembrando vários dos improvisos que fiz com meus amigos e lembrando de minhas frustrações acabei tomando grande parte de meu tempo como reflexão do que eu temo tanto em mim, do que eu temo em palco. A verdade é que sempre gostei de estar num palco, mas antes eu não exatamente atuava e sim dançava, se no teatro devemos memorizar textos, saber lidar com emoções,... Bem, na dança não é diferente, devíamos saber cada lugar a ser preenchido, a distancia exata para que os movimentos e acrobacias dessem certo, devíamos saber lidar com a adrenalina de não errar a coreografia e fazê- la intensamente ou levemente de acordo com o que cada estilo de música pedia, a transição na iluminação e principalmente saber lidar com o erro, no qual todos os participantes estavam propícios. Lembro- me da vez que fui dançar Cam Cam, a nossa professora quis colocar um pouco da arte folclórica acrescentando no figurino a saia florida, mas deixando o vermelho no corpete ressaltar e as camadas na parte interna da saia rodada em tons alternados, sem esquecer logicamente da meia arrastão a sapatilhas pretas. Eu senti um pouco de vergonha no início por ter fazer movimentos que por vezes mostravam partes do meu corpo que não costumava mostrar, mas meu amor pela dança é tão grande que, no momento em que eu entrava no palco eu apenas queria sentir toda aquela sensação, a sensação que só pode sentir quem sobe num palco. Os olhos brilham e você sabe que brilham porque a adrenalina toma conta e praticamente conseguimos enxergar através de nós a luz, o corpo se movimenta e a mente também, porque ela está ali funcionando e lembrando de cada detalhe, de cada posicionamento e há algo que acho mais incrível ainda- O Tempo. O tempo é imparcial e quase um inimigo, falo porque passamos meses ensaiando algo que dura meia hora ou uma hora em palco mas que dura segundos quando estamos fazendo- o. Sabe, é como a sensação térmica, sentimos 4º C quando na verdade a temperatura é de 10ºC. É tudo tão rápido e você quer sentir cada momento... acho que cada apresentação é única. Ao falar da dança, não a coloco acima do teatro, apenas faço analogia as sensações de duas áreas que nos levam a momentos magníficos como esse que descrevi. Eu sempre tive medo de não poder pisar mais num palco. A minha mãe começou a ficar muito preocupada num período com minha saúde e meu curso de Física, isso porque eu havia voltado a dançar e saía correndo da aula para chegar à tempo nos ensaios. Então minha vida estava numa loucura... pensando na preocupação de minha mãe, resolvi que seria melhor me afastar do palco e concluir meu curso para ter no que me garantir financeiramente e decidi participar de um último espetáculo já quase no final de ano. Hoje, pensando nisso, lembro exatamente as sensações de minha despedida. Com as coxias fechadas, fizemos um ultimo e breve ensaio retomando as posições de cada componente e meus amigos voltaram para se arrumar. Eu fiquei no palco... fiquei de cócoras e conversei comigo mesma- Bem, sami, chegou o momento, sinto que essa pode ser a última vez então,.. apenas dê o seu melhor ok? Eu dei o meu melhor. O nosso grupo deu o melhor e fizemos um lindo espetáculo. Bogart menciona um comentário do diretor japonês Tadashi Suzuki sobre a atuação e entrega frente o obstáculo: Não existe a boa ou a má atuação, apenas graus de profundidade do motivo pelo qual o ator está no palco. (p. 121) No meu caso, vi como um momento em que daria início à transição de fase em minha vida. Por vezes me questionei se seria assim mesmo, se eu acabaria fora dessa vida apaixonante e sacrificante? Quando finalizei, muitas pessoas parabenizaram não somente a mim, mas a meus amigos também pela qualidade de nosso trabalho e minha irmã ficou maravilhada, isso porque ela acima de qualquer pessoa não aceitava que eu estava me desligando da dança. Sendo estudante de Artes Cênicas, ainda não possuo experiências na área como atriz, mas vejo em obstáculos como esse que surgiu, a oportunidade de enfrentar e aproveitar o desconhecido. 
Há duas pessoas que gostaria de citar dessa vez, a primeira é Kelly, minha amiga e também aluna do curso. Eu costumo falar para o meu marido que a minha mãe está ligando e então ele já sabe de quem estou falando, isso porque a Kelly me liga de dia, à noite, na hora da aula, quando estou tomando banho,. enfim... já fui até acordada por suas ligações e o mais engraçado nisso tudo, é o fato de que se eu não atender o telefone ela passa o dia reclamando que eu não a atendo. Eu fico morrendo de rir, não levo a mal pois já sei do gênio forte da pessoa e o motivo da ligação. As perguntas de Kelly são: "Amiga, eu fui bem na apresentação?" "Há mais eu não gostei..." "Eu não sei o que falar" ou "Eu não sou boa em jogos". Então eu fico estupefata com isso porque eu vejo nela muito potencial, a voz dela ecoa, ela tem presença em palco e quando não sabe o que falar sai aquela frase especial com risos sem graça que nos faz rir muito. Como pode ela não ser engraçada? A Rejane mencionou o texto de Bogart e quando li eu lembrei não somente de mim, mas principalmente de Kelly e da próxima pessoa na qual irei comentar, que é a Thais Furtado. Por vezes, conversando com Thais me surgiu a seguinte pergunta em mente. Essa pessoa é assim mesmo ou age propositadamente? Como pode alguém falar com tamanha inocência, bem as vezes em momentos errados, obviamente, porém inocentemente. Ela é esse tipo de pessoa, única. A Thaís costuma segurar nossas mãos antes de ir para frente apresentar algum trabalho ou simplesmente fica com o olho a ponto de explodir. Mas, quando ela começa eu sinto muita energia, cenicidade e principalmente criatividade durante seus comentários. Talvez a inocência e o medo dela faça com que a mesma veja situações em ângulos totalmente diferentes dos que a maioria consegue enxergar. Bogart fala que esse desconforto é um mestre.
O bom ator corre o risco de se sentir desconfortável o tempo todo. Não há nada mais emocionante do que ensaiar com um ator que está disposto a pisar em território desconfortável. A insegurança mantém as linhas tensas. Se você tenta evitar sentir- se desconfortável com o que faz, não vai acontecer nada, porque o território permanece seguro e não é exposto. O desconforto gera brilho, realça a personalidade e desfaz a rotina. (BOGART,p. 119) 

A respeito disso, penso que por vezes não nos deixamos entrar nesse clímax. Sair de nossa zona de conforto realmente não é fácil, encarar o medo não é fácil. Esse desconforto que existe na maioria de nós espera ansioso para contagiar a todos no palco. A plateia também sente algo, pode ser que não se descubra exatamente o que é ou pode ser que simplesmente fique perceptível a todos. Como estamos numa caminhada ainda como bebês, cada um ao seu tempo se descobrirá e se deixará explodir frente à junção do desconhecido e da vulnerabilidade. 
Pensando nisso escolhi um vídeo que acho muito bom, o jogo de escuta dos Barbixas lida muito com o desconhecido. O que gera a cenicidade e explosão em palco. 



O fato de ter de interpretar algo que não encontra- se em seu campo de visão é perfeito, pois gera um conflito de continuidade nas cenas, levando à comicidade. 
Ainda durante a aula fizemos o brain storming de situações, nas quais saíram por exemplo ideias como:
- Drag no Skate
- O enfermeiro que tem medo de sangue
- Os sete anões que tentam fazer com que branca de neve acorde, mas na verdade ela gostava da bruxa má;
- Uma pessoa que não sabe libras tenta dar uma informação a um surdo;
- Excussão numa casa mal assombrada;
- Filho tenta contar aos pais gays que é hétero;
- Dois policiais tentam contar à mãe que o filho morreu;
- Irmãos tentam ganhar a herança da mãe que faleceu;
- Rapaz tenta descobrir qual das amigas está grávida;
- Um político com amnésia tenta descobrir o que está acontecendo durante a entrevista que está dando;
Entre outros,..

Referências
BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. ed. São Paulo, 2011. 
ARRUDA, Rejane. Arranjo e Enquadramento na Política do "E": Por uma Pedagogia do Teatro Híbrida.  

Att.: Sami Cassiano

terça-feira, 17 de maio de 2016

Joga Fora no Lixo

Aula de Voz I

Vila Velha- ES em 17 de Maio de 2016

Tenho andado um pouco exausta recentemente. Creio que seja a vida conturbada, receio pelo que representa essa crise em nosso país, gerando um grande crescimento na percentagem de desemprego. Trazendo em mim a reflexão de que eu faço parte desse índice de produtos descartáveis. Estamos num ponto em que mesmo encontrar respostas torna- se quase impossível. Hoje tivemos ensaio na casa de Vitor, referente à gravação do Reality, e como também tínhamos de comparecer à aula de Rejane, tivemos de ir caracterizados pois depois retornaríamos para continuar a filmagem. Esquecendo um pouco os stress que tivemos durante as filmagens, o mais interessante foi o processo de continuar no personagem fora do estúdio. Confesso que a princípio fiquei muito nervosa de sair no personagem de Tom Cavalcante- Pit Bicha, então para que eu conseguisse sobreviver à essa situação, resolvi criar minha regras de jogo sendo o Pit Bicha.

Inês Eztomazil e Pit Bicha

1- Na frente de Homens falar frases exuberantes como- Meus Deus eu só devo estar no céu, nunca vi tanto homem bonito! Quem homem lindo, que tal vir caminhar comigo? Meu Deus estou ficando nervoso, nunca vi tanto homem bonito! 
Usei palavras que enaltecessem os homens como- H maiúsculo, M de Macho, sente meu latido- AU AU
2- Na frente das mulheres falava- Minha nossa! Nunca vi tanta baranga!, sai de perto Satanás!, Não toca em mim! Eu desejo que você morra! Morra!




Também me arrepiava de nojo. Quanto mais vergonha eu senti mais alto eu falava e mais atenção eu chamava. Lembro que João ficou todo sem graça porque todos ficavam olhando e rindo. Logo na entrada encontramos um professor da turma de direito. E ele veio me cumprimentar chamando- me pelo meu personagem, aí fiquei em graça e falei- senhor, que homem, não toca em mim que eu gamo! Aí ele quase morre de rir e conversou durante parte do trajeto com todos os componentes do grupo. Todos ficaram falando que não saí do personagem, mas o que acontece é que eu precisei fazer isso porque a adrenalina foi gostosa, excitante. Acredito que escolher alguém como o pit bicha tornou possível em mim essa vontade de querer mais, aflorou algo em mim que não sei explicar, mas sei que está sendo bom. Antes eu seria a Sabrina do BBB- Big Brother Brasil, mas depois de muito pensar achei melhor não me estereotipar mais do que já sou naturalmente, não nego as origens diversificadas de minha família, eu adoro isso, sou como uma Sangue Ruim do Harry Potter, olho de um, tamanho de outro, cor de outro e isso fez de mim essa pessoa com quem aprendo a cada dia coisas novas, inclusive aceitação de que não há como mudar e sim lidar com minha genética. Eu admiro a cultura do japão e da coreia do sul, mas se eu apenas ficar sempre em algo assim, como poderei abrir espaço para o novo? Bem, você conhece o Andy Serkis? Se não, eu creio que falando um personagem dele com toda certeza você saberá, ele fez o nosso admirável vilão Gollum na Trilogia "The Lord of the Rings" (O Senhor do Aneis), e o Wagner Moura? o nosso famoso capitão Nascimento. Eu sou fascinada por vários atores e atrizes e se fosse colocar o porque de minha admiração frente a cada um, poderia escrever um livro. Mas escolhi essas duas pessoas em especial porque aonde quer que estejam eu sinto sua atuação tão bela a ponto de criar nojo do personagem ou criar um fascínio eterno. O Andy Serkis é para mim como um pai por quem anseio encontrar durante minha busca, mesmo que ele esteja velinho. 

Andy Serkis
O Andy possui muitos papeis de personagens feitos por computação gráfica, o que lhe permite a capacidade de agir como um camaleão em seus filmes. Apenas veja, por favor:


A cena acima é de Gollum em "O Senhor dos Aneis" e foi feita com o mapeamento do corpo através da Weta Digital. Esse mapeamento utilizando as luzes em LED podem capturar mínimos detalhes da expressão do ator, o que torna praticamente perfeita a imagem gráfica do personagem. Além de Smeagol ou Gollum, como é chamada a criatura, Andy também fez personagens como King Kong sendo o próprio King Kong e o Cozinheiro do Navio, de Peter Jackson, César em Planeta dos Macacos- A Origem e Planeta dos macacos- O Confronto, entre outros, como As Aventuras de Tim Tim e De repente 30.
Wagner Moura é um ator incrível e mais um camaleão, além de ser ator, é diretor e músico. Protagonizou filmes como Tropa de Elite, VIPs,  O Homem do Futuro e participou em peças como "Dilúvio em Tempos de Seca", "Hamlet" de Williams Shakespeare e estreou sua carreira internacional no filme Elysiun, com Matt Damone, Jodie Foster e Alice Braga. 

Wagner Moura




O trailer acima, é referente ao filme VIPs, em que é perceptível as metamorfoses do próprio personagem interpretado pelo mesmo. 
O que me fascina em pessoas como Wagner e Andy é exatamente esse camaleão existente em ambas as partes, no caso de Wagner a mudança ocorre constantemente, enquanto que em Andy, vimos praticamente para além da mudança de estado natural, praticamente uma metamorfose. Recentemente comecei a ler o artigo de Jan Fabre para uma apresentação referente à história do Teatro e achei muto interessante seu estudo em cima da metamorfose, a transformação à olhos nus. Vejo a metamorfose como parte essencial no trabalho do ator porque durante estudos filosóficos e antropológicos uma pequena concepção que vem surgindo é a de que tentamos fugir de nosso lado animal, mas ele vive em nós, alí, sempre à espreita pronto para ser utilizado. E então penso,por que não utiliza- lo? Acredito que parte dessa ideologia venha também nos estudos do mesmo. Mas pretendo aprofundar- me para poder gerar mais propostas e discussões. 
Além desse acontecimento referente aos nossos personagens, durante essa aula repetimos o processo de descrição do momento pelo qual passamos, o que ajuda a gerar uma fala interna para a leitura do texto. Dessa vez eu não fui para a frente ler, mas enfatizo a leitura da poesia de Thais, que fez uma mistura muito interessante de algumas músicas e acrescentou uma fala interna magnífica. Sua poesia se chama Joga fora no lixo. Eu confesso que fiquei admirada com a potência de sua voz ao recitá- la. Creio que ninguém esperava por isso.

Camburizinha (Thais Furtado)


Referências

https://pt.wikipedia.org/wiki/Wagner_Moura
https://pt.wikipedia.org/wiki/Andy_Serkis
https://youtu.be/G9HWSuptvNc

Att.: Sami Cassiano



segunda-feira, 16 de maio de 2016

Você é Bonita!

Aula de Corpo I
Vila Velha- ES em 16 de Maio de 2016

Essa aula foi muito incrível e mexeu muito com meu subconsciente. Acredito que depois de ver nossas explosões, Rejane decidiu ver algo mais voltado para o naturalismo, algo que gerasse um conflito interno. Que nos remetesse há um momento em nossas vidas que tudo o que havia éramos nós e o ambiente. Ela chamou esse momento de ensaio orgânico. Nos entregou uma folha e pediu que cada um fosse para um canto e lembrasse no que pensava ou falava naquele momento. E depois faríamos a partitura corporal tendo em conta esse acontecimento. A princípio eu fiquei pensando sobre esse momento... De um tempo cheio de turbulências interpessoais. Eu estava me tratando numa psicóloga, isso porque criei uma barreira à minha frente que impedia que as pessoas chegassem perto de mim e me refiro à homens. Eu não conseguia explicar, simplesmente maltratava verbalmente ou mentia para qualquer rapaz que começasse a gostar de mim. Lembro de não suportar quando ficava na companhia masculina de alguém... Eu tinha um amigo e ele passou a gostar muito de ficar perto de mim. Então quando vi que estava sentindo algo mais forte pelo mesmo, resolvi tomar uma atitude de afasta- lo de uma forma muito injusta,... Contei à minha mãe e ela disse que eu não era esse tipo de pessoa e que tinha de encontrar o motivo de tratar mal as pessoas que amo. Passei a receber apoio psicológico na Instituição Federal do Amazonas, aliás um excelente apoio. Descobri depois de algumas sessões que o motivo de afastar os homens era por causa do relacionamento de desgosto que tive durante a infância com meu pai vendo- o bêbado e se metendo em confusão,... eu era uma criança mas isso deve ter sido forte o suficiente para me comprometer psicologicamente. Obviamente que nunca machuquei ninguém, apenas afastava àqueles para que eu evitasse qualquer sofrimento semelhante. Eu perdi meu amigo por uma suposta bobagem,... Além desse detalhe percebi que estava me menosprezando,.. eu me achava muito feia e não sabia o motivo de alguém ter que gostar justamente de mim, muitas coisas ficavam pairando em meus pensamentos,.. hoje fico até rindo me chamando de adolescente, mas pessoas fazem atos piores por menos não é? Não sei se já cheguei a comentar, mas o ponto em que decidi parar de vez de fazer isso comigo foi depois do seguinte acontecimento. Passei a manhã triste, me martirizando,, com medo do mundo. Tudo o que queria era sumir, eu não tinha mais a dança, não queria mais continuar o curso e nem sabia porque continuava frequentando as aulas,... comecei a conversar comigo mesma,... meus braços pareciam pesados. Após andar de um lado para o outro no quarto, decidi sentar, vários papeis encontravam- se espalhados pelo chão. Tentei repetir para mim mesma escrevendo naquelas folhas, você é bonita! Você é bonita!Senti minhas mãos tremendo, eu estava com tanta raiva de mim por tudo aquilo, impensadamente minha mão começou a escrever as mesmas frases em meu corpo. Depois de cair no vazio, com medo de mim e da pessoa que poderia me tornar, caminhei até o espelho e olhei- Sami,você é uma obra de arte linda, porque está fazendo isso... meus pensamentos foram interrompidos pela voz de minha mãe que passara o dia preocupada pelo fato de sua filha não ter saído para fazer nada. Fiquei triste comigo depois daquilo e decidi que não era só questão psicológica, que eu não era aquele tipo de pessoa e no outro dia resolvi mostrar meu rosto para a vida e começar a me aceitar, meu amigo continuou meu amigo mas evitou ter outro tipo de relacionamento que não fosse apenas nossa amizade.


Esse momento foi muito importante para mim porque representou uma fase, representou memórias que por vezes preferimos esquecer, mas não consigo mais viver sem as palavras lindas de Bogart, não sei se meus colegas leram o texto completo, mas há uma lição de aprendizagem ali. Enfrentar o medo, enfrentar o que nos incomoda realmente ajuda a chegarmos num ponto de êxtase, aonde a fala interna toma conta de nosso ser. A outra pessoa que despertou muito a minha atenção durante a partitura foi a Anne, que vivenciou a primeira vez que viu a neve, ela realmente conseguiu chegar naquele momento, pois senti a energia e brilho nos olhos dela. Eu amo ver as partituras de Caio porque vejo nele um potencial incrível, ele sabe quebrar a dilatação com o encapsulamento de uma maneira que vejo em poucos e me incluo nisso.  

Referências

BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. São Paulo, 2011.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Política do E por OU

Jogos Teatrais I

Vila Velha- ES, em 11 de Maio de 2016

Fatos sobre essa aula.
1. Falta de comprometimento geral;
2.Falta de poética;
3.Entender quando é necessário parar;
4. Confiar no olhar do diretor.



Bem, essa aula não foi das melhores e posso isso escolhi essa cena que é uma de minhas preferidas de HeartStrings, aonde é criado uma expectativa em torno de algo, que no final não dá certo. Acredito que chegamos num ponto em nossa turma que provavelmente uma conversa com todos, para descontrair ou gerar impulsos criativos seria uma ótima opção. Isso porque tenho sentido ultimamente climas diferentes, eu não sei afirmar se isso é totalmente comum ou não, sabe, essa história de quem é melhor ou de que possa haver panelinhas... Pode ser uma tendência do curso e não somente nesse curso mas em quaisquer outros. Nós procedemos no ensaio para a peça "Sente- se quem puder", mas durante os improvisos a Rejane informou que não havia mais explosão como antes. E que precisávamos pensar o quanto antes o que fazer, o que mudar, para salvar a peça. O detalhe é que mesmo mudando, já havíamos feito toda uma preparação e divulgação da peça. Logo, eu imaginei que criaríamos uma alternativa dentro do jogo que segurasse os improvisos e que gerasse novamente a explosão que tanto procuramos. Mas, não foi bem assim que ocorreu. Depois de certos stress decidimos parar a aula, fazer uma grande e discutir o assunto. Cada um foi dando sua opinião e se não me engano, PH sugeriu que fizéssemos os jogos de improvisos no lugar da peça. Praticamente todos foram contra, mas Rejane gostou da ideia. Quanto a mim, não digo que fiquei em cima do muro, apenas imaginei e por que não fazermos os improvisos? A peça ficaria linda com certeza, isso "SE", houvesse mais comprometimento de todos os grupos e me incluo nisso, se houvesse mais ensaios e "ORGANIZAÇÃO". Eu não precisei ser professora para ver na hora o quanto estava faltando de nossa parte, sem poética, sem chegarmos à vulnerabilidade em palco, tirando assim a beleza do improviso. Eu costumo ter um sério defeito, por vezes fico louca de vontade para desenvolver uma ideia, mas quando estou em grupo e sinto que tudo deve ser pelo grupo, eu perco muito desse desejo próprio e priorizo o grupo, priorizo acima de tudo o que possa ficar belo aos olhos de quem realmente tem que ficar, e nesse caso é o público. E, quando vi o olhar de Rejane, entendi... temos que mudar. Então, resolvi falar a favor de PH e contribui informando que poderíamos por exemplo, encontrar sempre um modo de colocar a cadeira em pauta nos improvisos e isso seria uma forma de não abandonar todo o trabalho em cima da divulgação. Mas, essas ideias soaram como o fim do mundo para a turma. Imediatamente, começou a confusão. Pessoas falavam, "eu não vou fazer", "eu não estou preparado" ou "Vai ficar uma merda" e "Só favorecerá aqueles que já são bons no improviso". Eu não me sinto boa no improviso, mas quando vi toda energia negativa, decidi que já passou do tempo de me soltar, de deixar minha voz ecoar,... Há uma Samires que eu sei que existe e estou louca à busca dela, porque se há algo que não costumo aceitar é no "impossível" ou no "não vai dar certo". Então vendo aquilo pensei que não é questão de PH aparecer mais ou Diogo ser excelente, é questão de um pouco mais de experiência e é questão de encontrar no medo as respostas. A questão toda é que a briga não terminou quando a aula acabou, a Rejane precisou conversou durante um longo tempo com todos. E depois de muita discussão, deixaram apenas a voz de Rejane ecoar. Seria realmente essa a hora de sentar para conversar, o que ela pediu para fazermos na próxima não foi improvisar e sim fazer um brainstorming de situações e ler um texto que falava sobre essa TAL TIMIDEZ. Você estar se perguntando por que eu coloquei o tema sendo pelítica do E por OU? Bem, a política do "E" é referente ao artigo de Rejane, cujo tema é Arranjo e Enquadramento na Política do "E": Por uma Pedagogia do Teatro Híbrida, e, o OU que coloquei foi como uma quebra do que seria adicionar e lidar com o problema pelo trocar como solução do problema. Fiz essa controvérsia porque parei para refletir mesmo depois dessa aula. Eu refleti sobre até que ponto deveríamos agregar o E como adição híbrida e o ponto em que teríamos de mudar tudo desde o início. Porque chegamos nesse ponto? Há uma forma de recuperar essa tensão, essa incidência que gera a poética quando junta ao enquadramento? E quanto à mudança? Nesse estágio essa mudança não seria um tudo ou nada? As vezes um obstáculo pode ser a faísca de uma centelha, pode ser o princípio de uma explosão. Acho que nossa turma ainda encontra- se muito limitada à zona de conforto. Eu não sei como é o olhar dos meus amigos quanto à esse curso. Mas o meu é, sim vamos tentar, sim vamos criar, .. eu não costumo falar isso para o meu marido porque ele é maravilhoso, mas esse curso é minha vida. Isso porque percorri e ultrapassei várias barreiras para chegar aqui e ajudar a fazer acontecer. A sensação de fazer arte e de estar num palco é algo do qual posso dizer que se me tirassem, eu poderia adoecer, viver infeliz o resto de minha vida... Então penso que ao invés de criar um problema numa situação como essa, poderíamos gerar soluções, como ninguém gerava situações plausíveis e PH gerou, então ótimo, é realmente uma ótima solução. Vamos brincar com o público, vamos interagir com o público. Isso é lindo! Bogart, em " A Preparação do Diretor", menciona algo muito interessante sobre a participação:

A questão é tentar dizer alguma coisa quando se está num momento de indefinição, mesmo que você não saiba direito o que dizer. Fazer uma observação. Ficar em silêncio, evitar a violência da articulação diminui o risco do fracasso, mas não permite a possibilidade de avanço.
Tem medo demais do futuro
Ou méritos muito miúdos
Quem não ousa jogar duro
Para ganhar ou perder tudo. (p. 55)



Referências

ARRUDA, Rejane. Arranjo e Enquadramento na política do "E": Por Uma Pedagogia do Teatro Híbrida. 2015
BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. São Paulo, 2011.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Recuperação de Memórias

Aula de Corpo I

09 de Maio de 2016

Nessa aula iniciamos com a teoria, o que seria essa teoria? Seria a visualização de imagens que nos gerassem uma visão de recuperação de imagens levando à fala interna. alguém que utilizava muito desse meio era Meyerhold e de acordo com Rejane, Rubens Correa que eu vergonhosamente não conhecia até essa aula. Nos ensaios Meyerhold enfatizava a alimentação da imaginação inferior, havendo assim dois atores, um físico e um metafísico ( a captura de imagens). Sua intenção durante a mostra de imagens era que as descrevêssemos e pensássemos a respeito das mesmas.



Segue abaixo algumas imagens que consegui assimilar, a do grito interpretei como se fosse uma pessoa confusa com um mundo ao seu redor, como um estrangeiro frente à novidades. Eu pensei que seria interessante porque os turistas quando vêem algo que ainda não tenham visto fazem um olhar surpreso frente à beleza ou mesmo algo ruim, como miséria.

Edvard Munch
Uma imagem que achei bem interessante foi a de um idoso numa mesa, talvez o estilo ou mesmo pintura tenham me remetido à concepção  de Kronos engolindo seus filhos. Pode- se fazer uma analogia por exemplo ao nosso país sendo engolido pela corrupção.  O cidadão sendo devorado pelo sistema falho de um país em decadência.
Concepção à respeito de Kronos
A imagem abaixo também é referente aos filhos de Kronos, de acordo com a mitologia grega, kronos vem de uma linhagem muito antiga de titãs, e o mesmo, por temer que seu trono fosse tirado por um de seus filhos, passou a matá- los e devorá- los. Mas nessa imagem parece ainda como se estivessem num lugar similar ao Jardim do Édem. Achei muito interessante porque a maneira como foram modelados os corpos nos faz recortar movimentos que podem levar à partituras. Assim como o fato de haver casais nos remete ao jogo de ação e reação.
Referência a Kronos
Não consigo me recordar a autoria dessa imagem. Mas procurei até conseguir encontrá- la. Pois ela se tornou uma imagem clara do que seria nosso treinamento energético e até transição para o campo de visão. Por exemplo, se verificar no lado esquerdo bem próximo ao cercado, podemos ver um grupo de pessoas reunidas, enquanto no outro lado há outro grupo, e quando ampliamos nosso campo de visão frente à imagem conseguimos visualizar vários subgrupos exercendo atividades distintas.



A pintura de Pablo Picasso retoma a imagem da prostituição, da diversidade e do despir- se a olhos vistos. As poses me fazem pensar em movimentos mais exóticos, como por exemplo o ato de deslizar.
Pablo Picasso
A pintura a seguir me chamou a atenção pela maneira como se encontra o corpo da mulher, com membros em contraposição e sutileza encantadora ao lado do cisne. Em baixo vejo crianças que parecem ter nascido como os pássaros, Sendo assim, a mulher e o cisne representam um amor diferente, porém possível, ou pode ser uma analogia sobre o ser belo, tendo em conta a história do patinho feio.

A imagem abaixo pertence a pintura de Tarsila do Amaral, umas das pintoras que mais admiro, que esteve presente em movimentos culturais assim como a semana da arte moderna. Acho muito lindo o estilo de desenho da mesma. Não é algo que eu consiga reproduzir. Posso ver uma delicadeza no branco nuvem, que remete ao deslizar e ao furar, há uma imagem um tanto abstrata no lado inferior direito que me recorda a imagem de um home que admira a lua. Essa imagem poderia ser muito bem processada e partiturizada num campo de visão.

Tarsila do Amaral
Eu achei muito interessante essa imagem, me apropriando dela eu poderia ser uma pessoa enferma que desistiu da vida, mas que não esquece do vício. Ou um símbolo do mal do ser humano conseguir acabar lentamente com a própria vida, pois o esqueleto ainda encontra-se num estágio inicial de decomposição.

Depois da assimilação das imagens, partimos para o campo de visão também levados pelo som de Daughter, entre outros, com músicas mais suaves. Dessa vez percebemos a nítida mudança de duas pessoas em aula, uma foi o Ângelo e a outra foi o Adriano, o envolvimento com o sensação gerada pelas músicas trouxe uma leveza e organicidade em seus movimentos. Matheus também parecia estar com uma fala interna muito forte. 
No final da aula, Rejane perguntou se as pinturas ajudaram. Para alguns não houve serventia. Para mim algumas ficaram realmente nítidas. Kronos e a morte lenta de um ser desprezível. Tarsila gerou uma memória mais suave em mim. Num momento senti- me quase desligando- me dela. Mas a experiência de métodos distintos ajudam a aguçar nossas percepções frente o novo. Como na outra aula em que também interpretamos e tomamos sua essência como forma para desenhar nossos movimentos.

Att.: Sami Cassiano

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Ausencia e Adaptação

Aula de Jogos Teatrais

Vila Velha - ES em 04 de Maio de 2016

Poucos alunos apareceram, ou pelo menos aqueles que teriam as cenas do inicio da peça. Assim, foi nos aconselhado contar novamente a história em roda, cujo participante iniciava e parava no meio da sílaba de determinada palavra para que o próximo desse continuidade. A diferença referente à espontaneidade e criatividade foram nítidas. Apenas os que chegaram posteriormente no curso não conseguiram completar e seguir a regra como era pedido. 
Depois de muita descontração e risadas, resolvemos dar andamento no ensaio mesmo na ausência de parte do elenco. Acredito que uma das ideias mais engraçadas e criativas foi a da "esteira rolante humana". E, umas das piores, foi a do gorila, por ficar escondida na lateral, não digo isso por ter sido referente ao improviso do meu grupo e sim por sabermos como funciona nosso little monstrinho César. Sem espaço para o movimento cuja regra principal era frente e volta, claro, não sou diretora e também não tinha outra sugestão para aquele momento, resumindo, fizemos como nos foi solicitado. Mas com toda certeza houve sintonia. Ás vezes surgem situações em que todos temos opiniões totalmente diferentes, então acreditar no olhar do diretor principalmente respeitando toda sua trajetória de experiência é algo muito importante.
Abaixo há o vídeo dos barbixas, no qual tomamos para nós a regra de jogo.


Acredito que há algo ainda em desenvolvimento em todos nós, como por exemplo essa cenicidade, essa teatralidade. Se analisarmos não apenas esse vídeo mas também outros voltados para peças, percebemos que a expressão e gestos do ator são fundamentais para explicar o a situação. Percebo nesse vídeo também a utilização dos ruídos que costumamos treinar bastante e que não levamos para o palco, como por exemplo, o ranger da porta, que criou a comicidade, a dilatação fica entre aquele esboço comentado em grupo, parece que ele limita e depois deixar explodir ou expandir o efeito de externalizar não apenas através dos movimentos, mas também das expressões e diversificados sons como ruídos do cotidiano.
Barba, ao tomar como exemplo em suas pesquisas o teatro oriental, fala sobre a dinâmica das oposições  e o uso da incoerência coerente, como umas das linhas de ação que sugerem o trabalho típico do cotidiano, assim, sua economia no comportamento (minimizando) ou excesso (dilatando) acaba nos levando inconscientemente para o extracotidiano. (p. 54)
Na cena acima do programa Quinta Categoria da MTV, conseguimos observar uma nítida diferença nos improvisos de ambos os grupos, Barbixas e Quinta Categoria. Tatá Werneck consegue captar muito rápido as informações cotidianas. O jogo com a rima coloca em pauta o desconforto, no qual Bogart menciona em seu livro a Preparação do Diretor. O desconforto gera a vibração de nossas partículas e a entrega da primeira palavra que vem em mente torna possível o inimaginável, gerando criatividade e tornando possível a brincadeira. O que me retoma por exemplo o que fizemos no início da aula, sobre o jogo de continuidade da história a partir da quebra de sílabas. A desconstrução renova e gera novas possibilidades.

Att.: Sami Cassiano

Referências

BOGART, Anne. A Preparação do Diretor. Ed. São Paulo, 2011.
BARBA, Eugenio/ SAVARESE, Nicolas. A Arte Secreta do Ator. Ed. Hucttec- UNICAMP, 1995

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Dor, Força, Amor!

Aula de Corpo
Vila Velha- ES, em 02 de Maio de 2016

Foi nos pedido que levássemos no caderno as descrições de nossos movimentos. No sentido de entender e interpretar o que passamos enquanto desenvolvíamos nossa partitura anteriormente. Ficava a critério de cada aluno seguir a partitura de um colega ou a sua própria partitura. Apesar de ter gostado bastante da partitura de Paulo Henrique, tive uma identificação imensa com minha interpretação anterior, ficando assim, com a mesma. 
Antes de iniciarmos as partituras, fizemos um breve treinamento energético utilizando novos métodos como por exemplo o ato de beliscar, arrastar algo, chutar o ar, dar soco no ar e arranhar, o que me possibilitou novos movimentos. Durante esses movimentos, senti uma conexão muito grande com a Força. Em que sentido? Quando procuramos pelo significado dessa palavra no google, vemos que, no conceito físico, a força significa o ato de alterar o estado de repouso ou de movimento uniforme de um corpo material. Ou, qualidade do que é forte, vigor físico. Logo, eu comparo esse conceito com o ato de exercer movimento sobre um corpo tendo em conta todas as suas questões norteadoras, que seriam- a capacidade de um corpo humano sentir sensações através do toque, da visão, audição ou do paladar. Tais sensações seriam o princípio fundamental para o início de uma reação corporal. Naquele momento, algo tornou essa força possível. Esse algo chama- se dor. A dor de perceber que algumas coisas começaram a dar errado em minha vida, que não conseguia movimentar meu dedo do pé machucado, limitando meus passos anteriormente livres. E, que isso tirava a minha concentração por ter de me proteger de qualquer indivíduo que se aproximasse mais um pouco de meu corpo "em movimento". Depois de muita persistência, a força atuante em mim conseguiu um certo equilíbrio, cada passo vinha como um rascunho, criando um círculo em minha volta, buscando um espaço alternativo em que meu corpo pudesse sentir- se um pouco mais calmo. A força aparece quando eu sou capaz de ultrapassar essa dor. A força aparece quando meu corpo agora mecânico e cheio de energia, encontrou seu próprio ritmo. Agora não há a busca pelo passado, todo a ação de meu corpo veio do que aquele ambiente estava sendo capaz de me fazer sentir. A força agora é apenas um outro componente. Já não sinto a dor, já não sinto a força. Meu corpo transpira a energia que foi queimada, agora meu corpo é vivo.

Interno

Mãe, eu preciso lutar!
Eu sinto medo por tantas vezes.
Medo de acabar sozinha,
medo de não conseguir.
Mãe, não esqueça de mim...
reze por mim como todas as noites
em que me dizia bons sonhos minha fofa.
Mãe, eu preciso lutar!

Externo

Que droga, porque entre tantas pessoas
a dor veio justamente a mim
Poderia eu ter faltado aquela aula
Meu pé estaria bom agora 
e não haveria tanta dificuldade...
Ahh! Deus!! Alguém vai conseguir pisar em meu pé!
...
Nossa... que música bonita.
Todos parecem tão livres.
(olhos fecham, braços embalados, hora livres e ora com repulsas)



Ensaio: Partitura

Descrição:
  • O Toque: Os dedos contornam suavemente os lábios trêmulos.
  • O Chamado: A concentração é tirada por alguém que adentra no cômodo.
  • O mundo nas costas: Ela é empurrada duas vezes com muita força e quase não consegue se levantar.
  • O Sonho: Seus punhos cerrados nos chão se contorcem buscando apoio. A cabeça se ergue, parece enxergar algo, os dedos são levados por esse elemento estranho formando um desenho abstrato.
  • A Dor de Cabeça: Sua mão esquerda senti uma forte dor na nuca, começa a se descontrolar, sente raiva, segura e solta com força seu cabelo.
  • O Reflexo: Tenta de desfazer de tudo de ruim que lhe preenche, escapa correndo. Mas, depara- se com seu reflexo no espelho.
  • Nojo: Encara assustada a figura, a mão na boca falta lhe tirar o ar. Sente nojo e desmancha toda a maquiagem que lhe moldara outrora.
  • A gravidade: Sem forças, chegou o seu limite. Se entrega à força do centro da terra. O corpo, como um ímã, cai ao chão.

Interpretação a partir das descrições feitas referentes à partitura acima.


Para Stanislavsky, sobre o Método das Ações Físicas, o ator deveria procurar expressar- se não mais através dos estados emotivos e abstratos, mas através de algo concreto, como as ações físicas. E, compreendendo seu significado, compreenderá também o método. Para o mesmo, a ação física seria o pleno domínio que o ator deveria exercer sobre o seu corpo para também ser capaz de dominar sua emoção. (FERNANDES, Cinthia. O Treinamento do Ator e a Pedagogia do Teatro. 2012, p. 11)

Assim, pergunto- me, até que ponto devo me basear utilizando- me dos estados emotivos? Até que ponto aproveito o que o externo também pode me proporcionar? Há uma linha tênue capaz de limitar o ator para que o mesmo não se perca? Percebi que a Força utilizada por mim foi capaz de colocar- me numa bolha, que foi expandido até seu limite máximo. A minha preparação para a partitura fez- me passar pela emoção do que a vida me proporcionou como ponto de partida e o público ( meus amigos), trouxe- me uma emoção diferente. A que me situa do lugar, do momento e de quem estou vivendo. Acredito, a princípio que se há o excesso de qualquer uma das partes, sejam interna ou externa, o ator acaba por se perder um pouco em sua perfomance, levando à visualidade de que há realmente alguém que se passa por aquele personagem.

Att.: Sami Cassiano

Referência

FERNANDES, Cinthia Márcia. O Treinamento do Ator e a Pedagogia do Teatro. 2012 Brasília- DF.